Capítulo XIII: Diz-se no lugar em que aparecem as assombrações

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E eu desistiria da eternidade para te tocar

Porque eu sei que de alguma forma você me entende

Você é o mais próximo que estarei do paraíso

E eu não quero ir para casa agora

E eu não quero que o mundo me veja

Porque eu não acho que eles entenderiam

Quando tudo é feito para ser quebrado

Eu só quero que você saiba quem sou

Íris - Goo Goo Dolls


Londres, 1892

Zayn só voltou a Bradford um ano depois que Jane partiu.

Por nada além de ter mantido a casa em Bradford pelo máximo de tempo que pôde, até seu pai ir pessoalmente bater na porta com uma expressão aflita ao ver o estado do filho, Zayn era como um fantasma agora.

— Vim te levar pra casa. E não saio daqui sem você. — Robert disse a porta. Então Zayn voltou com ele. Não era como se Jane fosse aparecer de novo depois de tantos meses.

Mas por um ano Zayn ficou lá, atento a cada pessoa que passava na rua, a cada barulho que surgia, porque poderia ser ela voltando, mas nunca era. Ele ficou mesmo quando os dias se transformaram em semanas, e as semanas se transformaram em meses, e os meses se transformaram em um ano porque, se por algum motivo, Jane mudasse de ideia sobre o que tinha feito, ele estaria exatamente onde ela o tinha deixado.

Mas nesse um ano ele não conseguiu sair da casa, seria como aceitar que o que tinham tinha ficado para trás e ela tinha mesmo ido embora, mas aquilo era difícil demais. Ele sentiu o cheiro dela nos travesseiros no início, mas começou a se dissipar com o tempo e aquilo o deixou desesperado de tal forma que passou a chamar por ela enquanto dormia, correndo atrás de Jane nos sonhos. Nada adiantou.

E ele ia à igreja buscar alguma coisa que pudesse ajudar, algo que fizesse sentido, mas não havia nada para ele em lugar nenhum.

— Faço qualquer coisa. — Ele tinha dito ao padre Henry de joelhos na frente do altar. — Faço qualquer coisa, apenas... apenas faça isso parar, por favor. — Ele pedia, mas isso quando era garoto, agora já fazia mais de uma década.

— Ah, filho — O padre colocou a mão pesada sobre o ombro de Zayn, olhando o jovem completamente desolado mesmo depois de semanas, meses. — Não há nada além do próprio tempo para curar um coração partido.

— Não é só o coração. — Zayn disse com desespero. — Meu corpo todo dói.

O padre Henry pressionou os lábios, já tinha levado Zayn para dentro muitas vezes e servido xícaras e mais xícaras de chá quente enquanto o garoto parecia desolado.

— Meus ossos, minha pele. — Zayn continuou enquanto era levado para a cozinha da igreja. — É como se eu fosse morrer.

— Não morremos de amor.

Zayn jogou a carta de Jane na lareira antes de partir, enterrou o pente de pérolas que ela tinha deixado para trás embaixo de um piso solto de madeira e não levou nada além de suas próprias coisas, como se o fogo pudesse consumir as palavras gravadas na mente dele também, como se enterrar alguma coisa dela significasse apagar sua lembrança da mente dele. Nos seus piores momentos ele se arrependia, poderia ter levado um vestido, uma fita de cabelo, ao menos teria alguma lembrança dela, nos melhores, ele sabia que deixar tudo para trás tinha sido o melhor, ele não merecia passar o resto da vida com partes dela se não pudesse ter Jane por inteiro.

Against The Time | Zayn MalikOnde histórias criam vida. Descubra agora