Capítulo 25: Casca de Pedra

1 0 0
                                    

(Capítulo 49 na Vulcan)

⟪ Na noite passada ⟫

Réviz estava bastante preocupado, apoiado em uma enorme janela no último andar do prédio mais alto — no centro de toda a instalação. A sala estava muito quieta, até uma chuva forte atingir os vidros. Suspirou e afastou da janela, com o rosto abaixado. Olhava para toda a ODST, atentando a cada luz brilhante.

Agora, estava impaciente — e a chuva não ajudava nem um pouco.

Andou em direção a porta do centro, que estava destacada pelo seu tamanho e o grande símbolo. Quando quase a tocou, o elevador, bem mais atrás, abriu e revelou a moça de terno branco.

— Cara, por que você tá tão "assim"? — Apressou-se em direção a Réviz.

Ele retirou sua mão, olhou para ela com uma frieza penetrante, algo que não fez por muito tempo.

— Apenas prossigo com meu dever de líder. Relatarei meus planos ao...

— AH! CORTA ESSA! — levantou a voz enquanto apontou para seu colega. — Ai... desculpa.

A conversa dos dois era difícil. Luri passou o dia com os convidados, na esperança de aliviar o peso da responsabilidade que seu... amigo transmitia. Estava irritada e decepcionada.

— Vo-você finalmente achou aquele garoto após cruzar o segundo setor inteiro, não pode aliviar as coisas só um pouco?

Ele não a respondia, a encarava como se a julgasse. Não prestava resultado aos esforços de sua colega.

— Já fazem mais de dezoito anos, não precisa aguentar isso sozinho... Não precisa. Não precisa! — insistiu.

Foi em direção ao elevador, lentamente. Os passos da mulher ecoavam pelo local, destacavam ainda mais a angústia que ela sentia.

— Eu acredito fielmente que estas visões, sinais tão repentinos, e as pessoas que vejo podem me levar a descobrir o que... — Hesitou, mas ganhou força para continuar com os olhos fechados — aconteceu com a Quiral.

Ela parou de andar. Surpresa anormal tocou seus olhos, que brilhavam em branco. Soltou um singelo gemido com a mudança drástica da respiração. Ouvir palavras tão simples que não tocavam na missão, a deixavam feliz e, ao mesmo tempo, triste.

— Eu já disse, foi minha...

— Sua culpa? Sua culpa?! Luri! Entenda! Se eu tivesse usado minha energia na hora, não teriam a imobilizado, não teriam a levado.

Fazia muito tempo desde o último milésimo que Réviz deixou suas emoções tomarem conta de sua fala, sua colega se arrepiou com isso e se atentou diretamente para o rosto dele, entretanto abaixou a cabeça com o tom incomum tomado:

— A minha energia mudou completamente! O comportamento de... de... — Deu um passo — muita coisa mudou! A missão 117 foi apenas o pontapé inicial! Não entende?! Eu quero entender, quero entender o porquê a leva...

— Então, me diga o porquê parece que você está me evitando o tempo todo — sussurou.

— Não quero te envolver nisto, Luri.

— Não quer me envolver? Não quer? NÃO QUER?! — Andou para bem mais perto dele, apontou o dedo para o rosto dele, que via raiva ser devolvida com raiva. — Ela era muito mais que uma irmã para mim, não pode me negar a vontade de ajudá-lo! Não pode se esconder numa casca de pedra enquanto esconde seu verdadeiro objetivo! Paga de protetor, cuidador do bom-senso, mas está apenas se agarrando a um desejo egoísta... Ficou cego por vingança, dúvida e... — incapaz de aguentar, seus olhos brilhavam devido às lágrimas. — Não percebeu que virou outra pessoa, não percebeu que está trazendo aqueles dois jovens e, e uma... uma... criança com você para ainda mais perigo!

A moça, conhecida por ser extremamente sorridente, desabafava em rios de preocupação, um pesar de culpa que precisou aturar por quase duas décadas. Esfregava o rosto, soluçando com a ideia de que a pessoa que o manteve firme como parte da equipe do terceiro nível talvez nunca fosse retornar.

— Naquele dia, quando aquelas criaturas apareceram, parece que não levaram somente a minha irmã — Aguentou, com força, a sinceridade que jorrava de seu rosto em forma de água —, mas você também.

Réviz não sabia o que dizer, nunca a havia visto naquele estado. Luri deixou com que tudo guardado pudesse voar para fora se si.

Engoliu seco, não queria que isso durasse. Somente escutava mais dela:.

— Estamos na mesma geração dessa equipe, treinamos desde pequenos para carregar esse posto. Quer fingir que nada disso faz parte da sua busca? Tudo bem!

— A mensagem, a mesma mensagem que recebi naquele dia, foi para achar o "general Marcos", o comissário das chamas. Os vislumbres eram constantes, tornaram-se raros após um tempo. Depois que me aproximei de Mark, se tornaram mais frequentes novamente.

Ela apertou os dentes, não suportava a repetição da ideia de uma caça ao tesouro que tanto recitava, queria banir a palavra "vislumbres".

O líder segurou a mão da colega, que esfregava tanto os olhos. A encarou com um olhar determinado.

— Quiral foi a mulher mais importante para mim, e você foi a mulher mais importante para ela. Luri, quero encontrar a razão disso, a movimentação incomum da Estrela Sorridente, os sinais, aquela menina e o garoto são as coisas mais próximas que consegui.

A moça engoliu mais lágrimas e soluçava ainda mais, prestando atenção na fala — queria, do fundo do coração, que não fossem mais outra conversa de líder, queria apenas uma conversa de... amigo.

— Não suportaria a ideia de perdê-la também. Entretanto — Respirou fundo —, acho que... ter um "tank" e, agora, um suporte é uma ideia muito atraente nessa operação, Luri Epimoni.

Ajeitando seu terno incrivelmente branquinho, ela sorriu ligeiramente.

— Pelo menos — Soluçou, fazendo o nariz escorrer lentamente —, não nega que sou bom no jogo.

Réviz tinha uma missão a zelar e uma colega que não podia deixar. Se é da escolha dela, não tinha intenção de excluí-la à força, porém, ia garantir que ela não se machuque.

"Machucá-la... é machucar a Quiral".

— Retomando, preciso de sua ajuda para mostrar ao jovem do que ele não sabe. — Conferiu o olhar mais tranquilo dela voltar gradualmente. — Por favor, vá ao corredor principal na área dos laboratórios e configure a passagem para o campo. Preciso que faça sua demonstração de sempre.

— T-tá. — Foi para o elevador enquanto mexia com sua chuquinhas.

— Ordene para que ninguém ande próximo daquele lugar até tudo acabar.

Pouco antes da porta se fechar, Réviz completou, em tom mais alto:

— Lembre-se! Precisamos da confiança dele.

Naquele momento, somente o plano de Réviz e a imperdoável chuva eram notados na sala. Ele se virou para a entrada da sala mais importante do lugar, que tentou pouco antes. Observou as luzes e apertou a visão. Nojo e desprezo eram visíveis no ato de tentar abrir a entrada.

"Lidarei com ela depois", pensou, retomando a postura digna do líder do terceiro nível. Deixou à mostra um pequeno corredor com uma porta dourada no meio de dois guardas.

"Farei de tudo para descobrir o que fizeram com você, minha Quiral".

Pôr do sol (Rascunho do limbo)Onde histórias criam vida. Descubra agora