Capítulo 2: Amanhecer dos Sinos

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Mark teve seus pensamentos interrompidos pela aparição surpresa de seu irmão.

— Calma, Will, acabei de acordar... Pega leve aí — disse enquanto esfregava os olhos.

— Eu sei, eu sei, é que tô nervoso porque tenho aquela prova matemática hoje, eu não vou bem na matéria... FERROU! — continuou Will, enquanto esfregava as mãos nos cabelos ao tentar se acalmar.

— Relaxa caramba! Te ajudei a estudar, e você sabe sim a matéria, então me deixa terminar de acordar que converso com você! — exclamou Mark, enquanto procurava seu uniforme.

— Tá bom, tá bom... — concluiu Will, antes de fechar a porta.

Will era como um irmão mais novo para o Mark — apesar ser mais velho. Havia chegado ao orfanato um ano depois de Mark, e os dois estavam numa época em que existiam poucas crianças no orfanato, mas eram um dos únicos que não foram adotados. Até que, enfim, chegaram ao ensino médio. Eles viram inúmeros amigos que entraram e saíram pelas portas da frente do orfanato, restaram somente as memórias em suas mentes, já que, as crianças mais novas iriam sempre esquecer dos dois, uma hora ou outra, não existia a possibilidade de qualquer visita, porém, ao contrário deles, não as esqueceriam.



Mark se pôs a abrir a janela, que existia atrás de sua cama, era pequena, mas cabia o suficiente para que sua cabeça pudesse passar.

Sempre vislumbrava algumas memórias, enquanto via através da janela em seu "quarto". Crianças que brincavam na rua pela manhã, sempre lembrava daquele dia, o mesmo dia onde fizera uma promessa.

"Will? O que tá fazendo aqui no jardim?", lembrava como se tivesse a observar as memórias, ali mesmo da janela, que nelas, ainda era uma criança.

Will chorava, sentado na calçada do lado de fora do orfanato, lágrimas saiam como cachoeira, mas as segurava para não soltar um único som...

"Um dia... um dia, você terá que... ir embora. Eu vou acabar sozinho".

"Ei, ei! Não fala isso porque não vou te deixar sozinho fácil assim".

Apesar de ser mais velho, cuidava dele quando não estavam sobre os olhares das empregadas.

Ainda se lembrava de tudo.

"Você não está errado, um dia... talvez eu tenha que deixar esse lugar, mas tentarei ficar junto você! E farei o possível para você ficar comigo".

Desde criança tinha medo das palavras "sempre" e "nunca", não por culpa de alguém, mas por saber o significado e o peso delas. Sabia que algo permanente não existia, o máximo que sua lógica lhe dizia, era que algo sempre tendia a acabar antes se concretizar.

As pessoas podiam dizer coisas como, "Nunca te deixarei", somente isso, já seria uma afronta a própria definição da vida, onde tudo teria um fim. No final, seria o mesmo que dizer, "Estarei o quanto eu conseguir com você", para Mark, isso era muito melhor, a pessoa não ficaria triste quando aquilo, eventualmente, não acontecer.

Então, observava o próprio "Mark" das lembranças, até que, o viu soltar um sorriso que varreu toda a tristeza de seu irmão, junto disso, as nuvens que ocultavam o sol recuaram e fizeram o cabelo branco brilhar ainda mais fortes, o que fez refletir sobre o sorriso de Mark.

"Vamos voltar lá para dentro, eu não vou contar para elas".

"Tá bom...".

Lembrava de algumas de suas memórias, enquanto novamente, abriu o armário que continha o espelho, viu uma foto que tinha junto de Maria, Martía e Will. Era algo muito precioso para ele, já que, não tinha nenhuma informação sobre o seu passado.

Pôr do sol (Rascunho do limbo)Onde histórias criam vida. Descubra agora