esqueceu-se

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     Se me perguntassem quanto tempo eu estava morando com Astéria ou quantos dias se passaram, eu não saberia responder com exata precisão. Diria que foi tempo suficiente para minhas feridas cicatrizarem. obviamente, com a pomada feita por Astéria, o tempo necessário de cicatrização tornou-se menor. Agora, as feridas e arranhões tinham uma crosta marrom para uma cicatrização mais eficiente e rápida. Isso demonstrava o meu avanço na minha recuperação.

       Eu havia sido fortemente aconselhado, e ameaçado, pela mulher que me abrigou a ficar o dia na cama. Minha salvadora trazia comida, água e remédios para as feridas. E recentemente começou a trazer, em uma xícara de porcelana desgastada, chá de ervas medicinais. A mulher alegou ser para o meu tratamento. Com pouco relutância, Eu me curvei às vontades da pessoa que de tão bom grado aceitou cuidar de mim sem ter qualquer recompensa ou pagamento. Apenas bondade com alegações irreais de: "qualquer um faria isso." Não, definitivamente não, as pessoas são egoístas e mesquinhas, iriam me olhar como se eu fosse um animal exótico sendo exposto ao público, iriam murmurar tristemente algo como "que tragédia" ou "uma pena" mas não iriam ajudar. iriam me observar definhar e morrer como algo sem valor ao envés de um ser humano como eles.

       O pensamento positivo e altruísta só fez minha admiração crescer para com ela, o sentimento de gratidão comun e esperado pelo fato dela ter salvo minha vida se foi, dando lugar à uma verdadeira admiração. Nossa amizade cresce com o passar lento e torturante dos dias, a troca de palavras sem qualquer valor ou real sentimentos, deu lugar a conversas minimamente longas e reflexivas. Astéria entraria, perguntaria da minha saúde, me daria a refeição do dia, sentaria-se na cama e perguntaria algo com sua voz sempre forte e reconfortante.

      Hoje não foi diferente, sento-me na cama no momento em que o barulho irritante do ranger da porta chega aos meus ouvidos Astéria entra, com um sorriso amigável no rosto, equilibrada com grande esforço, em uma mão prato cheio do almoço do dia, e o chá na outra. Os cabelos volumosos estão presos em um rabo de cavalo, o cabelo pula alegremente para cada movimento. Ela fecha a porta com um leve empurram com pé esquerdo. Ela põe o prato e o chá na mesinha de cabaceira ao lado da cama, se senta na cama, cruza pernas e pergunta:

       — E então... — Seu modo habitual de iniciar uma conversa.

       — Hum.

       — Hum o quê? Está se sentindo mal ou com dor? Sua cara está ruim. — A última frase saiu como uma reflexão, enquanto os grandes e inesquecíveis olhos analisavam minhas feições.

        Nego sem muito ânimo suas perguntas, sei que ela está pensando em algo no momento em que seus lábios se contraem em uma linha reta. Me preparo para o questionário que virá a seguir.

       — Hum. — Para minha surpresa ela se contenta com a minha resposta não verbal. —tome o chá.

       obedeço suas ordens sem reclamar, sinto vontade de chorar e vomitar quando o gosto amargo invade e impesteia minha boca. Mas para minha surpresa, uma nova sensação aparece quando o líquido de gosto horrível desce pela minha garganta. Uma corrente elétrica atravessa meu corpo, como um raio vindo em direção a terra em dias tempestuosos. Astéria parece perceber.

      — Ah, o chá finalmente está fazendo efeito. — Olho para ela de maneira interrogativa com uma das sobrancelhas arqueadas. — Eu deveria ter contando antes, mas queria ter certeza que teria efeito. Por culpa da sua memória danificada você parece ter se esquecido do que se trata gêneros secundários —  Eu provavelmente estava com meu olhar de idiota sem conhecimento, dado ao fato de Astéria suspirar exageradamente, como se falasse: "você é burro?"

      A mulher inicia a sua explicação, falando de maneira lenta e usando palavras simples, como se eu fosse uma criança. Começo a compreender melhor, é fácil quando te explicam da mesma forma que explicam para uma criança de dois dias de nome.

         — Entendo. — Astéria sorri satisfeita, talvez ele não seja tão burro, é isso que ela deve estar pensando no momento.

         — Ótimo, depois de toda essa aula, posso finalmente chegar ao ponto. Aparentemente, você não se apresentou no tempo certo, seu corpo parece ter se esquecido desse pequeno detalhe, talvez isso tenha sido ocasionado por um trauma muito grande. O chá que eu fiz você beber durante esse dias obrigava sua corpo a apresentar seu gênero secundário, se você continuar bebendo o chá, saberemos em poucos dias.

       A informação é muita mas o meu cérebro, mas consigo absorver com muito esforço.

      — Bom, vou deixar você comer agora. — Astéria se levanta, saindo do cômodo com a xícara suja com o rastro do chá que estava agora dentro de mim.

    Melhor comer, pensar não mata a fome.

Nunca morrereiOnde histórias criam vida. Descubra agora