Capítulo 1 - A Imperatriz Viúva está doente.

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Os sintomas surgiram progressivamente. Um breve mal estar, uma náusea, uma indisposição ali, outra aqui. E de repente a Imperatriz Viúva Qiang Ling começou a definhar a olhos vistos. Seu apetite desapareceu e a pele de sua face perdeu o brilho e o viço. A Imperatriz Viúva já tinha certa idade, mas nada que justificasse sua repentina doença.

Além disso, era incomum dragões adoecerem. Obviamente Qiang Yong, seu filho, correu atrás de médicos animados para tratá-la antes que o quadro se agravasse.
Diante do pedido do Imperador Dragão, muitos médicos se apresentaram, embora tremerem da cabeça aos pés diante do medo de falharem. Logo, a Imperatriz Viúva passou por várias sessões de acupuntura e tomou todo tipo de beberagem de ervas.

A princípio cada médico fez seu melhor para dar um diagnóstico, mas os sintomas era muito gerais. Os primeiros tratamentos amenizaram o mal-estar, inclusive em um deles a Imperatriz Viúva até conseguiu sair para tomar sol no pátio por algumas horas. Entretanto, passado algumas semanas, os sintomas retornavam piores, e a pobre dragoa sucumbia de volta a cama.

Seu estômago doía e queimava, a ponto de fazê-la deixar rolar algumas lágrimas silenciosamente pela sua face pálida e fina. A noite ondas de febre a acometiam e ela acordava ensopada de suor. Diante de tal cenário tão desolador, Qiang Yong que era conhecido por não ter um temperamento tão agradável, rugiu com os médicos no Salão Principal de sua fortaleza.

"COMO ATÉ AGORA NENHUM DE VOCÊS CONSEGUIU CURÁ-LA?" Os médicos se ajoelharam diante dele, certos de que aquele era o dia que perderiam suas cabeças. Durante o conflito entre humanos e yao, Qiang Yong haviam derramado muito sangue, até mesmo de cultivadores proeminentes. Se o Imperador humano não tivesse cedido e proposto um acordo de paz, até onde aquela guerra teria se estendido? Ninguém sabia responder.

Apesar de tudo, Qiang Yong realmente era muito prático e racional. Vidas yao também haviam sido perdidas e seria menos desgastante conviver em paz com aqueles humanos inferiores do que perder tempo tentando exterminá-los. Afinal, para ele, humanos não eram mais do que uma mera praga que se espalhava rapidamente no arrozal. Não importava quantos matava, sempre parecia haver centenas para substitui-los.

Não obtendo uma resposta satisfatória dos médicos ilustres, Qiang Yong ordenou que seus servos buscassem curandeiros e qualquer yao que tivesse algum conhecimento de medicina, ervas ou afins. Assim, mas um extenso grupo de yao foram trazidos para avaliar a Imperatriz Viúva. Não importava de onde viessem, quem conhecia algum yao que se encaixasse no perfil descrito tinha que apresentá-lo imediatamente.

Os resultados não foram melhores que os primeiros. Nesse momento até mesmo Qiang Yong sentia suas forças minando. Todas as manhãs ele visitava sua mãe, tentando transparecer despreocupação, mas a própria Qiang Ling já via em seu amado filho sinais de cansaço e desamparo.
"Yong-er, não fique assim." Ela o confortou.
"Está velha não te deixará assim tão facilmente. Não há razão para tristeza."

Qiang Yong mordeu seu lábio inferior, esforçando-se ao máximo para não deixar seu coração se romper com aquelas palavras. Ele acariciou-lhe a bochecha com carinho. "Na verdade, a senhora parece um pouco melhor. Vou pedir para que lhe tragam algo leve para comer."
A Imperatriz Viúva queria recusar mas vendo seu filho com uma aparência tão lamentável ela assentiu, mesmo sabendo que em um instante colocaria tudo para fora.

Mas ela proibiria severamente que a criada contasse isso ao Imperador. Chega de preocupações para seu filho, que já carregava um fardo tão pesado de governar o mundo yao. Isso não era algo que ela desejasse para a vida dele. Durante a guerra, Qiang Yong era apenas um General. Se o Imperador Yao da época não tivesse morrido nas mãos daquele cultivador humano traiçoeiro, seu filho jamais ocuparia essa posição tão infeliz.

Tudo o que ela queria era que ele tivesse uma vida comum, que encontrasse alguém para amar e que fosse correspondido. E quem sabe ela teria netos para cuidar. Mas Qiang Yong vivia cercado de problemas, tendo que resolver disputas entre os yao e conflitos pequenos destes com camponeses humanos. Sim, além disso ainda tinha os yao que desobedeciam o acordo de paz e matavam humanos como vingança pelas suas perdas passadas.

A Imperatriz Viúva nunca tinha conhecido um humano pessoalmente, mas não os odiava como seu filho. Ao seu ver, eles eram criaturas fracas, que para sobreviverem usavam as armas de que dispunham, mas isso não justificava que eles recorressem a meios vis para isso. De qualquer maneira, isso não vinha ao caso no momento, era ela quem estava trazendo problemas a seu filho agora.

Enquanto Qiang Yong estava lá, a Imperatriz se forçou a engolir o caldo, mas não suportou sequer a primeira colherada. Suas entranhas pareciam estar sendo retiradas de dentro para fora, e ela vomitou o alimento junto com sangue. A situação havia chegado a um ponto crítico. O Imperador Yao ergue-se em pânico, correndo atrás de alguém para socorrê-la.
"Yong-er!" Ela o chamou. "Não vá! Deixe como está, estou bem de verdade, não sinto dor, é só enjoo." Qiang Ling voltou a deitar-se, fraca demais para continuar a falar.

Qiang Yong tratou de recobrar a compostura e tentou tranquiliza-lá. "Sim, eu sei. Só quero que eles vejam se há uma forma de diminuir a náusea."
"Não, por favor. Chega de médicos. Fique aqui comigo apenas." A Imperatriz Viúva pediu e Qiang Yong obedeceu como bom filho que era, mas por dentro seu coração estava em frangalhos.

Ele não ousou tentar fazê-la comer novamente e ela também só pediu para tomar um pouco de chá, o que não lhe trouxe nenhuma esperança de melhoria futura. À noite, o Imperador se recolheu no Pavilhão Sul, que tinha um jardim aos fundo, e sentou-se meditativo. Era um local silencioso e poucos servos circulavam por ali. Sua figura desaparecia nas sombras das colunas e sua presença era imperceptível.

Entretanto, logo ele percebeu que não estava só. Duas sombras vagavam desamparadas pelo Pavilhão. Era duas das servas da senhora Imperatriz. Ela choramingava palavras engolfadas por soluços, enquanto alguém tentava em vão consolá-la.

"Não fique assim A-Zong, você verá, tudo acabará bem."
Qiang Yong ouviu uma delas falar e suspirou com amargura. Queria poder acreditar num prognóstico como esse. "A senhora sequer quer receber a visita de outro médico!"
"Isso é temporário, tenho certeza que se o Mestre encontrar alguém competente ele consegue convence-lá a se consultar. "
Houve um breve silêncio e Qiang Yong pensou que finalmente poderia meditar em paz.

Então a serva voltou a falar, desta vez tão baixo que ele não pode deixar de aguçar os ouvidos para escutar. Geralmente as palavras ditas escondidas eram as mais importantes.
"Aquele último médico yao... a raposa... antes de partir ele disse que havia uma alternativa que poderíamos tentar..."
"Esqueça isso! O Mestre vai decapitá-la se você sugerir isso!" A outra serva a repreendeu de imediato.

Qiang Yong sentiu um mau pressentimento mas mesmo assim levantou-se devagar. Sua mãe estava vomitando sangue e não se levantava mais da cama. O que ele tinha a perder? O que ele não poderia aceitar àquela altura? O Imperador saiu das sombras e as duas servas, sentadas em um banco um pouco a frente viraram-se ao mesmo tempo e a cor de suas faces desapareceram no mesmo instante.

" O que o Dr. Raposa sugeriu a você antes de partir?" Qiang Yong questionou-as, com um brilho perigoso no olhar.

Nota da Autora:

Olá! Estou feliz em poder publicar outra história!🥰 Eu adoro histórias de cultivo e mitologia chinesa, e apesar de houver semelhanças entre os textos que escrevi, eles se passam em mundos e contextos diferentes. Espero que gostem desse enredo! Boa leitura!

Tratamos o termo yao aqui nesta novel como uma classe de criaturas antromórficas com capacidades sobrenaturais adquiridas por sua espécie ou cultivo, não confundam com a definição de demônios ou espíritos maléficos.

Er : Um sufixo que significa literalmente criança/filho, é usado para se referir à uma pessoa jovem, normalmente usado para apelidos carinhosos; também pode atuar como um sufixo de diminutivo, tipo Yonguinho 😂😂😂.

O Imperador Yao e Seu Médico HumanoOnde histórias criam vida. Descubra agora