Peste

430 54 20
                                    

  
      Mergulho novamente o pano na bacia de água, observando a água se contaminar com o líquido carmesim. Ajax murmura um xingamento, eu deixo uma pequena risada escapar enquanto volto a limpar o sangue seco grudado em suas pernas com o pano úmido, deixando-o sujo novamente. Ajax finalmente teve sua apresentação, e aparentemente, foi algo tão brutal que o jovem acabou tendo um sangramento interno, não era para isso acontecer, e não é nem de longe algo normal, há uma grande probabilidade do corpo do garoto ter sido obrigado a se manter "infantil".

    Respiro fundo tentando me acostumar com o novo aroma que dominava o cômodo, era uma mistura de uma brisa suave com frutas frescas, laranja, para ser mais específica. É um aroma tropical, e certamente de um ômega. Franziu ligeiramente a testa com o pensamento. Ômegas se tornaram raros nos dias de hoje. Uma doença inexplicável foi a causadora dessa raridade. Muitos ômegas morrem pelo que foi chamado de: "Peste da mãe." Graças a essa peste que se espalhou por todos os sete reinos, mulheres betas se tornaram as únicas possíveis a serem portadoras. O corpo beta não tem alta fertilidade, e muito menos a preparação biológica para partos. Com isso, a morte em camas de parto se tornou algo comum, e então oficialmente, a cama de parto se tornou o campo de batalha das mulheres betas. Isso também reduziu elas a somente mães, portadoras de filhos e esposas. Isso com certeza tirou muita da liberdade "natural" delas.

        Sou tirada de meus pensamentos pela voz de Ajax, retiro minha atenção da minha tarefa inicial, voltando-a para o garoto.

      — Astéria... — Sua voz é exitante, seus olhos castanhos percorrem o cômodo de maneira ansiosa, evitando a todo o custo meus olhos. — Você... você lembra quando nos tivemos uma conversa sobre os deuses? — Minha mente começa a imaginar a onde Ajax queria chegar com está conversa. Já com aparente ansiedade, murmuro uma afirmação. — Bem... naquele dia você me mandou dormir...e me perguntou se eu havia sonhado com algo...eu menti...eu sonhei com algo. — Meus olhos se arregalam instantaneamente, a curiosidade toma conta de mim, acompanhada pela amargura da decepção. Ele havia mentido, mas era algo bobo, eu poderia esquecer.

        — Como foi o seu sonho? — Tento não deixar minha crescente curiosidade amostra em meu tom de voz. Ajax franze ligeiramente os lábios e estreita os olhos castanhos, ainda com sua insistência recusa em me olhar nos olhos.

        — Eu estava em um grande cômodo, a única coisa que me permitia ver o local era o fogo fraco de algumas tochas. — Balanço suberficialmente minha cabeça, monstrando que minha atenção estava em suas palavras. Ele prossegue. — E então um homem apareceu, ele tinha cabelos de um loiro tão claro que se tornava branco....eu não me lembro com clareza...mas ele disse algo como: Tessarion estava certo em não te matar ou engolir. Eu não lembro. — Tessarion, esse nome soou um sino na minha cabeça. O Deus dos mares não matou Ajax, o garoto estava na praia quando eu o encontrei. Prendo inconscientemente minha respiração. Não é possível, isso não pode ser verdade.

      Ajax olha-me inquieto, com um leve pesar em seus olhos castanhos esverdeados...espere...seus olhos não eram de um castanho profundo? Nesse momento isso não importava. O garoto franze a testa, fazendo uma ruga de preecupação aparecer entre suas sobrancelhas. Isso era algo tão recorrente que se tornou uma auto denuncia de sua preecupação ou nervosismo. Tomo consciência de como meu rosto deve estar severo nesse momento, levando em conta a inquietação de Ajax. Limpo minha garganta nervosamente, tentando engolir em seco o nó que se formava tão cruelmente, me impedindo de pronunciar palavras coerentes.

      — Compreendo...eu disse a você que rezo para os antigos deuses, correto? — Pergunta com firmeza forçada, com objetivo de não deixar minha voz falhar. Ajax acena com a cabeça superficialmente, seus olhos baixos, ombros curvados, e lábios franzidos, ele obviamente estava muito nervoso por revelar isso. Provavelmente, arrependido. — Ótimo, bem... Tessarion é o Deus dos oceanos, águas, tempestades, desastres naturais, exploração e clima. Na antiga valiria, os marinheiros rezavam para Tessarion em busca de proteção antes de se aventurarem no mar estreito... — faço uma pausa, se certificando que o garoto compreendia cada uma das palavras ditas por mim.

       — Então...esse Deus...Tessarion....me salvou?  — O jovem pergunta cautelosamente, um pouco desacreditado. Não o culpo por isso, as palavras que saíram da minha boca, até para mim, pareciam bobas. Doces fantasias de que o mundo, os deuses, são bons para aqueles que os servem fielmente. Suspiro só perceber que pareço um maldito septão velho e idiota, que usa a fé para explicar coisas inexplicáveis.

          — Sim, aparentemente sim. — Prendo um suspiro enquanto me remexo, um pouco inquieta e derrepente desconfortável em minha posição sentada. — Eu sei que parece estúpido, e devo confessar que até eu duvidaria de tais palavras, mas...você viu, você sonhou e presenciou os Deuses, você sabe que não estou histérica e nem maluca. — Me aproximo do garoto, com meu coração batendo em desperada em meu peito. Inclino ligeiramente meu rosto para obrigar seus olhos a encontrarem os meus. — Eles são reais, você sabe, mesmo que tente esconder, enganar você mesmo. Você sabe, eles tem planos para você, os deuses traçam planos para todos, planos divinos que não podem ser compreendidos por nós, mortais.

       Amaldiçoou-me mentalmente de como eu parecia uma seguidora histérica e cega dos setes, acreditando em cada sussurro jogado em meus ouvidos por aqueles que considero mais próximo dos deuses. Que hipocrisia, penso com leve humor que não transparece um minha feições endurecidas.

        
          A testa de Ajax se franze ligeiramente, seu nariz pequeno de botão se contorce levemente, deus lábios se firmam em uma linha reta, e então um suspiro trêmulo enche o cômodo que estava tão silencioso.

        — Então irei rezar para ou Deuses serem mais claro em suas mensagens, que me ajudem a incontrar meu caminho. Porque, sinceramente, estou perdido. — O ômega sussura levemente como um sopro suave, deitando-se de frente para a parede, puxando os lençóis para se cobrir  do frio que enchia o cômodo.

      Observo o garoto por alguns minutos antes de suspirar pesadamente e me levanto, saíndo do quarto logo em seguida.

       Estava a caminho do meu próprio quarto, com o objetivo de deitar-me na cama e ter meu tão merecido descanso depois de um longo dia. Mas infelizmente, batidas na porta principal me retiram do sonho de uma noite bem dormida, reviro os olhos levemente irritada, quem vem bater na porta dos outros a essa hora? Penso indignada enquanto murmuros baixos xingamentos caminho até a porta. Surpreendo-me ao ver um homem que não estava de todo o mal vestido e gurava uma carta.

 
       — As esposas de sal de lorde Greyjoy precisam que remendos, bordados enfeites sejam feitos em seus vestidos, ela pedem que a senhora realize seu trabalho em troca de uma boa quantia. — O homem oferece a carta com o selo da casa Greyjoy, analiso por um momento antes de acenar positivamente para o homem, que não se despede antes de sair. Bem, eu já tinha feitos trabalhos parecidos para as esposas de sal de lord Dalto Greyjoy, normalmente costureiras locais são chamadas para realizarem trabalhos simples, enquanto artesãs de verdade são convocadas para fazerem os vestidos mais formais.

    Bem, a quantia de dinheiro é muito maior do que eu já ganhei em qualquer outro trabalho anterior, então decido aceitar. E de qualquer forma, o que poderia dar errado?
















Oii gente, eu queria me desculpar pelo atraso, eu estava em semana de prova e o Ensino médio não é para os fracos. Eu não tive tempo de corrigir os erros desse capítulo, então me avisem se tiver algum erro de português. Obrigado por lerem e votem caso tenham gostado, isso me ajudaria muito.

E não se preocupem, o próximo capítulo já está sendo escrito, e um pequeno spoiler, uma certa serpente marinho aparecerá.

Nunca morrereiOnde histórias criam vida. Descubra agora