O que está morto não pode morrer.

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       Vazio, uma grande escuridão dominava sua mente, o impedindo de ter pensamentos lógicos ou conseguir, se quer, traçar uma linha de pensamento coerente. Aos poucos a consciência voltava, e junto com ela uma dor latejante Sua cabeça latejava e doía como em uma tortura. Por que doía? Por que não conseguia lembrar de onde estava? Tantas perguntas sem respostas, tantos questionamentos sem lógica ou razão. Outra dor aguda atingiu-lhe no estômago, e de repente a vontade de chorar parecia lógica, seu único pensamento e vontade. As lágrimas se acumularam nos olhos sem demora e logo rolaram como cascatas sem permissão, sem pressa, sem lógica, com dor.

       O cheiro de ferrugem faz seu estômago se revirar e retorcer, girando como louco em suas entranhas. Céus, como isso poderia ficar pior? De maneira vagarosa o garoto abre os olhos, sentindo instantaneamente os raios solares queimarem suas orbes com crueldade não intencional. A garganta seca como areia do deserto o impedia de, ao menos, balbuciar qualquer palavra. A tentativa se mostrou dolorosa, era como cacos de vidros, rasgando e esfolando sua garganta com um implacável sadismo. Para a total surpresa e alegria do rapaz, passos abafados e pouco molhados foram ouvidos a poucos metros de si, reconhecendo o som que muito, e impressionante, lhe parecia familiar, o garoto presumiu que estava em uma praia.

       Em uma praia, como não notou antes? A areia abaixo de si molhada pelas implacáveis ondas, a brisa reconfortante e fria na medida certa, o som dos movimentos majestosos que o mar fazia, o sol forte. Tudo lhe apontava o óbvio, como foi tolo, mas todos estes fatos não explicam o aterrorizante cheiro de ferrugem, aroma este que seu cérebro se recusa, por algum motivo, a admitir que era sangue.

     — pelos deuses! — Um grito incrédulo foi capturado pelos ouvidos do castanho a pouco metros de si. O barulho abafado e molhado de pés batendo na areia se tornaram mais fortes, rápidos e próximos. O rapaz tenta falar, sua boca se abre em poucos centímetros mas nada sai dela, nenhuma palavra ou suspiro. Esta ação só faz sua garganta se tornar mais áspera e dolorida. Aos poucos, a escuridão parece mais motivada em encurralá-lo em seu eterno breu, mais propensa a aconchegá-lo em seus lençóis banhados pelo desconhecido, e o rapaz parece muito satisfeito em aceitar isso, o sol escaldante deu lugar ao escuro gelado que tanto ele admirava

      O bruel nunca lhe pareceu tão bonito, a escuridão solitária nunca pareceu tão reconfortante. Seu corpo não parecia algo sólido, não tinha peso, flutuava pelo abismo do breu com graça e serenidade quase divina. Sua paz e felicidade foi interrompida bruscamente por uma voz rígida, mas gentil.

       — por que tanto teme a morte? Por que tanto teme tudo e todos? Mas não tens nada mais a temer, o que está morto nunca pode morrer, o mar não te engoliu, a vida tem outros propósitos para você, segunda chance ao segundo filho. me chame, clame ou ore, eu irei te ouvir. — a voz melodiosa encerra seu glorioso, mas pequeno discurso. Seu corpo antes mole se torna cada vez mais sólido e pesado, a paz interior deu lugar ao mais profundo ódio e rancor. "O que está morto não pode morrer, o mar não me engoliu." Estas palavras se mantiveram presas em sua mente, como uma oração que deve ser lembrada sempre.

O que está morto não pode morrer.
O que está morto não pode morrer.
O que está morto não pode morrer.
O que está morto não pode morrer.
O que está morto não pode morrer.
Se estou morto, irei reviver.

       Em um pulo o jovem abre seus olhos bruscamente, o local onde estava era um pouco escuro, iluminado apenas por uma vela, seus olhos se abrem e fecham inúmeras vezes tentando se acostumar com a escuridão, que diferente da outra, não era conchegante. Peles de animais cobriam seu corpo em uma grossa camada, estava muito mais quente e confortável do que anteriormente na praia. Passos são ouvidos do lado de fora, se assemelhavam com o barulho de santos batendo no chão de madeira, era calmo, sem pressa ou nervosismo, junto com os passos um aroma agradável se tornava mais forte e próximo, parecia pinheiro, canela e ervas medicinais.

       A porta se abre em um rangido irritante, a pessoa Para, não passando da porta, parecia avaliar a situação. Pela pouca iluminação que a vela fornecia, Lucerys sabia que ela era uma mulher, a curva dos seios mostrava isso. Um suspiro saiu de seus lábios em alívio, e logo em seguida o barulho dos saltos continuaram. A figura se aproxima da cama, se inclina até uma pequena escrivaninha que havia ao lado da cama, depositando o prato que a mulher segurava nas mãos. A cama afunda quando a desconhecida se senta na beirada, em extinto lucerys recua.

    — Fico feliz em ver que você está bem, por um momento jurei que você estava morto. — A voz era irônica, mas amigável. Doce e firme na medida certa, é agradável de se ouvir, mas se adicionar um pouco mais de firmeza pode dar calafrios. — Tenho certeza que tem muitas perguntas, mas eu gostaria de começar o questionário. — lucerys acena positivamente com a cabeça. —  Bom, qual seu nome e o que aconteceu para acabar em uma situação como aquele.

     — N-não me l-lembro. — sua voz saiu falhada, a garganta ainda doía, mas era suportável diferentemente de quando acordou pela primeira vez. A mulher suspira pesadamente.

      — isso é péssimo....me chamo Astéria, você está em minha casa, encontrei você na praia, tinha o que se parecia com uma carcaça de dragão ao seu lado, era isso que o fez chegar aqui? — As informações foram jogadas no jovem sem delicadeza, Astéria não aveludada suas palavras. A última informação fez os olhos do rapaz transbordarem em lágrimas, oh, como doía, doía como uma queimadura recém adquirida, e doía ainda mais não saber do por que doer tanto. — Oh não chore, querido. Eu não poderia dizer com todas as letras que estava morto, quero dizer, tinha sangue e grandes ferimentos, foi somente um pensamento bobo. Irei deixar você comer. — Astéria se levanta com rapidez e agilidade, caminha até a porta de madeira abrindo-a, fazendo o barulho irritante pairar no recinto novamente.

    — Ah sim, antes que me esqueça, já que não se lembra do seu nome, te chamarei de Ajax, sempre gostei desse nome. — com um sorriso sem dentes apenas visível pela luz da vela, a mulher saí, fechando a porta atrás de si, levando consigo o agradável aroma que ela exalava.

       "O que está morto não pode morrer" Ajax repete esse mantra em sua mente tentando trazer algum confortos destas palavras melancólicas. Em um suspiro pesado, o rapaz retoma a consciência, pegando o prato que está na pequena mesinha.










Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta.
Ksksks, eu simplesmente não consigo ficar sem escrever então, aqui está uma nova história, agora, os recados de sempre.
Perdão qualquer erro de português ou dramática e se gostou pode votar? Isso me motiva muito.

Nunca morrereiOnde histórias criam vida. Descubra agora