Capítulo 15 - Um Novo Chamado

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"Aqui! Estão vendo?! Ele arrancou a pele de algum paciente e guardou como um troféu!" Ren Shyu mostrou o que parecia uma extensa faixa de pele de um tom branco translúcido e iridescente.
"Hã? Mais esta é a pele da minha última muda!" An Shu ficou vermelho até as orelhas de vergonha.
"Ah! Você ainda tinha a pele? An Shu, quanto você quer por ela?" Madame Ren se aproximou tão perto do rosto da cobra que ele sentiu que mais fumaça estava saindo da sua cabeça.

"Humm... Madame Ren, não precisa pagar. Eu tinha esquecido dessa pele, pode ficar para a senhora..."
"A-Loo! Você não sabe que as cobras tem o costume de dar a sua última muda de pele para a pessoa que amam!" A Imperatriz exclamou envergonhada. Como mãe e filho podiam ter a face tão grossa para agir assim na casa os outros?

"Isso é pele de cobra? Parece tão fino..." Ren Shyu jogou para a mãe subitamente enojado.
An Shu: ".............." Eu acho que vou estrangular esta peste!
"Me desculpe, An Shu, você tem alguma pretendente?" Madame Ren perguntou com os olhos brilhantes enquanto alisava e dobrava a pele sob o colo.

"N-não, eu fui expulso do meu Clã, já faz mais de cem anos que eu não vejo um cobra... Como eu disse se Madame Ren tem um bom uso para a pele, fique a vontade para usá-la." An Shu não sabia onde se esconder. Que situação ridícula.
"Eu sou muito grata!" Madame Ren apertou as duas mãos da cobra com força."Em troca eu tenho muitas coisas que podem ser do seu interesse, eu vou te mostrar..."

Só de um jeito nesse seu filho!
An Shu choramingou por dentro.
A Imperatriz engoliu seu chá para ver se a vergonha descia junto. Se o Dr. Su não tivesse cuidado tão bem do seu estômago ela teria uma crise de azia. Ren Shyu sentou-se espumando de raiva e também vergonha por ter se enganado de forma tão grosseira.
Sentindo a tensão da Imperatriz, Su Ning convidou-a para conhecer a clinica, o que ela concordou pronta e alegremente.

Eles andaram pelos corredores retos, mostrando os quartos, o consultório que eles já tinham visto, a sala de cirurgia, o lago de água medicinal que era aquecido graças a uma matriz desenhada sobre as pedras.
"Parece tão gostoso..." Ela suspirou encantada, tocando a água quente.
"Venha um dia só para tomar um banho. Faz muito bem mesmo sem estar doente." Su Ning a encorajou embora soubesse que a banheira privada dela era tão boa quanto.

Em seguida ele mostrou a farmácia. Apesar de Ren Shyu ter vasculhado tudo, ele não destruiu nem bagunçou o lugar. Su Ning tinha as ervas e remédios guardados metodicamente. Eles estavam todos registrados por escrito, qual seu nome e sua função, de forma que qualquer um poderia entender. Atrás da farmácia estava a horta e jardim de ervas, onde três fadas das flores poderiam ser vistas ociosas, conversando entre si e bebendo hidromel em pequenos cálices de flores.

Ao ver o médico, elas voaram até ele zumbindo ao mesmo tempo.
"Sim, sim, está bem. Eu vou providenciar." Su Ning assentiu com um sorriso
"O que elas disseram?" Madame Ren e Qiang Ling perguntaram em uníssono. Ren Loo acrescentou, coçando a cabeça: "Eu não consigo entender o que as pequenas falam muito bem, hehe."

"Há previsão de geada esta noite. Depois eu preciso cobrir o jardim com uma lona."
"Aaah...! Deve fazer frio aqui a noite mesmo. Você não prefere um lugar mais quente, doutor?" Perguntou Mademe Ren. Dragões de fogo não toleravam bem o frio.
"Eu uso as matrizes de aquecimento nos cômodos, então fica bem confortável. E depois eu gosto das montanhas, é silencioso e espaçoso." Su Ning respondeu prontamente. Realmente, ele parecia bem a vontade naquele lugar.

A Imperatriz manteve isso em mente, o médico gostava de silêncio e espaço. A fortaleza onde morava era bem ampla porém com certeza não era nem um pouco silenciosa, especialmente quando Ren Loo estava lá.
"E este é o meu quarto. Aquele é o do An Shu." Su Ning prefiriu respeitar a privacidade da cobra depois do ocorrido mostrando apenas o seu dormitório.

A Imperatriz ia dizer que não precisava mostrar mas a curiosidade era mais forte e só piorou quando ela viu a estante de livros. Sem pensar ela entrou fascinada, indo direto para ela.
"São todos livros humanos?"
"Sim, a maioria é de medicina, mas estes aqui são de literatura, filosofia e poesia."
A Imperatriz pegou um para folhear com cuidado. Ren Shyu preferiu ficar do lado de fora, próximo ao jardim já que ele já tinha visto tudo que podia ser visto na clínica com todos os detalhes possíveis.

E Madame Ren apenas observou o quarto pequeno composto pela cama e a mobília simples. Quem visse nunca pensaria que aquela pessoa fosse um cultivador, a não ser pelo conteúdo da estante de livros. Ela sorriu interiormente, isso não poderia ser mais excitante. Su Ning não demonstrava mas era óbvio que este cultivador era habilidoso. Ele conhecia boas técnicas de defesa.

Triste ele ter se livrado da arma espiritual, ela gostaria de testá-lo, porém como Qiang Yong a alertou antes, o temperamento do médico era muito pacífico e tolerante. Ela teria que observá-lo mais para tirar suas conclusões embora estava claro que ele não era um simples médico. Era alguém que poderia ser perigoso em algum momento e estando ele tão próximo de sua mãe...

"Que pena, eu não sei a língua humana. Senão gostaria de lhe pedir emprestado."
"Mas eu e Qian Young sabemos ler, e até Ren Shyu sabe! Se o doutor emprestar, nos podemos te ensinar e ler para a senhora também." Madame Ren se aproximou vendo o livro por cima do ombro do dr. Su.

Outro detalhe que era impossível dela não esquecer era que o médico era muito lindo! Ela esperava encontrar um humano velho e acabado, não um jovem de aparência tão etérea e suave. Ela sentia cócegas na mão de vontade de tocar os cabelos que ele trazia soltos de uma forma tão displicente. É que cabelos humanos eram finos e frágeis, não tinham utilidade nenhuma, senão ela era capaz de pedir uma mecha daqueles fios preto-azulados. Quem sabe ela não poderia guardar de recordação? Além disso, eles tinham um cheiro tão bom de pinho!

"É claro que a Imperatriz pode pegar emprestado. Eu gosto muito deste aqui." Su Ning sugeriu um livro de capa verde.
"Doutor é sempre tão gentil! E-eu sinto como se você fosse um filho para mim." Qiang Ling pegou o exemplar com carinho.
"Hehe, Dr. Su, acho melhor encerrarmos por hoje. Qiang Yong ficará preocupado com a demora. Somos muito relapsos com a nossa mãe e você acabará a roubando de nós." Ren Loo sorriu aprovando também a escolha do livro.

O médico riu. "Isso com certeza Madame Ren não precisa se preocupar. Eu discordo que a senhora e o Imperador sejam relapsos. Com certeza são os filhos mais atenciosos que eu já conheci."
Madame Ren o encarou por um tempo antes de falar novamente. "De qualquer forma eu não me importaria de tê-lo como um irmão humano."

"Melhor não dizer isso ao Imperador, não quero que ele morra do coração." O médico riu acompanhando-as de volta a sala. A Imperatriz estava se despedindo com pesar.
"Foi um dia muito agradável e muito bom poder revê-lo. Mais uma vez, obrigada por emprestar o livro. Prometo cuidar bem dele!"
"Eu quem agradeço a visita. E agradeço também pelo chá. Foi um presente maravilhoso. E foi um prazer conhecê-los, Madame Ren e Ren Shyu."

Madame Ren não tinha tanta certeza do que o médico pensava de seu filho, mas ao ouvir a preocupação dele um pouco antes com Qiang Yong, ela percebeu que não havia sinal de hostilidade vindo da parte dele. Portanto, era o mesmo com Ren Shyu. Este, por sinal, ainda o encarava com profunda inimizade e nem lhe dirigiu a palavra. A Imperatriz então ia desenhar a matriz para voltar a Fortaleza quando batidas violentas se fizeram ouvir no portão externo. "DR. SU!DR. SU!"
A Imperatriz Viúva parou o desenho impressionada, quem seria esta pessoa tão alarmada a esta hora?

Nota da Autora:

Aí, aí, Ren Shyu é demais. A Imperatriz Viúva quase cuspiu sangue com o neto e com a filha, que educação primorosa a destes dois! 😅 Su Ning é bem paciente, agora An Shu foi quase um santo neste capítulo. Vamos ver o que que vem por aí agora...



O Imperador Yao e Seu Médico HumanoOnde histórias criam vida. Descubra agora