um kraken, um velho amigo, um pensamento

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      As esposas de sal de lorde Greyjoy não eram necessariamente falantes, eram silenciosas, não por natureza, mas sim porque provavelmente foram silenciadas até a submissão como outras esposas de lordes espalhados pelo reino. Entretanto, por não serem a esposa de pedra ou a esposa principal, como eram chamadas por pessoas que eram ignorantes sobre essa cultura, deveria ter sido mais contidas, tendo constantemente em mente que a qualquer deslize, elas poderiam ser substituídas.

     Mas longe dos olhares julgadores, na privacidade dos aposentos, elas deixavam seu sangue quente e natureza agressiva, tão característica de pessoas nascidas nas ilhas de ferro, se aflorar e transparecer livremente. Isso era reforçado pela pequena discussão que se desenrolava diante dos meus olhos nesse momento.

         — Bordados florais são horríveis e antiquados, algo que é visto em vestidos de velhas viúvas rabugentas e infelizes — A mulher de longas madeixas castanhas emaranhadas, pele de oliva e olhos verdes, exclama em aborrecimento perante a teimosia da outra mulher.

       — Eu já disse, Elara! É o MEU vestido, e eu irei pôr o que eu quiser nele e de nada adianta você reclamar. Aliás, por que você não cuida de arrumar o seu vestido? — A mulher de pele negra, cabelos pretos e olhos castanhos claros, contra-ataca com a mesma intensidade e aborrecimento. Astéria continua a pôr alfinetes no vestido, demarcando onde deveria trabalhar, sem se importar com a gritaria. Eu permaneço ao seu lado, ajudando-a a pôr os pequenos objetos de metal, um pouco mais inquieta que ela com a crescente gritaria ou os feromônios de irritação que enchia minhas narinas.

         — Oh bem, perdoe-me por estar tentando ajudá-la a não parecer uma velha irmã sombria — A mulher de olhos verdes resmunga irritada, revirando os olhos em sarcasmo. Seus braços magros se cruzam abaixo dos seios, e de maneira infantil, virou a cabeça para o lado oposto do da outra.

       — Oh não sejam bobas, não estão vendo a cena que estão fazendo na frente das tercelãs? — A mulher de aparência mais madura, que estava de pé para facilitar para Astéria a pôr os alfinetes, fala suavemente de maneira arrastada, como um suspiro cansado.

        As duas mulheres não responde, acalmando-se diante da repreensão da mulher que parecia ser a figura de autoridade no local naquele momento. O silêncio paira pelo cômodo por alguns momentos, as outras esposas falavam suas exigências entre outras coisas. Permaneço perto de Astéria a todo o momento, mantendo-me longe das mulheres que parecia ter pouca paciência e caráter direto.

       Os vestidos tão diferentes demonstravam de maneira silenciosa, a personalidade de cada mulher, então eram obviamente diferentes. O vestido da mulher que tinha o nome Elara, tinha pouco renda ou qualquer bordado, acentuava suas curvas, um decote profundo. A outra esposa de sal, era mais feminino, com bordados florais que ela tão bravamente lutou para ter. Mas todos eles tinham um pouco em comum, careciam de volume nas saias, os tecidos eram leves e da mesma grossura que camisetas, isso dava mais liberdade aos movimentos e pareciam ser mais confortáveis.

      Astéria cantarolava levemente uma música desconhecida por seu ouvidos, enquanto bordava a bainha dos vestidos em pontos bem feitos e perfeito. Resultado de anos de prática e experiência na profissão que exercícia há mais tempo do que poderia contar com os dedos. Me remexo levemente inquieto, minha presença não era necessária, eu estava lá única e inclusivamente na vontade de Astéria. Depois de quase dois meses de convivência, nos dois criamos laços amigáveis e até mesmo uma camaradagem, eu podia confiar nela e ela podia confiar em mim. Ela me viu nos momentos de maior fraqueza, e me apoiou incondicionalmente. Aquela mulher que há pouco era desconhecida por mim, mas ao mesmo tempo, é a figura que mais tenho memórias. A fato do meu passado ser desconhecido, pela incapacidade da minha mente, me assustava.

Nunca morrereiOnde histórias criam vida. Descubra agora