Capítulo especial || Karura's pov || PARTE 1

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Ainda sinto vontade de rir, quando me lembro da conversa com Nori. A gargalhada brota do fundo da garganta e tentar impedi-la de subir é quase doloroso. Mal a ouvi me xingando. Foi um milagre ter me recomposto um mínimo para confirmar.

— Então você casou com um militar, teve um bebê com ele e ainda ajudou a criar a melhor amiga do seu filho? Seu marido casou de novo com outro militar e agora você tem que morar com eles?

Poucas coisas na vida são tão prazerosas quanto um escárnio guardado há anos. Por mais que minha reação a irritasse, no fundo, Nori já esperava. Ela teve de convir, era engraçado. Quando nós duas paramos de rir, ela me devolveu o tapa.

— E você fez mesmo tudo aquilo.

Olho para tudo aquilo. A mansão atrás de mim, o homem rico com quem me casei, os três filhos que lhe dei, o diploma da faculdade, empoeirado no fundo de alguma das gavetas do escritório. A liberdade da qual não posso desfrutar plenamente. Nori não teve intenção de machucar. Ela analisou meu sorriso ceder, me deixou chorar e ouviu o resumo da versão censurada das últimas décadas.

Me senti como nos velhos tempos, aqueles onde o futuro era apenas o campo das aspirações. E como os jovens gostam de sonhar. Nori fez tudo o que disse que jamais faria. Ela parece cansada. Eu fiz tudo o que planejei. Estou cansada.

— Não é assim que a biologia funciona — Nori disse quando contei sobre Gaara.

— Meu filho é um homem trans.

A tela ficou completamente preta por tanto tempo que resolvi desligar e ligar de novo para conferir se ela ainda estava viva. Ela estava. É claro que estava. É um choque, mas Nori já aguentou coisas mais complexas. Falamos tanto sobre isso que exaurimos o assunto. Foi como um retorno aos nossos planejamentos para os júris simulados da faculdade. Ela decidiu não falar com Gai e Kakashi até que Gaara fale com Lee. Me perguntou como ele dará a notícia. Eu ri. Não havia nada suave que eu pudesse dizer para tranquilizá-la, sem mentir. Em minha defesa, eu bem que tentei instruí-lo.

"Não me sinto seguro de te deixar dormir aí sozinha", disse Rasa, que agora está dobrando a esquina, levando meus filhos para meu lugar menos favorito no mundo. "Nori vem aqui hoje", respondi. Me pergunto o que ela achará do lugar. Uma das primeiras coisas que me disse ao descongelarmos na ligação, foi:

— Isso aí na sua cara é pacto, laser ou botox?

— Pacto. E laser, é claro.

Senti muito a falta dela. Não falamos uma só palavra sobre o que aconteceu no casarão ou sobre porque acabamos nos afastando. Já basta que nunca seremos capazes de esquecer.

Racionalmente falando, Rasa tem razão. Não há nada a temer em deixar as crianças irem para lá. É só uma casa grande. O problema nunca foi a casa. A menos que ele esteja me escondendo algo. O aperto no meu peito não é racional.

Gaara está exausto e está apaixonado, pela primeira vez na vida, queira ou não admitir. Kankuro e Temari estão esperançosos quanto a uma mudança de ares na família. Matsuri está como sempre esteve, disposta a acompanhar qualquer rota na qual Gaara se meta. Penso que se ele e Lee se casarem, terão que levá-la no caminhão da mudança. O carro some de vista. Terem crescido significa que não falhamos completamente. É o mínimo. Nunca é possível se acostumar a vê-los partir, apesar da larga experiência no assunto.

Entro, preciso me trocar. Chiyo ainda dorme no quarto do Gaara. Não é para menos, passou a madrugada toda diminuindo o estoque da adega e assistindo aos terríveis filmes do Sasori. Quando Rasa voltar, ela dirá que eu fui a preguiçosa que levantou meio dia e a deixou com fome e sem medicação.

como sobreviver ao fim de ano [GAALEE]Onde histórias criam vida. Descubra agora