Capítulo 24

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De todos os abraços só o seu me satisfaz, pois é nele que meu corpo todo se desfaz...

- Lore Knust Hayek

Acho que poucas vezes na minha vida eu quis simplesmente desaparecer, ou fazer algo desaparecer em específico o que me confunde nesse exato momento:

- A garota loira pegou o ônibus. - Respondeu um homem atrás de um balcão.

- Para onde ela está indo? - Perguntou Liam quando chegamos ao carro.

- Para longe de nós. - Respondi com um turbilhão de sarcasmo.

- Diga algo menos óbvio para engrandecer nosso cotidiano. - Retrucou.

Liam tomou a direção em nossa pequena perseguição á um ônibus. A cada segundo eu telefonava para Anne entretanto as chamadas somente caíam na caixa postal. E então tentei o Lucas pela primeira vez, acho que nem tinha certeza de possuir o número quando pesquisei nos meus contatos.

- Alô? - Disse a voz atendendo, assim que clico no botão do viva-voz.

- Lucas? - Perguntei ouvindo uma confirmação. - Onde está a Anne?

- Catherine? - Uma pausa. - Na casa dela eu suponho. Deixei ela a dois dias.

- Não! Ela estava no Hotel Belo Jardim. - Resmunguei.

- Não estava não. - Negou.

- Vocês brigaram? - Mentalizei uma imagem, Anne triste por Lucas sentada sozinha chorando, me pareceu estúpido.

- O quê? Não! - Liam alterna os olhares para prestar atenção na conversa, acreditei que interromperia arrancando o meu celular e gritando com Lucas, mas não o fez.

- Quando buscou ela em casa. - Respirei. - O que aconteceu em seguida?

- A levei ao aeroporto, e ela disse adeus. - Ele não mentia, esse era um grande problema. - Aconteceu alguma coisa?

- Não nada, apenas confirmando. - Me fiquei em parecer natural.

- Anne está bem? - Pergunta assustado.

- Não, ela está ótima. - Uma boa desculpa, vamos lá, sou boa nisso. - É que ela está meio triste, paranóia de amiga.

- Eu também venho a achando meio estranha, nem entendi porque ela me pediu para leva-lá ao aeroporto.

- Por que? - Questionei rápido demais.

- É que não nos falamos desde de o término, ela estava meio nervosa. - Era como um tambor batendo em meus ouvidos, ela mentiu.

- Desculpa perguntar, mas porque terminaram? - A estrada estava molhada pela recente chuva, e era tudo que eu conseguia pensar.

- Bem que eu queria saber, ela simplesmente disse que não dava mais. - A voz estava abafada, um pouco triste. - Eu preciso desligar Catherine.

- Okay. - Falo finalmente apertando o botão vermelho.

- O que está acontecendo? - Reflito.

- Eu queria muito responder. - O maxilar estava trancado, sua mão apoiava-se janela segurando seu queixo, ele queria gritar de raiva, porém o silêncio sempre foi mais alto.

Não é como as outras vezes! Eu sei disso. E pelo desespero escondido pelas mechas loiras do policial, ele também chegou a mesma conclusão:

- Aconteceu alguma coisa grave o bastante para justificar essa fuga? - Sua voz estava abafada.

- Nesses últimos dias, achei que ela estava bem. - Talvez fosse fingimento, análisei.

- "Nesses últimos dias"? Aconteceu algo antes? - A voz então se tornou firme, como a de um interrogatório.

- A peguei usando droga. - Eu estava certa que ele começaria a gritar.

- Que droga? Crack? Cocaína? - Continuou o tom.

- Cigarro. - Respondi. - Fiquei sem falar com ela por três dias até que me dissesse que havia parado.

- Você cuidou dela. - Não havia sido uma pergunta, e muito menos uma resposta, eram apenas palavras jogadas, que causavam em mim uma vontade desesperada de chorar.

- Ela tem 18 anos. - Mordi os lábios. - Ela só tem 18 anos.

- Por quê não foi embora assim que descobriu sobre ela e o Jorge? - Cuspiu de repente, encarei o vidro da janela onde gotas deslizavam rapidamente.

- Eu tive um relacionamento secreto com o irmão dela. - Sussurrei. - Me pareceu hipocrisia.

- Irmão, não noivo. - Tentou permanecer no assunto.

- Parte de mim se sentiu aliviada quando vi aquela cena. - Estava esfriando, e o carro não tinha aquecedor. - Não teria que casar com o cara que minha mãe achava perfeito.

E o silêncio voltou a reinar, enquanto o ônibus se escondia melhor que o Batman.

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