9 - Mas, e se.

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Todos os sábados eram uma monotonia infernal. Sem aula, sem ânimo. Sem tudo. Literalmente.

Minha tia não trabalhava no hospital aos sábados, mas hoje ela foi para seu trabalho domiciliar. Então, a casa ficava toda só para mim, como na maioria das vezes. Por isso eu costumava fazer comidas deliciosas para comer enquanto assistia algum filme ou série. Só que hoje parecia que todo cansaço físico da semana estava acumulado em meu corpo.

Liguei o som no máximo para escutar minhas músicas favoritas, os vizinhos não curtiam muito.

Mas quem liga para os vizinhos.

Acho que eles só servem para incomodar e dar uma xícara de alguma coisa quando falta em nossas casas. Como minha tia não tinha muita intimidade com ninguém do bairro, ela nunca deixava faltar nada. E nem se tivesse ela nunca gostou de pedir nada, ela acha que as pessoas sempre ajudam querendo algo em troca.

Errada ela não estar. O ser humano nunca pensa no "e se fosse comigo", não generalizando mas a maioria são hipócritas e só querem saber do seu próprio bem estar.

Com o tempo não creio que isso irá mudar, estão se tornando mais vazios e sem amor.

As coisas só piora com o passar dos anos, é mãe matando filho, filho matando pai, homem matando esposa.

A real é que não era necessário a vida humana, destruímos tudo por onde passamos, ferimos os outros seja com comentários ou atos. Nós humanos somos uns tóxicos do caralho!

Estava eu com um pente na mão fazendo de microfone em cima do sofá, quando ouço o barulho estrépito da minha campainha tocar.

Não pensei muito para ir abrir a porta.

– você tá surda querida? Que barulho é esse? Não escutou seu celular tocando? – a voz de Zaia estava mais alterada do que o normal.

Gente, mas quem sabia que eles vinham me visitar em pleno sábado. Estava ali Zaia, Bruno e Felipe ao lado de fora.

– bem que poderiam ter me falado que vocês vinham. – falei jogando o pente em algum lugar da sala.

– nós até tentamos mas você não atendeu seu celular né. – Zaia respondeu.

Eu nem tinha me dado conta que esqueci meu celular em cima da minha cama enquanto tinha virado à Ariana grande na sala.

– tá, mas o que vinheram fazer aqui? –indaguei.

– seus amigos e seu namorado não podem mais lhe visitar? – disse Zaia.

Resolvi não responder, não tinha resposta para isso. Na verdade ela sempre me deixava encurralada em suas perguntas e eu nunca conseguia respondê-las.

– oi amor – Felipe me deu um beijo e eu convidei eles para entrarem, deixaram suas sandálias na porta e sentaram no sofá.

– nós vinhemos aqui por quê amanhã eu irei fazer uma festa de casal em minha casa.  – Bruno falou tomando a frente de Zaia.

Festa de casal? Mas quem diabos criou isso!

– ah não vou não, vocês sabem que minha tia não deixaria eu ficar a noite fora. – falei levantando do sofá com o olhar fixo em todos.

Bem, eu nunca fui a uma e não teria como saber se ela deixaria ou não.

– será que não é você que não quer ir? – outra vez Zaia e suas perguntas complexas.

Felipe jogou a almofada que havia no sofá em Bruno que rebateu.

– vou tentar convencer, mas já adianto que não irá ser nada fácil. – falei.

Será mesmo que não vai ser? uma festa de héteros e pegação total, tudo que minha tia quer para mim. Por quê para ela é assim héteros podem fazer de tudo, já homossexuais é nojento e falta de caráter.

Mesmo eu amando ela eu não passava a mão em sua cabeça, eu tentava ser democrática ao máximo com tudo e com todos, e suas atitudes as vezes não era nada empática.

– se você der um jeitinho da certo sim, agora temos que ir, quando ela chegar me liga para eu conversar com ela. – falou Zaia que foi em direção a porta junto com Bruno e saiu.

– por favor amor faz de tudo para irmos, quero me divertir com você, vai ser legal. – a voz de Felipe era meiga e atemporal.

Cheguei próximo dele, e fui aproximando seus lábios dos meus. Coloquei minhas mãos em seu cabelo liso, fazendo carícias enquanto beijava sua boca.

Eu não sei, mas com esse beijo eu estava começando a sentir alguma coisa por ele. Eu não sabia o que era mas eu gostava de sentir, ou quase isso, mas, e se...

– vou ver o que posso fazer – rebati olhando seus olhos azuis que brilhavam mais do que qualquer estrela que poderia haver no céu.

Deixei ele até a porta e fechei tudo.

Será que o que sinto é amor e eu tô deixando de ser lésbica, isso é possível? O que eu mais vejo são pessoas religiosas falando em cura gay.

Ou será que eu quero sentir isso e iludir eu mesma com vontades que eu queria ter. Eu só espero que esse final não seja doloroso para mim e nem para Felipe, ele é muito legal para sofrer. Nunca eu me perdoaria por magoar seus sentimentos dessa forma.

Próximo capítulo tem: FESTAA!!!


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