Capítulo 56 - Tonzhun

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Qiang Yong abriu um portal para chegar a Tonzhun. Ele conhecia bem a cidade, não para fazer uso de seus serviços, mas sim porque era um local problemático e de difícil jurisdição. Isso porque essa cidade era uma das poucas cidades onde humanos e yao estavam claramente misturados de forma igualitária. Haviam locais com uma população somente de yao e outras só para humanos, com um ou outro vagandanfo rapidamente por elas.

Com exceção de Su Ning que não se importava em visitar yao com frequência, não era costume as duas espécies se cruzarem tanto. Mas em Tonzhun havia tanto prostíbulos exclusivos para humanos, como de yao e até mistos! Inclusive, as casas mistas tinham ficado muito famosas e bem frequentadas, já que havia algum interesse em se "conhecer" beldades de outros tipos por ambos os lados.

E é claro, isso só poderia resultar em muita bagunça, brigas e discussões. Não era raro Qiang Yong ter que procurar o senhor da prefeitura e dar alguns gritos com ele. Aliás, o senhor da prefeitura era um yao, uma pequena doninha, por ironia do destino. Já era sem tempo a hora de tirar esta criatura do poder, mas era muito difícil arrancá-lo do galinheiro agora que ele havia se apossado do local.

Não era de se assustar o fato de um criminoso em série andar por aí assassinando mulheres e ele não levantar um dedo para capturá-lo. De qualquer forma, ele falaria com o prefeito depois que ele desse um jeito nesse criminoso primeiro. E depois que ele conversasse com Su Ning!
Ren Loo também conhecia bem Tonzhun, o que não a impedia de andar pelas ruas como se estivesse fazendo passeio turístico.

"Espero que não te confundam com uma cortesã." Qiang Yong rangeu entre dentes. Várias mulheres tentaram flertar com ele no meio do caminho e ele as ignorou por completo. Mas era difícil distinguir quais pessoas estavam oferecendo serviços, quais estavam querendo comprar ou apenas de passagens. E Madame Ren era muito bonita, destacando-se na multidão como uma rubi brilhante, embora suas vestes não eram nada parecidas com as das outras mulheres, cheias de adornos coloridos e jóias.

Suas roupas eram práticas, prontas para o combate e trabalhos braçais. Hoje ela usava um tom vermelho escuro mesclado com preto. Porém, Ren Loo estava pensando muito em An Shu e ela estava em dúvida se deveria mudar o visual. Talvez usar uns haifus mais delicados, com cores mais suaves... ou seria melhor as cores fortes que ela usava sempre?

Enquanto olhava as lojas, também observava as outras mulheres, comparando-se. An Shu estava acompanhando Su Ning. Será que ele olharia para outras mulheres com segundas intenções? Ela de repente apressou o passo.
"Você conseguiu falar com o dr. Su?" Ela perguntou com uma rusga de irritação formando-se na testa.

"Sim, perguntei na matriz de comunicação. É logo virando a próxima rua."
"Então vamos logo!"
Ren Loo apressou o passo e Qian Young se perguntou que bicho a mordeu. Eles pararam diante dos portões de uma grande residência de três andares, pintado com cores chamativas. Eles foram recepcionados com grande alvoroço, já que se tratava do imperador e a famosa madame Ren, dona de feitos notáveis como General durante a guerra.

As moças correram para abrir as portas e conduzi-los até a salão principal. A senhora da casa veio recebê-los pessoalmente, abanando um grande leque de bambu preto desenhado com flores douradas. Esta era a Casa das Orquídeas, uma casa mista muito bem conceituada, e a Senhoria, a Orquídea Negra.
"Vossa Magestade, madame Ren, estamos honradas com sua visita!" A cortesã fez uma reverência respeitosa.

Ela era uma yao do tipo felino e suas orelhas felpudas eram visíveis sob seu penteado elaborado. Ela tinha grandes olhos dourados e as pupilas estreitas, que observavam os mínimos detalhes.
"Soubemos que atacaram uma de suas orquideas." Ren Loo disse com um péssimo humor. As moças da casa eram todas umas belezas, cheias de risinhos e enfeites de flores nos cabelos.

"Oh, sim! Foi muito grave." A cortesã se esparramou no sofá com afetação. "Eu chamei um médico com urgência. O melhor médico que tem, o dr. Su. Um bom homem mesmo! Ele sempre vem aqui."
"Uh... ele sempre vem aqui?" O Imperador disse entre dentes.
"Sim! Alguns meses atrás uma menina ficou grávida e tomou algumas ervas para aborto. Mas ela não reagiu bem e quase se foi. Se não fosse ele, ela teria morrido de uma forma tão trágica! Ah, também teve uma vez que a fulana achou um cisto..."

Qiang Yong suspirou aliviado, realmente ele estava vindo apenas para trabalhar. "Será que podemos vê-lo... digo, ver a moça para fazer algumas perguntas?"
"Os quartos ficam no andar superior, vou levá-los até lá." A Orquídea Negra os conduziu até o piso superior, batendo na porta de um dos quartos. Os dois dragões ficaram quase cegos com a exuberância rósea dos aposentos.

No meio de tanta ostentação feminina, Su Ning estava medicando uma moça, por trás das cortinas de musselina que rodeavam a cama. Ao lado dele estava seu assistente cobra, segurando a bacia com agulhas de acupuntura. O médico logo terminou de recolher as agulhas e saiu. Ao invés de sua simplicidade desaparecer no meio da suntuosidade do quarto, ela parecia destacá-lo ainda mais nesse ambiente.

Atrás dos dragões, a Orquídea Negra estalou a língua, murmurando baixinho. "É uma pena ele ser tão bom em medicina! É um desperdício esse rosto dele." Qiang Yong estava roxo, mas não disse nada. Ele se aproximou do médico e recebeu um sorriso familiar deste. Ren Loo riu consigo. A cortesã escapou por pouco agora. Esse sorriso era o único a apaziguar a raiva do imperador de agora em diante.

"A paciente está em condições de falar?" Ele perguntou com suavidade, retribuindo o sorriso de antes.
"Infelizmente não, talvez amanhã, quando acordar. Ela recebeu cinco facadas no peito e abdômen, mas nem o pulmão ou coração foram pegos. Ela também perdeu muito sangue mas não corre mais risco de vida."
"Entendo. Será que podemos conversar em particular quando terminar aqui?"

"Sim, na verdade eu já acabei. Ela conseguiu tomar a medicação e já apliquei a acupuntura." Su Ning assentiu. Ele, o Imperador, An Shu e Ren Loo se reuniram em uma sala privada, que era o escritório particular da Orquídea Negra.
"Acredito que você já está investigando esse caso desde que chegou." Qiang Yong foi direto ao assunto atual, para infelicidade de madame Ren, que queria tanto ver o desfecho do último caso.

"Cinco mulheres foram mortas com um objeto cortante e contundente, as mortes começaram há mais de um mês. São todas humanas e de casas diferentes. Foram pegas no fim da tarde, próximo a hora do galo."Su Ning repassou rapidamente o que sabia.
"Você conseguiu estas informações tão rápido." Ren Loo comentou, pasma.
"As moças me contaram assim que eu pus os pés aqui." O médico respondeu.

"Elas estão assustadas, então colheram todo tipo de informação que fosse útil. Agora elas não saem sozinhas e evitam o horário do por-do-sol. Ficará mais difícil para o assassino encontrar suas presas assim..."
Qiang Yong o esteve encarando esse tempo todo e teve um mau pressentimento.
"O que você pretende fazer então?"
Su Ning sorriu até seus olhos se tornarem dois crescentes.
"Vou jogar uma isca."

Nota da Autora:

Agora temos dois potes de vinagre, Qiang Yong e Ren Loo.

O Imperador Yao e Seu Médico HumanoOnde histórias criam vida. Descubra agora