Capítulo 78 - Dúvida.

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Su Ning e An Shu logo se preparam para voltar para a clínica. O médico deixou o colarinho da blusa fechado e puxou os cabelos de forma que cobrisse um pouco mais pescoço. Ele percebeu se trocando diante do espelho que Qiang Yong deixou um rastro de chupões e mordidas difíceis de encobrir em todo seu corpo. Havia até mesmo marcas arroxeadas de dedos nos pulsos, braços e cintura. E outros lugares que ele não conseguia ver.

Ele não sabia o que dizer se alguém visse e perguntasse o que era. Entretanto, a Orquídea Negra não precisava ver essas marcas para saber o que havia acontecido.  Ela por si só já havia percebido o comportamento reservado do médico, escondendo seu nervosismo por dentro. Era típico de alguém que teve seu primeiro contato com as relações do amor. Ela, contudo, manteve sua discrição apesar de estar muito satisfeita com seu sucesso. Seus planos de união nunca falhavam.

Tomara que eu seja convidada para o casamento,  ela riu consigo, porque conhecendo o temperamento do imperador, este não sossegaria até conseguir o médico por completo. Mas ela estava confiante, naquela manhã ela recebeu um pagamento generoso em ouro, com um bilhete de Qiang Yong agradecendo especificamente pela disponibilidade do quarto para eles.

Su Ning se despediu de Chuan Zuo e depois dela. A Orquídea abanou o leque, se desfazendo em sorrisos.
"Eu sou muito grata mesmo, doutor. Volte quando quiser também para descansar um pouco. Posso sempre lhe reservar aquele quarto, tem a maior banheira da casa."
Su Ning deu um breve sorriso.

Mencionar a banheira o fez lembrar que Qiang Yong se deu ao trabalho de limpá-lo e com isso veio a memória dele o esfregando por baixo d'água e girando os dedos naquela abertura para o liquido viscoso sair.
O médico se virou antes que percebessem sua vergonha. "Ah, eu agradeço sua hospitalidade. Não há necessidade disso."

"Hum... doutor, nessa vida não há só trabalho. E tem coisas que é melhor não pensar muito, melhor seguir conforme os desejos do coração." Ela sorriu enigmática. Seria bom tentar implantar algum tipo de conselho para guiar o médico. Talvez ele não percebesse, mas ele sentia algo pelo imperador.  Nisso, Qiang Yong foi esperto. Ele deu uma pequena prova do que sentia para Su Ning e se afastou.

Dessa forma, o médico que não tinha nada, experimentou um pouco do que poderia ter e agora isso lhe foi retirado. Ele com certeza sentiria falta e perceberia o que realmente desejava. Entretanto, isso só funcionaria se ele de fato tivesse algum afeto pelo dragão. Qiang Yong decidiu arriscar tudo ou nada neste lance. Ele também temia fortemente que Su Ning o repudiasse de primeira, então fingir uma chamada urgente foi estratégico.

Qiang Yong percebeu que forçou aquela situação e ele não suportaria ser desaprovado pelo médico. Agora ele estava em sua fortaleza, rememorando seus bons momentos da noite anterior e rezando aos deuses para que seu amado o aceitasse. Dois dias. Dois longuíssimos dias!

Su Ning já estava sofrendo os efeitos desse período de reflexão. Ele voltou a clínica de manhã e todas as informações que Han Chia lhe passou sobre os últimos acontecimentos destes dias entrou e saiu de sua cabeça sem deixar vestígios. Felizmente, como médico experiente que era, ele atendeu seus pacientes com a impecabilidade de sempre. Entretanto, ele não sentia fome e à tarde, quando o movimento diminuiu e até mesmo An Shu tirou uma soneca, os tormentos de Su Ning recomeçaram.

Ele sentou-se sozinho de frente para uma mesa de pedra no quintal e abaixou a cabeça, pensativo. Será que Qiang Yong gostava mesmo dele? Ele foi tão cuidadoso com ele, antes e depois... E ele? Gostava do imperador de um jeito romântico ou não? Como era amar alguém? Ele estava confuso como nunca esteve em toda a sua vida. Suas defesas e certezas ruíram diante de seus olhos.

Han Chia o observou por um tempo, era a primeira vez que ele presenciava Su Ning tão transtornado. O que poderia ter acontecido nessa última ocorrência? A velha raposa se aproximou dele e sentou-se no banco em frente. Ele trouxe junto uma bandeja de chá tranquilizante. Su Ning imediatamente levantou a cabeça, vendo o chá ele pensou que estava sendo muito paparicado neste dia. De qualquer forma ele aceitou a cortesia de muito bom grado.

"Você voltou diferente da província... teve algum outro problema?"
"Humm... eu... teve uma pessoa que me procurou... hã...por um mal de amor." Ele inventou uma desculpa. Han Chia sorriu. Su Ning era uma negação em assuntos amorosos, por isso ele estava deprimido desse jeito.
"Oh! Foi um caso difícil então."
"Essa pessoa recebeu uma confissão mas não sabe se realmente gosta ou não do outro. Ela queria um conselho."

"E o que você disse?"
Su Ning foi pego dessa vez. Ele também era péssimo em inventar mentiras.
"Disse que... se ele amasse de verdade, esta pessoa deveria ser tudo para ela, que ela faria qualquer coisa para vê-lo bem e feliz." Ele subitamente se lembrou de uma frase de sua mãe, sua única referência para assuntos do coração.
"Foi uma boa resposta! Por que você está tão infeliz?"

"Parece tão superficial! E como se fosse uma frase pronta, sem nenhum embasamento!" Mas minha mãe disse isso e ela realmente amava o meu pai... por que me sinto assim???
"Para você que não teve um relacionamento está de bom tamanho."  A raposa riu. Depois pensando que isso poderia ser ofensivo, Han Chia tentou emendar.

"Quero dizer, você sempre pareceu alheio a estes desejos mundanos, mas sua compreensão sobre eles é bem... fundamentada sim. Amar... você só vive para aquela pessoa, você só pensa nela, só quer estar com ela..."
"Você teve alguma paixão, dr. Han?" Su Ning perguntou com curiosidade,  mas de forma inocente. A raposa ficou vermelha.

"Para falar a verdade, eu já fui casado."
Su Ning o olhou interessado. "E você gostava muito dela?"
"Ah, sim. Amei muito aquela raposa. Mas no fim ela fugiu com outro e até hoje eu não consegui esquecê-la." Ele riu tristemente. "Está vendo? Amar é tão patético."
"Eu sinto muito." Su Ning não sabia o que dizer.

"Não é problema contar isso para um amigo. Você deve tomar cuidado, dr. Su. Amor é algo traiçoeiro, você pode não percebê-lo de imediato, mas quando ele se enraiza no coração, é um caminho sem volta, como um jardim tomado por erva daninha."
Ele soltou um longo suspiro. Su Ning ficou quieto. Poderia algo assim ter se infiltrado nele? Ele gostaria de abrir o próprio peito e vasculhar até o fundo.

Ele então recebeu uma solicitação de mensagem na matriz de comunicação.  Era o lider da Seita Médica. Su Ning parou para atender e depois empalideceu.
"O que foi dessa vez?" Han Chia bebeu seu último gole de chá.
"Ce Han e um exército de cultivadores invadiram a cidade imperial e a sitiaram. Eles querem depor o imperador humano." Ele respondeu, tão branco quando papel.

Nota da Autora:

Dr. Su passou o dia trabalhando como um zumbi na clínica 😅, sorte que ele já faz tudo quase que mecanicamente, então ele pode suturar feridas sem problemas, com a mente flutuando nas lembranças da noite anterior.

Mini Teatro

Orquídea Negra: "Da próxima vez que vier já deixarei este quarto reservado para você, dr. Su."

Su Ning: "Não há necessidade... o que vou fazer sozinho com um quarto tão grande e luxuoso?"

Orquídea Negra: "Ah, o Imperador que pediu é até já pagou. Ele disse que assim que você tiver que atender aqui, que é para deixar limpo e arrumado para vocês dois."

Su Ning: "........"

Ren Loo: "Então dr. Su, foi muito proveitoso, não foi? Eu te disse! Dragões são os melhores parceiros que existem!"

Su Ning: "......................."

O médico subitamente cavou e se enterrou em um buraco no chão de tanta vergonha.

O Imperador Yao e Seu Médico HumanoOnde histórias criam vida. Descubra agora