As respostas estão sempre no passado

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Neji andou rápido como se fizesse questão da distância. Ele desapareceu casarão adentro enquanto eu e Lee ainda corríamos o último pedaço. Lee não soltou a minha mão, portanto foi forçado a acompanhar meu ritmo cansado. A chuva apertou ao ponto cenográfico. O cheiro de terra molhada nos envolvia. Numa história menos trágica, seria o momento de outro beijo. Quando entramos e Lee fecha a porta atrás de nós, percebo que o aquecimento foi ligado. Neji nos estende toalhas.

— Devia tirar logo os casacos, estão encharcados.

Obedeço porque seria burrice não fazer. E porque é óbvio, pela mera presença dele, que não tenho mais nada a esconder. Se eu fosse menos autocentrado, teria percebido mais cedo que nunca tive. Não para pessoas como Neji e Itachi. Eu subestimei os dois. Uma falha grave. Me pergunto se a essa altura, Hinata também já sabe. Não me importo mais. Lee já sabe. Meu pai disse que não se importa, que eu não devo me importar. Ninguém com quem eu me importe, se importa. Me esforço para acreditar nisso.

Jogo o casaco ensopado no chão. Não devia ter feito isso. Devia ter jogado num tanque, torcido e estendido. O chão deveria ser seco imediatamente. Não me importo mais com a tábua corrida. Lee olha de Neji para mim e ambos sentimos para onde a crescente agitação dele pretende ir.

— Tudo bem — sou eu quem digo. — Ele sabe.

Lee me encara. Eu devia ter sorrido. Ao menos fingido. Não. Quebraria minha personagem, soaria mais estranho. O olhar de Lee é uma investigação. Ele não é idiota, sente um clima esquisito, provavelmente minha aura. Neji observa de forma deslavada. Não é distante, nem passional. É um degrau acima de nós. É neutro, mas ao contrário de mim, honesto. Eu engulo a irritação, caminho até a sala de jantar, puxo uma cadeira e me sento. Quando Lee me alcança e abre a boca, sei que virá um protesto.

— Eu sei. Tenho que trocar de roupa e me secar. Me dá só um segundo para ver se o remédio está fazendo efeito.

Abaixo a cabeça para conferir se o aparelho de pressão sobreviveu à chuva. Suspiro um palavrão. É lógico que não. Arranco a algema e jogo, com menos delicadeza que o previsto, no tampo da mesa.

— Onde você deixou suas coisas? — pergunto.

Lee me olha com franqueza. Jamais conheci alguém mais expressivo que o Rock Lee. Cinco meses de reality show e toda a enrolação antes disso. Uma luta desastrosa e uma transa irresponsável no meio do caminho. O homem está escolado. Ele sabe quando estou esquivando. E odeia isso.

Dessa vez, não explode. Põe uma mão no meu ombro. É condescendente. É assim que vai ser daqui para frente? Ignoro a necessidade de terapia, deixo o peso de sua palma me confortar. Ele pegou a mesma chuva que eu e parece quente. Talvez seja impressão minha, parte de como eu o vejo.

— Está tudo bem — digo outra vez. — Estou me sentindo melhor. Só preciso dizer isso ao meu médico.

— Ah... — ele expira um pouco de alívio. — Você falou com um médico. O que ele disse?

— Quer que eu volte. Está tentando falar com o meu pai, ele fez uma pausa aqui perto, mas não está atendendo. Eu só tenho que abaixar a pressão e manter assim até lá.

Foi um resumo pobre. Me sinto mal porque Lee não demonstra perceber. Como poderia? Ele está nesta situação há poucas horas. Pelo que sei, ninguém próximo a ele teve um bebê e, biologicamente falando, Lee é filho único.

Ele tem se preocupado comigo esse tempo todo, me ver daquele jeito na mata com certeza foi assustador. É muita coisa para assimilar, se está atrasado, a culpa é minha. Quero ir com calma, Lee merece isso. Estou pronto para dizer que ele acabou de chegar, precisa descansar e não tem que se sentir pressionado a nada.

como sobreviver ao fim de ano [GAALEE]Onde histórias criam vida. Descubra agora