Capítulo 4 🍀

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Ela esperava sua mãe na calçada, segurava seus trabalhos e anotações sobre o peito, a tarde já estava caindo e Aurora olhava o anel de Rubi que tinha no dedo indicador.

"É para proteção criança e vai te ajudar em seu trabalho, vai ter sempre o dom da palavra consigo"

Sorriu sozinha ao lembrar da fala da tia, cada anel que usava tinha um significado diferente, uma pessoa em mente diferente, eles andavam com ela, seus ancestrais, seus familiares, estavam todos ali. Não somente em objetos, mas em significados.

Quando ergueu o olhar avistou o carro de sua mãe, um Nissan Pathfinder negro, como seus olhos. Se colocou a andar em direção ao veículo que estava estacionado do outro lado da rua e atravessaria rapidamente se não tivesse esbarrado seus materiais em um homem alto, o que de repente lhe trouxe sensações imediatas e desconhecidas no corpo.

- Meu Deus, me desculpe. - Ele pediu, já se colocando ao chão para a ajudar recolher os papeis que voaram.

- Me desculpe mesmo. - Ela sorriu, não se importava, e continuou juntando suas coisas com ele, quando ergueu o olhar viu que se tratava de alguém bastante elegante. Cabelos negros, alto, barba por fazer e olhos azuis.

- Não tem problema. - Respondeu calmamente, encarando as orbitas azuladas em um tom que se misturava entre o claro e o escuro. Sem definição.

- Fui eu que esbarrei em você, esbarro em todos o tempo inteiro, não costumo olhar muito pra onde ando. - Brincou fazendo com que o semblante do homem se acalmasse. Eles se levantaram, o homem a estendeu a mão, essa que ela analisou antes de tocar com a sua.

Aceitou o toque, mas se congelou nele por alguns segundos, o estranhando.

- Sou Thomas, desculpe mais uma vez.

- Não há problema, não foi sua culpa. - Respondeu simples, desnorteada o suficiente para que falasse mais algo, não sabia o que tinha sentido naquele rapaz.

O toque para seu povo significava muito e ela sempre soube bastante apenas no abraço de alguém, as vezes sentia vontade de chorar por simplesmente olhar um ser, sentia a dor e a energia muito facilmente de quem a carregava, assim como sentia as coisas boas. Nele, contudo, não sabia o que sentia. Muitos dos seus não tocavam ninguém da cidade, sua tia Mercedes era uma dessas.

- Preciso ir. - Murmurou simplesmente, sem o dizer seu nome, sem nada mais. Deixando com que Thomas ficasse um pouco desconcertado, coçou a nuca e a observou não mais que três segundos ao partir de sua vista, somente para se colocar a andar novamente.

Dolores havia assistido tudo aquilo do banco de motorista, assim como Louis Green, que esperava seu irmão escorado no capô do carro que tinha. Ele não entendia o que havia ocorrido e nem conseguiu ver o rosto da moça que esbarrou em seu irmão, o corpo de Thomas apagou todo seu semblante e ele se paralisou demais, sentindo a mesma coisa que sentiu quando passou em frente à casa da cigana para que andasse na direção de ambos quando o pequeno acidente ocorreu. Se ao menos a mulher andasse frente a si poderia ver seu rosto, mas nem nisso ele conseguiu colaboração.

Encontros e desencontros.

Ela entrou no carro de sua mãe, a mulher a olhou atentamente.

- Sentiu algo? - Foi a primeira coisa que disse, quase uma afirmação, como uma pergunta para quem já sabe a resposta e é feita muito cuidadosamente.

- Como sabe?

- Conheço a filha que tenho. - Respondeu.

- Não sei o que senti.

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