Capítulo 15 - Gestores de crises

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Han

Anos de prática tinham aperfeiçoado a minha habilidade de permanecer calmo quando, por dentro, eu estava surtando como ninguém. Eu sabia que em algum momento desabaria, mas, por hora, eu não conseguia chorar, talvez porque a tristeza fosse a menor das sensações que eu estivesse sentindo, a fúria conseguia se sobrepor a ela.

Foram séculos de relacionamento que acabaram sem nem ao menos um argumento da parte dele. Tudo bem que eu não tinha dado muita vazão para que Minho pudesse se pronunciar, mas ele nem ao menos tentara correr para fazer isso e essa falta de proatividade foi o que me afetou.

Provavelmente, eu estava certo quando indaguei se a nossa relação tinha caído na rotina e perdido o brilho que tornava o romance interessante, pois se ele nem se dera ao trabalho de vir atrás de mim para questionar a minha tomada de decisão, era porque Hyunjin devia estar sendo mais que suficiente para suprir sua necessidade emocional e física. Eu tinha que aceitar o fato de que tinha sido jogado para escanteio de uma vez.

Aquilo doía muito e eu nem ao menos sabia com quem me abrir a respeito, até porque me sentiria constrangido se tivesse que relatar a história para outra pessoa. Então, mais uma vez, era possível que a saída fosse guardar tudo que me afligia, apenas para mim mesmo.

Bang Chan já estava por dentro do rolo, mas ele me parecera tão saturado com o assunto no dia em que abordara a mim e Hyun, que eu não me sentia confortável para desabafar com ele, pois acreditava que dali só poderia vir crítica e não um ouvido amigo como eu desejava.

Ainda que não fosse a melhor das opções nesse sentido, Chan era o que me restava para não tomar café da manhã sozinho, então troquei o pijama por roupas comuns e resolvi bater na porta do seu quarto. O próprio líder abriu e cedeu espaço para que eu entrasse.

- Bom dia - disse ele, com uma voz que ainda aparentava sono, pois provavelmente havia virado a noite escrevendo.

- Bom dia - respondi. - Hyung, você quer sair para um brunch? A galera já tomou café da manhã por aqui e eu fiquei para trás.

- Lee Know foi embora? - perguntou casualmente.

Eu não sabia se mentia para ele ou simplesmente contava a verdade e já deixava claro o que estava se passando por ali. Porém, pensei que explanar a mágoa que eu estava sentindo, poderia deixar Bang Chan com um pé atrás sobre como aquilo refletiria no Stray Kids, então recuei com a ideia.

- Ele saiu do meu quarto logo cedo - falei, contornando a pergunta com metade da verdade.

- Mas ele foi para a casa dele? - questionou Chan novamente e eu vi em seus olhos que ele estava justamente querendo pescar em mim o panorama do que poderia estar acontecendo.

- Não - confessei, eu não conseguiria mentir para ele -, mas está tudo bem.

- Tem certeza?

Bang Chan cruzou os braços em frente ao peito e ficou me olhando, tanto com seriedade como também com uma dose de preocupação.

- Tenho. Vamos sair - falei e fui virando as costas para deixar o quarto dele.

- Esquece - disse Chan e empurrou a porta, fechando antes que eu pudesse alcançá-la -, você não está bem. Eu te conheço há muito tempo, você pode enganar os outros garotos, mas não a mim.

- Nós precisamos comer...

- Eu vou pedir um brunch por aplicativo para nós, agora senta aí e me conta tudo enquanto a gente espera.

Meio desnorteado e me arrependendo um pouco de ter ido ao encontro de Bang Chan como meu contato de emergência, sentei no chão mesmo e vi ele me olhando de cima e rindo brevemente, antes de fazer a mesma coisa para me acompanhar.

Um Conto de MaioOnde histórias criam vida. Descubra agora