Não pergunte quem está aí (e não pegue atalhos!)

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— Eles têm um trauma com essa casa... — minha voz é só cansaço. — Mas precisava mesmo parar tão longe?

A essa altura, eu já havia cedido as bolsas para Kankuro. Ele caminha à nossa frente, apesar da carga dobrada, na verdade, indiferente a ela. Kankuro assobia, humilha o arrulhar dos pássaros. Radiante, ansioso. Extremamente irritante. Atípico até para um irmão mais velho.

Eu e Temari caminhamos quatro passos atrás. Seu braço é meu apoio. Me sinto um robô enferrujado. O músculo do pé, ainda magoado, me deixa lento e manco. Matsuri caminha atrás de todos nós, com pouca carga e a câmera de Kankuro, que a despeito dos conselhos de nossa mãe e das lições deixadas por A Bruxa de Blair, Atividade Paranormal e afins, achou uma ótima ideia filmar um found footage numa casa amaldiçoada no meio do mato.

— Estamos chegando — Temari me consola num tom maternal forçado. — Vamos colocar uma bolsa de gelo e vai melhorar.

Já caminhamos há uns dez minutos, que para o meu corpo pesado e cheio de sono acumulado, parecem trinta.

— Repito: se Temari e Matsuri derem conta das bolsas, eu te carrego.

— Se encostar um dedo em mim, te mato e alego legítima defesa.

Kankuro ri, tal qual um espírito zombeteiro, o que pode muito bem ter incorporado nele hoje.

Eu perguntaria porque ele está tão feliz, se o casarão, enfim enquadrado no meu campo de visão, não tivesse me roubado o fôlego.

Ouvi por alto sobre ter sido recentemente reformado, de modo que manter a aparência antiquada foi a escolha de alguém. Mas quem? Se meus pais odeiam tanto esse lugar, porque gastar dinheiro com manutenção? Por que não vendê-lo? Por que manter como sempre foi?

Antiquado ou não, era uma arquitetura admirável. Talvez essa seja uma possível área de interesse que nunca tive coragem de explorar. Yashamaru sempre odiou visitar e escolher as muitas casas nas quais moramos ao longo dos anos, nunca deu a mínima para a medida do pé direito e sua relação com o aquecimento. Essa era minha parte favorita. Me mudei diversas vezes, apenas porque os senhorios não me deixavam mexer no imóvel, então meu pai passou a comprar as casas para que eu pudesse — em suas palavras — destruir à vontade. A melhor parte de mudar de país, sempre foi a arquitetura.

O lugar emana um tipo de ostentação soturna que me lembra famílias seculares com títulos de nobreza comprados e histórico sádico de tortura aos servos. Temari torce o nariz e resmunga algo. Não faz o seu estilo. Não faz o meu também, mas não serei um hater.

— Rá! Os deuses estão do meu lado!

Uma fala rompe a contemplação. É uma fala teatral, embebida num misto genuíno de raiva e satisfação.

Neji não quer machucar a amiga e, no fundo, deve concordar com ela, pois são os únicos motivos plausíveis para Tenten ser capaz de arrastá-lo, enquanto ele, no máximo, segura seu braço, limitando seus movimentos.

— Olha aqui, sua criatura sem empatia e irresponsável emocional, se acontecer alguma coisa com a minha Bertinha ou com o meu melhor amigo, eu...

Tenten tem um dedo em riste que não precisava estar apontado para mim, para que eu soubesse que sou o destinatário da calorosa recepção. Temari segura meu pulso com força, mas eu respiro fundo e lhe dou um olhar confiante. Apenas o suficiente para ela se iludir e me soltar. Ando mais rápido. Ignoro suas reclamações e conselhos. Ergo o queixo para a tia do mini ser humano na minha barriga e ouço Kankuro ameaçar Matsuri para o caso dela resolver soltar sua câmera de estimação para me defender.

como sobreviver ao fim de ano [GAALEE]Onde histórias criam vida. Descubra agora