Aurora passou os dias futuros terminando sua música. Tinha um colega de aula que tocava violoncelo, se chamava Hector e era extremamente talentoso.
Ele fazia o som mais ao fundo, e sua outra – também colega de aula violinista – obteve o som agudo alto na canção, algumas vezes até sobrepondo o piano.
Ao fim, o resultado que esperava foi mais do que satisfatório. Tocaria na próxima apresentação que fizesse, e por mais que não fosse uma melodia a ser obrigatoriamente compartilhada com outros instrumentos, ela amou tal produção.
Deu um toque a mais em sua composição, e previu bastante ensaio, levando em consideração que sua nova performance estava com apenas três meses de distância.
Chamou Albert para ver como havia ficado, e sua reação foi ainda melhor do que quando havia escutado sem os complexos arranjos.
Após aquilo resolveram ir até o parque de diversões, onde Aurora apresentou-lhe seu amigo do algodão doce. Se sentaram em um banco de madeira escura, observando poucas crianças correrem e gritarem animadas nos brinquedos em plena luz do dia.
- Pretendo comprar alguma casa por aqui. – Disse Albert, fazendo Aurora se surpreender.
- Um homem da minha idade tem certas preocupações, e minha filha quer que eu fique, mas não gosto de estar na casa dela, uma família precisa de algum espaço.
- Mas você também é da família dela.
- É diferente. Vou arranjar algum lugar aqui, se puder me ajudar com isso... ficaria feliz e grato. Penso que onde eu moro é distante de tudo, se eu morrer um familiar não fica sabendo tão cedo.
Aurora o olhou com atenção.
- Você é impossível Albert, mas vai ser uma honra te ajudar a escolher um lugar.
- Mas me conte, e seu menino? – Aurora deixou uma risada sair antes que levasse uma parte do algodão doce até a boca.
- Meu menino? Não estou gravida, Albert. – Respondeu brincando.
- Entendeu muito bem, não está namorando? Como está indo as coisas?
- Ele quer que eu vá jantar na casa dele, e deseja isso já faz algum tempo. – Afirmou fixando seu olhar no nada.
- E por que não vai?
- Já decidi que vou. Talvez na próxima semana.
- Ele me é familiar, esse garoto.
- Pode ser que já o tenha visto de outras vezes.
- Pode ser. E está nervosa, em ir até lá?
- Não é nervosismo, é receio. Não sei do que também, mas não sinto coisas muito boas, e geralmente não me engano. Mas deixemos isso pra depois, quando eu for, te conto como foi. Quero falar sobre nosso projeto agora.
- Seu projeto criança, eu apenas ajudei.
- Desde quando percebeu que gostava de arquitetura.
- Desde menino. Lembra da casa que falei que tinha na Inglaterra? Eu a desenhei.
- A casa tomada?
- Justamente.
Aurora não perguntou mais sobre tal assunto, não queria ser invasiva demais e indagar por qual motivo ele foi retirado de sua moradia. Quando o assunto surgia, Albert era sempre vago.
Deixou aquilo como era, mesmo com ardente curiosidade e perguntou outras coisas.
Como seriam feitas as lacunas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Almas
RomancePoderíamos definir Aurora Kalitch como uma mulher independente que vivia entre dois mundos, o dos ciganos e o dos gajos. Uma mulher que apesar de todo seu poder, não tinha controle algum sobre seu destino, não importava o quanto tentasse, suas linh...