GENTEEEE, não esqueci disso aqui tá??
primeiramente queria agradecer quem ainda acompanha, esse livro fez parte de um dos momentos mais difíceis da minha vida, obrigado por todos vocês ainda permanecerem aqui!!!******
Me sentei em baixo de uma árvore – que por sinal era a mesma do dia que falei com Felipe. Precisava desabafar e falar com alguém, não estava me sentindo muito bem. Meu psicológico estava abalado e a única coisa que vinha em minha mente era às palavras da minha tia e seu rosto inconformado. Sem pensar duas vezes tirei meu celular do bolso e procurei o número de Zaia na agenda.
Com várias tentativas sem sucesso não estava mais afim de ficar insistindo, seu número caía na caixa postal mas deixei uma mensagem explicando tudo e onde eu estava. Quando ela ver tenho certeza que irá vim me encontrar.
Puxei um galho que estava quase caído e tirei uma folha amarelada e seca. Tirava toda a parte que havia, deixando só o graveto. Enquanto isso mil pensamentos viam a tona e só precisava conversar com alguém.
Naquele final de manhã estava tudo deserto, ninguém passava na rua e os mercadinhos não estavam movimentados.
Com o graveto da folha fiz rabiscos na grama e logo lembrei de Soraia, ela poderia vim me ajudar nesse momento melancólico, era estranho chamar ela sendo que a visão que eu tinha dela era totalmente diferente do quê a mesma passava.
Não queria ligar, então enviei uma mensagem pelo WhatsApp.
Coloquei o celular para baixo, encostando as minhas mãos no meu joelho com minhas pernas cruzadas. Fechei meus olhos para tentar sentir o ar daquele ambiente e tentar de certa forma esquecer tudo.
Meu celular vibrou e tomei um leve susto já que estava tentando me concentrar. Soraia assentiu meu pedido e disse que iria arranjar um jeito para vim até onde eu estava.
Fui encostando minha cabeça no tronco da árvore e coloquei as mãos em baixo da minha cabeça fazendo de travesseiro, uma parte de mim estava alegre por ter sido sincera com minha tia e não deixar que daqui em diante nenhum comentário me faça repensar sobre quem eu sou, e a outra está totalmente desabrigada e sem rumo na vida.
Senti umas batidinhas de leve em minhas costas e virei meu rosto mantendo meu corpo estático. Soraia estava alí, me vendo abatida e fraca, atrás de um ombro amigo e de uma palavra de consolo.
– o que houve meu anjo – sua voz era intensa e atemporal.
Ela se juntou a mim entrelaçando seus dedos aos meus, sentou em minha frente olhando fixamente para meus olhos, e pude perceber que os seus estavam vermelhos como se estivessem irritados.
– contei para minha tia sobre minha orientação – murmurei em completa frustração.
Senti sua mão leve tocando em meu rosto fazendo carícias com seu polegar, o silêncio era ensurdecedor e o único barulho audível era das folhas batendo entre si. Não queria parecer ser uma pobre coitada ou me fazer de vítima, só queria que ela me visse como alguém que precisa de um apoio nesse momento e falar, mesmo que não seja real, que irá ficar tudo bem.
– mas, isso não é bom? – Soraia indagou passando a mão na minha sobrancelha que provavelmente estava desajeitada, pelas vezes que esfreguei o rosto.
– deveria ser.
– essas coisas não são fácil para ser absorvidas, de um tempo para ela desconstruir a imagem que ela tem sobre o mundo LGBTQ – Soraia disse desentrelaçando seus dedos dos meus.
– tudo poderia ser fácil, como nos filmes. – desabafei.
– ei! Não se frustre, resolver isso agora seria uma verdadeira quimera, deixe às coisas fluírem. – diz ela pegando mais uma vez no meu rosto mantendo um contato visual extremamente acolhedor.
Se não existe essa expressão é a única que pude para decifrar o quanto ela estava me ajudando nesse momento.
Soraia afasta um pouco do meu corpo para que eu pudesse apoiar minha cabeça em seu colo. Olhando seu rosto e seus olhos no alto, pude perceber que por trás de uma pessoa grotesca e egocêntrica existia um ser humano que se importava comigo e que de alguma maneira estava demonstrando um afeto sincero.
– por que você está sendo tão amável sendo que sempre demonstrou ódio a todos?
Percebi que logo depois de minha pergunta ela não se sentiu tão confiante como aparentava e seu semblante mudou completamente.
– eu... – deu uma pausa e continuou – meu pai, ele me batia muito e também na minha mãe. Essa máscara que eu uso foi para tentar me defender de todos e me sentir superior, mas Leslie, eu sofro muito por lembrar tudo que minha mãe passou na mão dele.
Levantei ficando de costas para ela, mas me virei em seguida para encará-la.
– você não o denunciou? – indaguei.
– eu queria, mas fui fraca, eu sou fraca. As coisas acontecem e só me dou conta quando tudo acaba – sussurou ela em seco e continuou – não quero mais falar disso, vim aqui para lhe ajudar e não o contrário – deu um sorriso em seguida.
– meu Deus o que houve com você? Li sua mensagem agora e vim correndo – Zaia falou às pressas e só depois de uns segundos se deu conta que Soraia estava entre nós.
– o que ela faz aqui? – disse Zaia.
Fiquei com receio de contar para ela que eu e Soraia estava tendo uma relação um tanto que amigável, ou até mais que isso...
– calma! – falo à acalmando – ela não é quem pensávamos que era, depois explico tudo.
– sua amiga, ou melhor nossa amiga, está precisando de alguém para desabafar – Soraia fala mas Zaia da de ombros, não pelo que ela disse mas por ser ela quem está dizendo.
– como você está? – Zaia perguntou.
– agora estou bem – respondo e o silêncio toma conta do ambiente novamente.
Depois de uns minutos Zaia foi se enturmando melhor com Soraia e as duas até tinha esquecido que se odiavam, senti o apoio que elas estavam tendo comigo e que se importavam. Às vezes precisamos de um simples gesto de carinho para mudar completamente o nosso dia.
O sol foi desaparecendo aos poucos e era notável que estava anoitecendo, a companhia das duas me fizeram refletir que nenhuma carga é tão pesada quando você tem alguém do seu lado.
Zaia disse que precisava ir embora por quê ela tinha coisas para fazer em casa, eu entendia seu lado e como ela não era muito atenta, talvez não se deu conta que eu era imensamente grata por tudo que ela fez para mim no dia de hoje.
– preciso ir também – Soraia diz segurando meus braços.
– obrigada por tudo, sem vocês não conseguiria suportar isso – conclui dando um abraço forte e um beijo em sua buchecha pegando, não propositalmente uma ponta de seus lábios.
Fui caminhando em direção a minha casa e estava melhor psicologicamente, minha tia não tinha me expulsado então isso me dava total direito de voltar, só de pensar que tem pais que expulsam seus filhos de casa por causa da orientação dos mesmos, me dá um aperto enorme no coração.
Abri a porta e dou de cara com minha tia e um cara que estava sentado no sofá, isso era extremamente incomum. Minha tia não trazia rapazes para nossa casa.
– essa aqui – disse ela apontando o dedo literalmente em meu rosto – é minha sobrinha, o nome dele é Thom Leslie, meu namorado.
O aroma de álcool consumia toda a sala, ela estava meio abatida e parecia está bastante bêbada.
– boa noite linda – Thom tocou em meu braço e puxou até sua boca para beijá-lo, senti um arrepio logo em seguida. Seu olhar era estranho e seus olhos negros me faziam temer seu comportamento um tanto que atrevido.
Nem precisava pensar muito para chegar a conclusão que o motivo para minha tia ter enchido a cara, era pelo que falei logo cedo. Não queria ter mais um membro em casa e esse cara tinha um jeito esquisito de me olhar, ele aparentava ter uns 35 anos e definitivamente eu não aceitaria ele morando conosco.
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Não foi uma escolha
Ficção AdolescenteNo auge da adolescência, Leslie se vê encurralada em vários conflitos, essa história aborda de forma explícita o amadurecimento da menina de 17 anos, diante da sua orientação sexual.