Capítulo 38 - Enquanto há tempo

211 26 62
                                    

Han

Apesar de sermos considerados adultos por termos passado da maioridade havia alguns anos, recém estávamos começando a viver a nossa juventude no que dizia respeito a ter experiências sociais, como sair com amigos ou nos envolver em romances.

Durante os nossos anos iniciais como grupo, os contratos da JYPE eram tão rígidos, que realmente acabávamos obrigados a abrir mão de todas as vivências que garotos comuns costumavam ter naquela faixa etária, pois a vida como idol era extremamente regrada para que tivéssemos a disciplina exigida para exceder as expectativas da indústria artística. Obviamente, essa doutrina estabelecida pela empresa era muito extremista, pois mal podíamos ver nossas famílias, passear com amigos ou mesmo nos divertir com coisas normais da idade, como frequentar bares e baladas. Mas esse era o preço a ser pago para adentrar nessa carreira, e, no fim, tinha valido a pena passar por todos os sacrifícios, porque se não tivéssemos segurado as pontas, não estaríamos unidos no Stray Kids. Nós valorizávamos muito a trajetória que havíamos percorrido juntos, uma vez que já tínhamos passado por certa baixa no grupo por falta de comprometimento de um membro que acabou ficando apenas no esquecimento.

Por ter tido que lidar desde tão cedo com responsabilidades profissionais, fosse na minha competência como cantor ou como compositor, acabei formando a minha mente de maneira mais prática do que emotiva, e era por isso que, de vez em quando, eu passava por episódios de ansiedade social, porque, apesar de enxergar o mundo ao meu redor de forma bastante racional, às vezes o meu cérebro precisava de um escape para as emoções que tentava reter e finalmente as liberava contra a minha vontade.

No entanto, também era por conta dessa lógica que eu conseguia mais facilmente ter empatia pelos meus amigos e pegar leve com eles quando algo não saísse como era esperado. Mas isso não tinha surgido naturalmente em mim, pois, para desenvolver a minha compaixão, eu tive que passar por muitas situações de estresse e aprender a baixar os meus níveis de raiva, uma vez que o Han do passado era tão esquentadinho, que era capaz de resolver qualquer intriga com um simples arremesso de cadeira.

Antes de irmos para a sala de jantar, Hyunjin me pedira perdão novamente, preocupado que eu pudesse ter ficado um pouco ressentido pelo fato de que ele e Felix haviam se envolvido quando estavam fora do país. Porém, isso não significava muito para mim, nem ao menos me fazia duvidar da índole dele, justamente porque Hyun era muito jovem e eu considerava que ele não tinha vivido experiências suficientes até então. Se aventurar com outra pessoa não reduzia a quantidade de amor que ele sentia por mim ou por Lee Know, só deixava claro que ele era humano e que ainda não tinha total controle dos próprios desejos quando se deparava com uma situação tão propícia e com outra alma juvenil totalmente à sua disposição. Eu não conseguia ficar bravo por Hyunjin ter aproveitado uma oportunidade de viver e isso se dava pelo fato de que eu compreendia as suas emoções e sabia que ele não tinha intenção de me machucar ou de repetir o erro.

Mas claro que para tudo havia também um limite, eu não era de todo misericordioso e era até mesmo por isso que havia terminado com Lee Know anteriormente. Era muito diferente uma pessoa cometer um erro por impulso uma ou duas vezes e se arrepender, para a partir de então nunca mais fazê-lo, de alguém que, além de dar continuidade em uma sequência de erros, ainda insistia em cometê-los até mesmo depois de saber que a pessoa afetada havia se tornado consciente de que estava sendo prejudicada. Nesse caso, aquilo passava a se tornar proposital e eu estaria mais que no direito de me sentir desrespeitado e de agir contra tal ação - exatamente como havia feito na época.

Ainda assim, eu conseguia abstrair com muita facilidade de certos inconvenientes e simplesmente deixá-los no passado, pois entendia que tínhamos que aproveitar enquanto éramos jovens para nos portarmos de forma mais livre e nos permitirmos cometer erros. Foi por isso que passei a mão na cabeça de Hyunjin e o absolvi da culpa, aconselhando que seria melhor que deixasse aquele assunto para trás para que Minho não surtasse, já que ele não tinha tanta calma quanto eu para enxergar todos os pontos daquele ocorrido e priorizar o mais importante, que era quanto ao sentimento de Hyun não ter se modificado.

Um Conto de MaioOnde histórias criam vida. Descubra agora