23. Disfarce Perfeito

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Junho de 1821 – Grécia – Karpenissi

Acordei não querendo acordar. O dia já tinha amanhecido, o quarto estava claro e meus olhos doíam quando tentei abri-los. Deveriam estar inchados de tanto que chorei. Estava deitada na cama, coberta e encolhida. Não lembrava de ter ido para a cama. Senti um peso em cima de mim e vi uma mão segurando a minha e encostada na minha barriga, e um calor reconfortante atrás do meu corpo.

O cheiro daquele homem eu reconheceria em qualquer lugar. A presença dele tomava conta de todo o ambiente, me deixando segura e completa. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu as deixei caírem... Me sentia triste por perder o nosso filho... talvez fosse melhor assim.

Xýpnises, agápi mou (acordou, meu amor)? — perguntou Dimitri com a voz rouca e triste.

Limpei as lágrimas.

— Nem vou perguntar como você veio parar aqui.

— Não consigo ficar longe de você, moça. — disse ele me abraçando apertado.

— Pensei que depois de ontem íamos demorar para nos ver.

Me virei para ele e isso foi um erro. Meu coração apertou ainda mais.

Dimitri estava nu da cintura para cima mostrando seu belo peito forte. Seus olhos azuis estavam tristes e com olheiras, a barba por fazer, e o cabelo dourado curto, bagunçado e mesmo assim ele parecia um Deus Grego.

Ele passou a mão pelo meu rosto afastando meus cabelos.

— Tudo que te falei ontem, eu sinto muito, Koúkla. Me perdoe, por favor. Eu só não quero te perder!

— Eu sei, Baby. Não tenho nada que perdoar, você só estava preocupado.

— Não gosto de discutir com você, Agnes. Meu coração fica pesado, eu fico triste e angustiado...

— Também me sinto assim.

— Eu entendo que você teve que se virar sozinha desde cedo. Que não teve ninguém para cuidar de você, mas eu estou aqui.

— Mas não era para você estar aqui. Você não é meu.

— Eu sempre serei seu, assim como você é minha!

— Mas a realidade é bem diferente, Baby. E você deveria estar com sua noiva e seu filho.

— Eu sei, só que meu coração está aqui, Koúkla.

— Você é um filho da mãe por me dizer essas coisas!

— Eu queria dizer bem mais... fazer mais...

Ele beijou minha boca e eu o beijei de volta. Esses lábios... me faziam perder o pouco juízo que ainda me restavam... me afastei dele e levantei da cama. A vontade que eu tinha de chorar e cair em seus braços e desabafar era grande!

Abri meu guarda roupa, peguei meu roupão e o vesti. Me virei e olhei para ele, que continuava deitado com a postura relaxada e apoiado no seu braço me olhando de volta.

— E os rapazes estão bem?

— Todos estão bem. Mas por enquanto permanecerão escondidos. Tem muitos soldados turcos à procura deles.

— Não era para você também estar escondido?

— E estou. Me diz o que aconteceu para a Senhorita sangrar daquele jeito.

Encará-lo era difícil, ainda mais quando eu iria mentir.

— Creio que eu não preciso explicar o ciclo menstrual de uma mulher.

Koúkla Mou - Livro 4 - Encontros e DesencontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora