Pietro Barone Moretti
Senti as paredes da sala se tornarem finas quando o homem preso nas correntes gritou.
Alguns dos soldados que estavam presentes torceram os rostos ao ver Elisa Hartmann cegar o homem com as próprias mãos, enfiando os dedos com força em seus olhos até o sangue começar a escorrer de uma forma dolorosa e brutal.
Ao meu lado, Luke Hartmann parecia mais que empolgado por ver a esposa destruir a vida de um dos rebeldes traidores que eu capturei.
Já faz dois meses desde que Oliver ordenou que eu viesse até a Alemanha retribuir o favor que eles nos fizeram ao deixar seu país e seus negócios para nos ajudar contra Enrico, e como estamos num momento de tensão com todas as organizações criminosas do mundo, quanto menos inimigos e mais aliados tivermos, melhor para nós.
Então fiz o que faço de melhor, cacei por todo país cada um dos inimigos dos Hartmann e os trouxe vivos para serem julgados diante do conselho Alemão. Foi prazeroso ver o desespero em seus rostos ao saberem que morreriam das formas mais lentas possíveis pelas mãos da mulher a quem eles ousaram trair e desafiar.
– Sua esposa é bastante sanguinária. – falei, vendo Elisa agora cortar em pedaços com um facão o corpo do homem.
– Sim, esse é um dos charmes dela. – Concordou Luke, sem desviar a atenção do que acontecia a sua frente.
– Esse homem era o último nome da lista que você me deu, o que significa que meu trabalho aqui está encerrado.
– Sim, está. Sou grato por ter se livrado deles para mim, isso vai me dar uma paz relativa, pelo menos por alguns meses. Vai voltar para Londres?
– Ainda não, tenho algumas outras questões para resolver na cidade nos próximos dias, e não pretendo voltar à Londres. Assim que resolver tudo aqui vou para Veneza, minha casa.
– Toda sua família está em Londres e você vai deixá-los sozinhos? – indagou o chefe alemão com um certo tom de julgamento.
– Isso não é da sua conta. – Respondi rispidamente.
– Você é um babaca, sabia?
– Já me chamaram de coisas muito pior, Hartmann.
– Vai pelo menos se dar ao trabalho de avisá-los que não vai para Londres? Eles têm que saber disso, não acha?
Revirei os olhos com tédio.
– Escute, nós trabalhamos bem juntos nesses últimos dois meses capturando todos esses desgraçados e nos divertindo silenciosamente ao ver sua esposa destroçá-los, mas se atenha as nossas missões e pare de querer ser meu amigo e me dar conselhos. Eu não pedi por isso e não preciso disso.
– Estou tentando lhe ajudar, seu idiota. – Rebateu Luke. – As coisas não são mais como eram antes, e você não é mais o único Subchefe, ou já esqueceu que agora tem duas máfias para comandar e tem alguém com quem deveria conversar a respeito?
– E por que infernos isso é da sua conta? – questionei.
– Porque eu quero ajudar, seu imprestável. Eu acabei de falar isso!
– Não preciso da sua ajuda, Hartmann.
– Unglücklicher Bastard! – arqueei a sobrancelha.
– Você me xingou em alemão?
– Pode ter certeza. – disse o chefe.
– Bastardo infelice. – falei, devolvendo o insulto que eu entendi claramente. Alemão é uma das 6 línguas que falo.
– Você sabe que estou certo. – Insistiu ele. – Por que não admite isso e se poupa da briga que vai causar a sua não ida à Londres?
– Você não foi tão irritante assim nos dois meses que passei aqui. – Constatei. – O que infernos está acontecendo?
– Eu não sei, talvez se você falar com Anelise ou com Oliver eles lhes expliquem algo, já que são seus Capos e são a quem você deve lealdade.
– Me poupe dessa baboseira. O que você sabe que eu não sei?
– Isso não é da sua conta. – respondeu ele ironicamente. Apertei os punhos com força.
– Miserabile bastardo. – Grunhi com raiva.
Eu estava prestes a continuar xingando-o e talvez até pensando em dar um soco na cara dele quando um pigarro irritado nos chamou atenção.
Elisa estava com a sobrancelha arqueada encarando a mim e ao seu marido, mas não havia nada de cordial em seu olhar, pelo contrário, ela parecia possessa por ódio e raiva. Isso explica o porquê ela e Anelise se deram tão bem. Uma maluca sanguinária e controladora conhece a outra.
– Há algo que o Subchefe italiano queira compartilhar com todos aqui já que está numa conversa tão empolgada? – questionou ela, sem um pingo de humor na voz.
– Não, de forma alguma. Peço desculpas por isso, Dame der Bosse (Senhora dos Chefes). – falei, tendo a decência e o senso de não argumentar contra Elisa.
– Ótimo, então cale a boca.
[...]
Tomei uma dose de Bourbon enquanto observava a neve cair. Estamos em pleno inverno europeu, o que significa que as temperaturas estão muito mais baixas que de costume, mas quando se é treinado para ser um Subchefe, o frio se torna um ótimo aliado contra os pensamentos conturbados.
Neste momento a temperatura está na casa dos 5° graus e qualquer pessoa em sã consciência está trancada dentro de casa em frente a uma lareira ou aquecedor, mas eu estou literalmente com as portas da varanda do quarto abertas, sentindo o frio gelado fazer meu corpo se resetar. Lucca sempre me chamou de louco por esse vício maluco de amar o frio, mas eu tenho tendências a ignorar a maioria das coisas que falam sobre mim.
Desde que Enrico foi capturado e morto, todos parecem ter seguido com suas vidas sem olhar para trás. Oliver se casou e está mais feliz do que jamais esteve, Lucca parece estar se adaptando bem a dividir as funções com Amélie Bennett, e Luigi está mais do que satisfeito em ser o executor particular de duas máfias. Cada um deles está olhando para o futuro do que podem se tornar, no entanto, eu ainda estou estagnado no tempo.
Sou conhecido como a Morte di Venezia, o mais temido assassino da máfia italiana, o filho de Giovani Moretti, o mais sanguinário e pretencioso Subchefe que a organização já teve. É minha obrigação deixar o legado mais sangrento que eu puder, matar quantos forem necessários, transformar os lugares por onde passo em poças com o sangue dos meus inimigos.
Esse é meu dever, a retribuição que devo a máfia. Por isso aceitei a missão de vir a Alemanha, porque assim eu poderia finalmente voltar a ser um assassino, sendo o que fui moldado para fazer, o que fui treinado desde os meus três anos para fazer. Matar. É nisso que sou bom, e apenas nisso.
Como Subchefe, em alguns momentos eu tive que agir como um burocrata e mediador, mas isso jamais funcionou para mim. Eu resolvia as coisas derramando o sangue de alguém, e foi por isso que me afastei muito da famiglia, preferi viajar o mundo caçando nossos inimigos ao deixar que eles vissem o que sou de verdade, o monstro que habita em mim e o que faço com aqueles que se metem no meu caminho.
A única pessoa que tem alguma noção disso é Tereza Moretti, que é como uma mãe para mim, e é por esse motivo que quase sempre ela está à frente das reuniões com o conselho e raramente permite que eu participe de algum interrogatório, porque eu me transformo de uma forma que nem eu mesmo me reconheço. Quando estou dessa forma eu não enxergo nada além de uma turva escura sobre meus olhos e a sede por matar e ferir.
O que Elisa fez ao desgraçado traidor hoje é apenas uma fração do que eu teria feito com ele, mas confesso que senti um imenso, enorme prazer em vê-la destroçá-lo pedaço por pedaço, músculo por músculo, osso por osso.
Isso é o que sou. Um homem que guarda dentro de si demônios que fariam até mesmo o inferno tremer.
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Boa semana a todos e até Sábado!
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Assassinos de Sangue
Fanfic"Não me importo em matar. O prazer da minha vida é fazer meus inimigos sentirem dor." Pietro Moretti é o homem mais misterioso e sombrio da máfia. Ele é conhecido como o Ceifador de Veneza, e todos temem até mesmo seu olhar. Treinado desde a infânci...