O olhar penetrante de seu pai, que atingia diretamente sua alma, pareceu não afetar muito o que pensava: "Como vim parar?" A pergunta que já se fez inúmeras e inúmeras vezes. Esta frase que o fez esquecer de tudo que aconteceu há segundos.
Colocou sua mão na testa, fechando os olhos. Tomava tempo para pensar do que podia dizer, não para inventar, apenas não tinha noção se era verdade ou se podia ser mesmo uma mentira.
— Pra falar a verdade... — Suspirou enquanto balançava a cabeça. — Diria que tenho a miníma ideia.
Réviz pareceu curioso com a resposta. O líder do terceiro nível conversou com a diretora antes de encontrá-la no orfanato presencialmente, fez questão de saber a razão dos três ex-órfãos estarem lá. Dependia apenas do Mark confirmar, não queria ter que investigar as memórias de mais ninguém...
O outro engoliu seco, viu seu pai sinalizar com a cabeça para continuar, então prosseguiu com receio:
— Minha lembrança mais antiga era quando estava brincando no jardim do orfanato quando criança, nem haviam pintado ainda. — Sua voz ficava mais lenta, tinha um peso muito emocional no que recordava. — Foi o mesmo dia em que perguntei para Maria sobre como cheguei, — Esboçou um ligeiro sorriso — eu tinha acabado de ver um filme dum cara que perseguiu uma jornada clichê para achar os pais e descobriu que era uma das pessoas mais importantes do planeta; esperava uma resposta à altura da minha mã... Maria, quero dizer.
O resto era somente silencioso, a voz do jovem, ainda que fosse reclusa com a nostalgia, dispersava no ambiente em alto bom som com o destaque que somete lá permanecia.
— Recebi uma resposta mais clichê ainda: "te deixaram na porta numa madrugada chuvosa". — Abaixou a cabeça, desapontado.
Depois de respirar fundo, insatisfeito até hoje com as expectativas quebradas, puxou do bolso de sua blusa um pano estranhamente comum. Estendeu ele sobre à mesa, deixando claro o símbolo que continha.
— E, nesse dia, ela me deixou encarregado deste paninho. Ela disse que veio junto a mim na porta, mas não acredito; só acho que ela disse isso pra me deixar melhor. — Deu de ombros. — Martía disse algo muito parecido com o relógio do Will, deve ter sido combinado.
Réviz relaxou ligeiramente. De fato, era o que a diretora havia dito sobre a mesma pergunta. Ele colocou as mãos entrelaçadas na frente do nariz e olhou bem para seu filho. Queria descobrir a razão específica dele ter o controle na energia — não descartava a possibilidade dele estar conectado com responsáveis do desaparecimento de sua amada.
O lugar inteiro começou a fazer barulho, a mesa encurtou a distância entre os dois — deixou a impressão que a sala ao redor ficou menor —, e o jovem foi lançado para frente quase acertando a cabeça se não fosse pela força da cadeira que o segurava.
Não tinha sossego. No momento em que as coisas pareciam se acalmar, as coisas todas voltavam.
— Muito bem — disse Réviz, em tom seco como se não aceitasse. — O que tem visto nos vislumbres?
Mais dúvidas vinham na cabeça. Estava com a noção de que esses "vislumbres" eram parte do pacote ultra especial de edição limitada de "usuário da energia". Mark inclou a cabeça, captando somente parte da ídeia.
— Mas a gente não tá vendo a mesma coisa? A Luri também vê isso, não é?
Mais uma vez, sem respostas diretas. A visão de um adulto que parecia não dar a mínima para ele permanecia constantemente, sentia desconforto por estar lá daquela maneira tão horrível. Relaxou os ombros, suspirando. Suspiros e suspiros, era o que definia o garoto. "Agora ele acha que EU estou escondendo algo?"
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Pôr do sol (Rascunho do limbo)
ActionEm um mundo misterioso separado através de uma antiga e esquecida guerra entre o leste e oeste por quatro guerreiros puros, a energia da criação, que podia dar habilidades que fizeram parte da concepção do universo, não estava mais dormente nos sere...