Capítulo especial || Rasa's pov || PARTE 2

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— Seu filho da puta, arrombado!

— Era puta, mas era boa pessoa.

Nori desliga. Não me iludo, não é uma boa notícia. Estou totalmente preparado para a chamada de vídeo quando ela vem.

É grave. Nori quer olhar nos meus olhos, quer que eu veja os dela.

É gravíssimo.

Vejo o cansaço e a preocupação em seu semblante por trás da fumaça, antes mesmo da fúria e da passagem do tempo. Ao longo desses anos, soterrei tão fundo a lembrança dela, que não posso evitar que uma pontada de dor atravesse meu peito.

Rever Nori é incômodo. Ela é um espelho das minhas escolhas, das que me foram tiradas, da minha idade.

Senti sua falta, Nori. Penso, não digo. Pela primeira vez, desde o dia em que minha filha nasceu, teremos uma conversa a sós.

Naquele dia, depois de ajudar Karura a se conectar com Temari, passando por mim no corredor em direção a saída, Nori me deu um sorriso e uma piscadinha.

— Me avise assim que souber da alta.

Ao invés de acolhimento, o comportamento mais típico da Nori, me despertou um arrepio na espinha.

— Você tem merda na cabeça? Por que os levou pra lá? — Nori, agora mais velha, mas ainda com o cabelo colorido, me força ao presente.

Também típico. Pelo visto, algumas coisas nunca mudam.

Abro a boca. Nenhum som sai.

O peso do olhar dela ameaça rachar a tela, não é preciso encarar de volta para sentir. Nori tem o olhar mais mordaz do que qualquer Uchiha. Sei o que há nas nuances desse olhar.

Espero que ela fale. Nori é melhor do que isso.

— Karura disse que vão passar o dia juntas.

— Sim — Nori olha para baixo. — Daqui a pouco.

Sua voz é pressa, é impaciência. Ela não vai me deixar afastar do ponto, mas quer me ver tentar.

— Falou com ela hoje?

— Sim.

Penso que talvez por isso, eu esteja sendo pouco xingado. É vinte e cinco de dezembro, tão cedo que chega a ser obsceno que estejamos acordados, Nori com certeza está de ressaca, está cansada, não só deste dia e, é claro, já xingou bastante minha esposa. E também já foi minimamente amaciada pelo seu potencial dramático (sei bem como é, Nori).

Mais importante que isso, Nori nos conhece.

Nori me conhece.

— Ela vai ficar bem por uma hora, Rasa. Ela está bem.

Os músculos faciais me traem, o canto dos meus lábios curva para cima. E não há absolutamente nenhuma alegria nisso.

Eu sei, mas preciso confirmar.

— Você se lembra?

Nori arregala os olhos por um segundo, engole em seco e assenta a expressão que eu costumava vê-la usar ao me derrotar nos júris simulados da faculdade.

Ela faz um aceno com a cabeça, apaga o filtro no cinzeiro e acende outro cigarro.

Sim.

Se Deus existe, ele ao menos sabe que amo Karura com todo meu coração. O Diabo com certeza sabe. Mas cá entre nós, me casei com a mulher mais fria e dissimulada da região. Como ela conseguiu conversar com Nori a noite inteira, ver essa expressão em seu rosto e continuar deixando-a no escuro? E não é como se houvesse a menor sombra de dúvida do quanto Karura ama a Nori.

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⏰ Última atualização: Jun 27 ⏰

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