Somente dois dias depois que Nicholas, ainda sem ter visto a revista soube do que ocorria com o filho e a pianista.
Um dos trabalhadores e ajudadores de todo seu patrimônio o comunicou muito rapidamente. Apenas jogando sobre a mesa as páginas em que Louis estava com Aurora.
Sua reação ao ver tal coisa parecia ilegível, os olhos não diziam nada, assim como toda a expressão. Louis já no escritório do pai também não conseguia o ler, mesmo que estivessem sentados um de frente ao outro havia certos minutos.
O copo de whisky estava na mão direita de Nicholas. O segurava casualmente nas bordas superiores com a ponta dos dedos.
- Não me contou que estava conhecendo uma mulher... – Começou simples, com a voz pesada e até mesmo preguiçosa.
- Aurora Kalitch... pianista.
- E professora. – Louis completou.
- Professora... correto. E ela já sabe da matéria em que aparecem?
- Não sei se sabe ou não.
- E como acha que a moça irá reagir?
- Aurora é imprevisível, não tenho a mínima ideia.
- Mas se esteve se divertindo com você, uma figura pública, deveria saber que essas coisas podiam acontecer.
- As coisas com ela não são tão simples quanto parecem...
Ouve um curto período de silencio, em que se encaravam mutuamente, até que Nicholas começou a rir.
- Oh deus... para um pai esse momento não chega. Lembro de você pequeno brincando sozinho de um lado ao outro. É um homem agora, deve agir como um.
O sorriso imediatamente se apagou na ultima frase, fazendo com que Louis esperasse o pior, até que o egocentrismo de seu pai o pegasse desprevenido quando o homem se pôs a gargalhar mais uma vez.
Uma risada profunda e brincalhona.
- Você deve estar se perguntando se estou bravo, não é mesmo? Mas a vida é sua, já me disse isso varias e varias vezes desde que era garoto. Mas não faça coisas imedidas, nós ainda temos uma reputação e sabe disso. Além do mais, o que eu poderia fazer? Nada. E seu relacionamento com Aurora, creio que não atrapalhará em nada. Me diga Louis, gosta dela? Por favor! Sou seu pai, estava na hora dessas conversas.
- Gosto dela.
- Então, viva o amor! Não é isso que alguns falam? Traga- a aqui algum dia. Ficarei esperando para a conhecer. Uma grande amiga minha um dia me disse que nós devemos aproveitar a paixão, quando ainda a temos.
- Que amiga foi essa?
- Oh, eu espero que em algum dia a conheça, e que fiquem próximos!
Nicholas ergueu o copo e brindou sozinho antes de virar o ultimo gole da bebida pela boca, deixando Louis perplexo, mas aliviado.
Afinal, ao contrário do que pensava, seu pai não tentou o interromper de modo algum em se relacionar com Aurora, mas estaria a própria mulher preparada a interromper tudo?
Não tinha a mínima ideia e em seu íntimo não tinha vontade de saber.
Tinha medo.
Estranho o quanto temos medo com o que é verdadeiramente de valor.
Enquanto ele se perguntava ainda observando o pai em seu devaneio Aurora pintava uma parede do quarto de verde em tom pastel. Afastou sua cama de casal para que a colocasse depois, e a cabeceira quadrada de madeira clara desse o mais perfeito contraste.
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Almas
RomancePoderíamos definir Aurora Kalitch como uma mulher independente que vivia entre dois mundos, o dos ciganos e o dos gajos. Uma mulher que apesar de todo seu poder, não tinha controle algum sobre seu destino, não importava o quanto tentasse, suas linh...