— Seu filho da puta, arrombado!
— Era puta, mas era boa pessoa.
Nori desliga. Não me iludo, não é uma boa notícia. Estou totalmente preparado para a chamada de vídeo quando ela vem.
É grave. Nori quer olhar nos meus olhos, quer que eu veja os dela.
É gravíssimo.
Vejo o cansaço e a preocupação em seu semblante por trás da fumaça, antes mesmo da fúria e da passagem do tempo. Ao longo desses anos, soterrei tão fundo a lembrança dela, que não posso evitar que uma pontada de dor atravesse meu peito.
Rever Nori é incômodo. Ela é um espelho das minhas escolhas, das que me foram tiradas, da minha idade.
Senti sua falta, Nori. Penso, não digo. Pela primeira vez, desde o dia em que minha filha nasceu, teremos uma conversa a sós.
Naquele dia, depois de ajudar Karura a se conectar com Temari, passando por mim no corredor em direção a saída, Nori me deu um sorriso e uma piscadinha.
— Me avise assim que souber da alta.
Ao invés de acolhimento, o comportamento mais típico da Nori, me despertou um arrepio na espinha.
— Você tem merda na cabeça? Por que os levou pra lá? — Nori, agora mais velha, mas ainda com o cabelo colorido, me força ao presente.
Também típico. Pelo visto, algumas coisas nunca mudam.
Abro a boca. Nenhum som sai.
O peso do olhar dela ameaça rachar a tela, não é preciso encarar de volta para sentir. Nori tem o olhar mais mordaz do que qualquer Uchiha. Sei o que há nas nuances desse olhar.
Espero que ela fale. Nori é melhor do que isso.
— Karura disse que vão passar o dia juntas.
— Sim — Nori olha para baixo. — Daqui a pouco.
Sua voz é pressa, é impaciência. Ela não vai me deixar afastar do ponto, mas quer me ver tentar.
— Falou com ela hoje?
— Sim.
Penso que talvez por isso, eu esteja sendo pouco xingado. É vinte e cinco de dezembro, tão cedo que chega a ser obsceno que estejamos acordados, Nori com certeza está de ressaca, está cansada, não só deste dia e, é claro, já xingou bastante minha esposa. E também já foi minimamente amaciada pelo seu potencial dramático (sei bem como é, Nori).
Mais importante que isso, Nori nos conhece.
Nori me conhece.
— Ela vai ficar bem por uma hora, Rasa. Ela está bem.
Os músculos faciais me traem, o canto dos meus lábios curva para cima. E não há absolutamente nenhuma alegria nisso.
Eu sei, mas preciso confirmar.
— Você se lembra?
Nori arregala os olhos por um segundo, engole em seco e assenta a expressão que eu costumava vê-la usar ao me derrotar nos júris simulados da faculdade.
Ela faz um aceno com a cabeça, apaga o filtro no cinzeiro e acende outro cigarro.
Sim.
Se Deus existe, ele ao menos sabe que amo Karura com todo meu coração. O Diabo com certeza sabe. Mas cá entre nós, me casei com a mulher mais fria e dissimulada da região. Como ela conseguiu conversar com Nori a noite inteira, ver essa expressão em seu rosto e continuar deixando-a no escuro? E não é como se houvesse a menor sombra de dúvida do quanto Karura ama a Nori.
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como sobreviver ao fim de ano [GAALEE]
FanfictionGaara achou que seus problemas pessoais fossem amenizar no fim de ano. Passar a virada num casarão com os amigos, dar uma notícia importante ao homem que amava. Pelo menos teria uma perspectiva para o futuro, Lee não o deixaria na mão. O que poderia...