Capítulo 6 - Egoísmo passional

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Hyunjin

Ainda me soava muito inacreditável que Han conseguisse ser tão desprendido dos próprios sentimentos, a ponto de sempre pensar em um bem maior do que em si mesmo. Eu sabia que, apesar de certas inseguranças, ele era muito autoconfiante e isso fazia com que não duvidasse do domínio que tinha perante as adversidades que passava, e confesso que invejava isso, pois seria muito útil ter esse mesmo tipo de convicção na minha vida, quem sabe assim eu não seria obrigado a lidar com a depressão a cada episódio de cyberbullying que vivenciasse.

Jisung voltou do próprio quarto com um cobertor e estendeu sobre as nossas pernas no sofá. Debatemos por um tempo qual filme escolher no catálogo, até entrarmos em acordo sobre um. Quando ele deu o play, eu descansei a minha cabeça sobre o seu ombro, finalmente sentindo um pouco de tranquilidade por ter deixado de lado todo o terror online que andava acontecendo comigo. Han não tentou se livrar do meu contato, ele costumava ser uma pessoa muito afetuosa fisicamente, então eu tinha certeza de que não havia problema algum em tocá-lo daquele jeito.

- Han, eu queria te perguntar uma coisa.

- Pode falar.

Levantei o meu rosto do seu ombro para poder olhar para ele, desviando a minha atenção do filme.

- Quando estávamos em Daebu-do, você pediu para cantar Limbo no karaokê com Lee Know para me provocar?

Han inspirou o ar, abrindo mais os olhos de surpresa por aquele questionamento.

- Eu já tinha até me esquecido disso - disse ele -, mas isso acabou sendo um tiro no pé, não foi?

- O que você quer dizer com isso?

- Eu fiz isso mesmo, porém não teve o efeito que eu queria, porque ele cantou com o coração. Minho sempre canta essa música com paixão.

- Naquele dia, eu pensei que talvez isso indicasse que ele ainda sentisse algo, mas como logo vocês se distraíram com outras coisas e foram abandonando a sala... e eu fui perdendo a fé.

- Foi por isso que você ficou cantando sozinho e demorou para subir para o jogo do jantar?

Assenti com a cabeça.

- A real é que eu já não estava muito legal durante essa gravação - admiti -, eu tinha percebido o bombardeio de hate nas redes do grupo e aí não consegui ser tão sociável quanto gostaria.

- Você estava mais introvertido que o normal mesmo e a minha afronta fez você se isolar mais ainda, me desculpe.

- Já passou. Eu só perguntei sobre isso agora porque queria saber se você descia do pedestal de vez em quando.

- Eu não estou em um pedestal.

- Para mim, você está.

- Então é só você que me coloca em um.

- Você sabe que isso não é verdade, todo mundo gosta de você.

- Vamos ter que concordar em discordar ou nunca assistiremos esse filme.

- Tudo bem...

Deitei minha cabeça sobre o ombro dele novamente e voltamos um pouco as cenas para podermos continuar de onde lembrávamos. Quando já tinha se passado mais da metade do longa, eu despertei assustado, pois tive o vislumbre da cabeça de Jisung pendendo por sono também. Como não tínhamos mais condições de manter os olhos abertos, resolvemos desistir da atração e deixar para vê-la em outra oportunidade.

- Eu odeio dizer isso, Hyunjin, mas você precisa voltar para o seu quarto para que o Minho não estranhe o seu sumiço - disse Han. - Se nós apagássemos aqui na sala, ele ia querer saber por que estávamos juntos tão tarde e você teria que falar sobre os ataques que sofreu.

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