Capítulo 6 - Pietro

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Pietro Barone Moretti

Alguns soldados desviaram rapidamente o olhar quando atravessei a pé o jardim de rosas da casa de Oliver aqui em Veneza e onde vivi por vários anos.

Eu deveria estar indo ao médico nesse momento para ter certeza de que Luke Hartmann não quebrou nenhum osso do meu rosto, mas antes preciso ver alguém, a única pessoa nessa merda de mundo que consegue entender alguma parte de mim, mesmo que pequena.

Perdi as contas de quantas ligações eu fiz para ela nas últimas 24 horas, mas nenhuma foi atendida. O que é estranho, porque isso jamais acontecera em toda minha vida. Ela sempre atende minhas ligações.

Assim que entrei dentro de casa, senti o maravilhoso cheiro de morangos e fui guiado por meu estômago até a cozinha, onde eu sabia que ela estaria.

Quando pus os pés na cozinha, avistei Tereza Moretti mexendo uma panela no fogo, com o que eu tinha certeza ser sua maravilhosa geleia de morango, mas ela não estava só, porque ao lado dela, observando a receita atentamente, um garoto de cabelos ruivos e com algumas poucas sardas no rosto estava ao lado dela. James Miller, o futuro chefe do conselho inglês.

Não pude deixar de lembrar da mãe dele e de seu corpo pendurado pelo pescoço em Treviso. Essa é uma visão a qual eu nunca vou esquecer.

O garoto inglês foi o primeiro a notar minha presença, tocando no ombro de Tereza em seguida. Minha tia ergueu o olhar para mim e me deu um sorriso caloroso.

Ela desligou o fogo e se virou para James.

– Essa é uma boa hora para uma lição, preste bastante atenção no que vai acontecer. – Ordenou ela ao garoto, que acenou em confirmação.

Tereza veio até mim de braços abertos e eu mal podia conter a expectativa de senti-la tentando esmagar meus ossos com seus abraços de urso, mas a realidade foi bem diferente, porque assim que se aproximou o suficiente de mim, o sorriso dela morreu e minha tia me deu um gancho de direita tão forte que eu me desequilibrei por alguns segundos.

Em menos de 48 horas senti o gosto metálico do sangue na minha boca pela segunda vez. Que inferno!

– James, aprenda isso, jamais seja um idiota. – disse Tereza, como se esse fosse o ensinamento mais importante do mundo. – Porque se você for, um soco desses é o mínimo que você vai levar dos seus inimigos ao longo da vida. E outra coisa, viu como dei o gancho? Tem que direcionar sua força no braço, e não no punho. É assim que se quebra a mandíbula de alguém, a sorte do meu sobrinho imbecil é que eu não quero que ele vá para o hospital.

– Entendi, senhora Tereza. Não ser um idiota e usar o braço para dar impulso ao golpe. – Repetiu o garoto, entendendo perfeitamente o que fora dito.

– Perfetto! – exclamou minha tia, voltando a sorrir outra vez. – Agora, por favor, vá fazer suas lições de casa. Mais tarde continuaremos a confecção da torta.

Sem questionar as ordens da matriarca, James saiu correndo da cozinha, me deixando sozinho com minha agressora.

Passei a mão pelo maxilar algumas vezes e limpei o sangue remanescente em minha boca, que agora está doendo para um inferno.

Quando olhei Tereza outra vez, ela me encarava com raiva.

– Eu deveria arrancar suas bolas! – grunhiu ela.

– Zia, per favore... – tentei falar, mas fui interrompido.

– Non parlare, Pietro. – Tereza passou a mão sobre a têmpora e deu um longo suspiro. – Seu ragazzo idiota, o que você tem na cabeça?

Assassinos de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora