Narrador
Sina e Noah estavam frente a frente na porta de saída da clínica abortiva.
Ele estava ofegante e estava todo molhado da chuva.
Ela estava pálida e com dores, internas e externas.
Noah a abraçou sem tanta força para não machucá-la, ela ficou estática.
Sina respirou fundo e sentiu seu abdômen doer.
Noah segurou a sua mão e colocou seu casaco sobre a sua cabeça para que ela entrasse no carro sem se molhar da chuva.
— Eu amo você. — ele disse sem encará-la, mantendo os olhos na estrada.
— Depois de perder tudo o que tem, óbvio que você me ama. — ela sorriu sem felicidade alguma. — E outra, você não sabe nada sobre o amor Jacob.
Ele respirou fundo e se odiou.
— Eu não deveria ter dado a ideia. — ele disse. — Eu estava confuso...me desculpe.
Os olhos de Sina começaram a lacrimejar e ela quis explodir a cara de Noah.
— Olhe para mim. — ele puxou o freio de mão. — Eu construí uma vida com uma pessoa que eu não amava justamente pelo motivo que você disse, de nunca ter amado antes e não saber nada sobre o amor, eu achei que era amor, não era.
Sina sentiu a lágrima quente escorrendo sua bochecha.
— Tudo que eu sei sobre o amor foi o que me ensinaram. — Noah encostou a cabeça no vidro e começou a chorar. — Nunca me ensinaram nada.
— Sinto muito. — ela virou a cabeça para a janela. — Mas isso não justifica nada, e nunca vai.
— O que eu sei sobre amor, é a minha filha, já Liana não, Liana foi paixão, foi momento e eu estraguei tudo entre a gente achando que aquilo poderia ser amor, ela foi muitas coisas para mim, mas não é mais.
— Só, me leve para casa, preciso ficar sozinha. — suspirou.
— Você precisa de companhia. — Noah disse.
Ele é médico, ele sabia de todos os riscos de um aborto, como perfuração do útero, retenção de restos de placenta, seguida de infecção, peritonite, tétano, e septicemia.
— Não da sua, eu dou meu jeito.
Sina não queria sua companhia e com razão, ela estava com dor e agora que morava sozinha isso a apavorava.
— Não vá estagiar no hospital e nem trabalhar na cafeteria por duas semanas no mínimo, por favor, eu faço seus atestados. — ele dizia preocupado. — Eu posso te escrever um cheque para pagar as suas despesas, não se preocupe.
Sina mal enxergava a esse ponto, sua cabeça latejava e sua visão estava turva como nunca.
— Não preciso de nada. — ela disse abrindo a porta do carro. — Obrigada pela carona.
— Eu me preocupo com você. — Noah disse com a voz trêmula. — Vá para o hotel comigo, por favor. — implorou.
Sina o olhou e mais uma lágrima desceu o seu rosto.