TW: Insinuação de sexo, menção implícita a parafilias, abuso de álcool e consumo de substâncias ilícitas, sangue, descrição gráfica de cadáver.
*
Foi fácil sair do campus fechado, ambos já o tínhamos feito antes, embora eu nunca o tivesse visto fazê-lo. O método dele era chato. Suborno. Clássico. O da Nori era muito mais legal. No carro, não estávamos mais tão à vontade quanto em meu quarto, horas antes.
— Aonde vamos?
— Bota o cinto.
Não o faço. Repito a pergunta. Rasa suspira incomodado, então dispara:
— Acabei não dizendo o que queria mais cedo.
Fico em silêncio para que ele se sinta à vontade em tirar essa farpa da garganta.
— Yashamaru disse que você não trata esse...
— A catalepsia? Não tem o que fazer.
— Talvez tenha. Orochimaru acha que ela pode ser consequência de outra coisa. Algum tipo de epilepsia. Por que nunca procurou saber?
— Sou filha de pastor, ciência não é muito a praia da família. Olha, não precisa se esquentar com isso, de verdade, está tudo bem.
— Pode fazer os dois. Pode confiar no diabo e na ciência. Orochimaru gostaria de ajudar.
Pretendia dispensar educadamente, mas ele me cortou e percebi que entrávamos num estacionamento.
— Não diz nada agora. Pensa um pouco.
O lugar era escuro, soturno. Não havia vivalma à vista, porém quase não tinham vagas disponíveis. Rasa adentrou o local como se soubesse que a sua o esperava. Me encolhi na jaqueta da minha melhor amiga. Um senhor baixinho e curvado, de cabeça branca, apareceu atrás de mim no reflexo da porta que eu acabara de bater. Enquanto eu quase morri susto, Rasa largou as chaves nas mãos dele sem qualquer recomendação. Tentou pagar e o velhinho recusou. Me lançou um sorrisão malicioso. Apontou para mim com uma mexidinha de cabeça.
— Sabe que a Mary não deixa trazer de fora.
— Onde estão seus modos? Ela é minha futura esposa.
O velho riu. Rasa sustentou o olhar. O rosto massacrado pelo tempo me fitou de cima a baixo. Demorou em meu rosto.
— Se ela casar com você depois disso, é maluca. Mais maluca do que você. — Ele me estendeu a mão para um aperto cordial. Aceitei com receio. — Espero dizer mais tarde que foi um prazer te conhecer, garota. Boa sorte. Mantenha a cabeça aberta.
Para um homem que parecia ter vivido demais, ele andava muito rápido. Rasa me estendeu o braço, como um cavaleiro. Ou como um assassino em série organizado. Na hora eu titubeei.
— Não precisa ficar com medo.
A ofensa me fez esquecer que de fato estava com medo. Segurei seu braço e saímos do estacionamento. Caminhamos por uma rua mal iluminada, cheia de depósitos fechados. Havia um bar aberto que mais merecia ser chamado de pé sujo e alguém estava arriando as portas de uma mecânica que mais parecia um desmanche. O homem cumprimentou Rasa com uma aceno, bem como as pessoas do bar, conforme passamos na calçada oposta. Alguém gritou que Mary não gostaria de me ver.
— Quem é Mary?
— Você não gosta de surpresas, não é?
Não quando parece que a surpresa vai tentar me matar. Não disse mais nada. Decidi que se fosse morrer, morreria com a dignidade de uma incauta.
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como sobreviver ao fim de ano [GAALEE]
FanficGaara achou que seus problemas pessoais fossem amenizar no fim de ano. Passar a virada num casarão com os amigos, dar uma notícia importante ao homem que amava. Pelo menos teria uma perspectiva para o futuro, Lee não o deixaria na mão. O que poderia...