19. Decisões

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Junho de 1821 – Grécia – Parga

— Nossa, que dor de cabeça! 

Abri os olhos com dificuldade por causa da claridade, parecia que um caminhão tinha passado por cima de mim. Sentei na cama me sentindo enjoada, coloquei meu cabelo para trás. Porque eu tinha dormido de roupa? Na verdade, eu não conseguia nem lembrar em como tinha voltado para casa!

— Docinho, está acordada? — perguntou Tasos batendo na porta.

— Estou, entra Tatá.

Ele entrou e me olhou com um sorrisinho. Tasos estava com o cabelo úmido solto, o cavanhaque bem feito, olhos verdes intensos e bem vestido.

— Pela sua cara Senhorita, a ressaca deve estar brava.

— E pela sua, você está adorando me ver assim.

— Não vou dizer que eu avisei que você ficaria assim bebendo desenfreadamente do jeito que você estava, Glykiá.

— Sinceramente não me lembro muito bem de ontem a noite.

— As vezes é melhor não lembrar. — disse ele abrindo a janela.

Fechei um pouco os olhos.

— Tatá, o que aconteceu ontem? — perguntei preocupada.

Ele se sentou na cadeira ao lado da minha cama, todo relaxado, me olhando com um brilho nos olhos.

— A Senhorita quer mesmo saber?

— Ah, Tasos!

— Bom Docinho... você dançou, chorou, xingou a Chrisoula e meu primo. Bebeu mais e ameaçou dar uma surra nele, e nela quando ela ganhasse o bebe. Subiu no palco com outras mulheres e dançou... tive que afastar alguns homens que queriam se aproveitar da Senhorita, e também afastei algumas mulheres... e depois você apagou sentada em uma cadeira debruçada sobre a mesa.

— Nossa!

— Ainda não acabou, na volta a Senhorita veio vomitando pelo caminho, reclamando sobre vida e cantando umas músicas deprimentes com um ritmo que eu não conheço.

— Que vergonha! Me desculpe Tatá, por todo trabalho que eu dei!

— Não foi nada, Docinho. Você estava precisando extravasar.

Fazia tempo que eu não chegava ao fundo do poço!

— Me diz uma coisa, Dimitri vai ser mesmo pai? Ou tudo foi um pesadelo? — perguntei para ter certeza.

— Eu sinto muito Glykiá, mas é verdade. Chrisoula está grávida.

Respirei fundo e soltei a respiração. Meu corpo estava pesado e eu sentia vontade de chorar. Minha alma estava triste e meu coração doía.

— É melhor eu aceitar de vez essa situação.

— E seu ombro está melhor?

— Ainda dói um pouco. Eu preciso trocar o curativo...

— Pode deixar que eu faço isso.

Ele se levantou, foi até a cômoda, pegou a jarra e despejou a água na bacia. Também pegou tecidos limpos e a pomada. Se sentou ao meu lado na cama, tirou a tipoia do meu braço e começou a desabotoar a minha camisa.

— O que foi, Docinho? Seu coração está batendo acelerado.

— Não é sempre que tenho alguém tirando a minha camisa.

Ele abaixou um pouco a camisa.

— A Senhorita não tem porque não quer.

Eu ri.

Koúkla Mou - Livro 4 - Encontros e DesencontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora