Capítulo 14 - Antônio

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O olhar da Marina muda completamente! Realmente não sei o que esperar sobre essa visita.

— Eu não sei do paradeiro do Afonso — começa a falar, andando pelo quarto lentamente. — Mas eu descobri algumas coisas que podem ser bastante relevantes.

— Como?

— O Afonso foi um filho da puta comigo! Ele me usou, além de ter entrado na minha mente de uma maneira irreversível. E não pense que estou fingindo estar doente, pois não estou. Durante todo o tempo, Afonso me tratou como uma pessoa que jamais iria contra as suas regras.

— O que exatamente aconteceu, Marina?

— O Afonso é um manipulador nato, ele se aproveita das fraquezas das suas vítimas para entrar na mente delas e conseguir o que quer. No meu caso ele conseguiu o que queria porque ele fingiu ser tudo o que eu precisava. Durante um tempo ele foi meu apoio, minha base, meu único ponto de referência e a única pessoa que me apoiaria incondicionalmente e, com isso, fiquei cega e acabei acreditando nas mentiras dele.

— Mas não era assim o tempo todo, estou certo?

— Sim. Tinha alguns momentos em que eu parava e ficava me perguntando o que estava acontecendo, mas logo em seguida eu voltava a acreditar nas mentiras dele. Acreditei quando ele disse que o Gustavo estava roubando a empresa e precisava ser colocado na cadeia e foi por isso que contratei a Marcela.

— Você sabia o real motivo?

— Não, ele só dizia que o Gustavo merecia pagar por tirar de mim o que era meu por direito, assim como meu pai deveria pagar também por nunca ter me dado amor de verdade e sempre ser um machista escroto que não acreditava no meu potencial.

— Você é uma vítima igual todos os outros, Marina.

— Quanto a isso eu não sei te dizer com exatidão de que lado eles estão e nem se fui cúmplice ou se fui vítima. — Ela suspira e volta a se sentar na poltrona. — Mas você está aqui pelo caso de tráfico de órgãos.

— O que você sabe?

— O Afonso trabalha com isso desde antes de se casar com a Patrícia.

— Antes?

— Sim, as coisas eram mais escondidas, diga-se de passagem. Ele apenas coordenava como tudo iria acontecer, mas ele tinha pessoas que trabalhavam para ele em todas as etapas. Ele nunca colocou a mão no negócio em si, apenas no dinheiro.

— Você pode provar o que diz? — pergunto e ela sorri de lado, como se soubesse que eu iria perguntar isso.

Marina leva a mão até o pescoço e tira o colar de prata que estava usando.

— Antes de tudo explodir e o Afonso ser considerado um fugitivo da polícia, eu acessei o computador pessoal dele e consegui passar vários arquivos criptografados para esse pendrive.

Ela me entrega o colar.

— Você invadiu o sistema do Afonso?

— Ele nunca iria imaginar que eu faria isso! — fala e dá de ombros. — Eu não tenho mais nada a perder, delegado. Agora, tudo que eu posso fazer é ajudar ao máximo a colocar aquele bandido na cadeia.

— O que eu vou encontrar nesses arquivos? — pergunto.

— Boa parte do sistema do mercado negro de vendas de órgãos controlado pelo Afonso. Infelizmente não consegui passar todos os dados, mas acho que o que tem aí vai te ajudar.

Guardo o pendrive no bolso da calça e me coloco de pé.

— Marina, eu realmente espero que você se recupere.

Meu Delegado Envolvente - Livro 6Onde histórias criam vida. Descubra agora