Louis Green saiu do local de teatro primeiro que Aurora, que o observando ir apenas sorria e repassava a criação de uma melodia que já sabia as notas em mente, apenas a anotaria rapidamente e iria a pizzaria em que havia combinado de ir com a mãe e a melhor amiga.
Mas sentada na cadeira de madeira em uma das mesas mais afastadas do local, vendo Dolores e Rose rirem, sua mente estava vagando, apenas para a alegria de completar o recital e por Louis.
- Vamos, agora nos conte como foi com ele. – Roseane falou, bebendo mais um gole da taça de vinho. Já havia tomado duas.
- Como?
- Aurora, filha, nós sabemos, é melhor nos contar do que deixar que imaginemos coisas. – Dolores disse sorridente, também já havia tomado duas taças de vinho, mas ao contrário da amiga que era descarada naturalmente, sua mãe estava já a passar do ponto de leve embriaguez.
A pianista entrou em estado de desistência de tentar contornar a situação, ou mentir.
- Como sabem que fiquei com Louis, se disse que precisava resolver coisas inacabadas do recital?
- Acha que é boa, mas é uma péssima mentirosa.
As três se entreolharam e sorriram.
- Nós nos beijamos, foi somente isso.
A declaração veio com risos e leves grunhidos que Aurora não muito bem entendeu, a não ser como uma forma de contentamento pela situação.
- E como foi? É tão bom quanto bonito? – Perguntou a amiga, fazendo com que a cigana colocasse o cotovelo em cima da mesa e as mãos na testa.
- Oh Deus, são detalhes pessoais.
- Aurora está se fazendo de rogada, é sinal de que se apaixonou. – Provocou Roseane, antes de dizer tal frase nem mesmo a encarou com seriedade, mas logo que a verbalizou, tirou o sorriso dos lábios avermelhados e arregalou os olhos.
- Se apaixonou por ele, você se apaixonou por ele! Jurava que poderia ser só leve obsessão, mas está apaixonada, e não choveu! – Exclamou mais pra si do que pras outras duas mulheres na mesa, Dolores apenas a olhava.
- Eu... acredito que sim, mas é uma condição natural de qualquer ser humano.
- Não, nem todos! Acredite se quiser, mas acho que tem gente que nem gosta de outras gentes. Jurava que você era um desses. Um desses que tem espirito natural de idosos e não gosta de ninguém.
Aurora riu, mas o olhar de sua mãe permanecia impassível, daria qualquer coisa pra saber o que ela estava pensando. Em que sua mente vagava. Se entreolharam algumas vezes, e por mais que a garota conhecesse os três jeitos da mulher que a criara, as vezes sentia que havia uma muralha que protegia seus verdadeiros sentimentos, suas verdadeiras convicções, não de si própria, mas de outros.
Recorreram o jantar com esse assunto, mas indo e voltando com outros, falaram banalidades que pra elas eram comuns a cada encontro e como a casa de Rose era longe demais para que fosse embora assim tarde da noite, dormiu novamente na casa de Aurora, iria embora logo pela manhã.
Já dentro das paredes acolhedoras e quentes não conversaram muito, estavam tão cansadas que nada disseram mais do que "Boa noite".
Descansaram-se em quietude externa tão grande que quase foi capaz de silenciar o interior barulhento de cada uma, especialmente de Dolores.
Louis nem mesmo conseguiu dormir, estava tão elétrico, tão vivo.
São raras as vezes que sentimos o sangue correr por nosso corpo, são raras as vezes que nos sentimos vivos, por mais que a vida percorra em nós a cada instante, a cada pequeno momento, são pouquíssimas as vezes em que notamos essa centelha tão forte, por vezes, inúmeras pessoas desdenham de algo tão poderoso, Louis entendia isso agora, aproveitaria o momento em que se sentia vivo, como se pudesse voar e fazer tudo, sem restrições.
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Almas
RomancePoderíamos definir Aurora Kalitch como uma mulher independente que vivia entre dois mundos, o dos ciganos e o dos gajos. Uma mulher que apesar de todo seu poder, não tinha controle algum sobre seu destino, não importava o quanto tentasse, suas linh...