Dolores estava guardando frutas em uma caixa de madeira. Gostava das feiras que ocorriam na Inglaterra e vez ou outra ia e comprava tudo na melhor qualidade que encontrava.
Naquela manhã de segunda o Sol estava forte, coisa que fazia a mulher feliz, gostava de temperaturas mais altas, o que era difícil já que devia sempre estar preparada pra chuvas, mesmo que fracas pelo país que nasceu e permaneceu até a maior idade.
Pegava as maçãs quando viu um homem alto e moreno aparecendo ao seu lado, não deixando de notar o quanto era singular. Cheio de anéis, as vestes chamativas demais, cabelo ondulado, traços fortes, a imagem fez com que ela paralisasse alguns segundos.
Avistou ao longe mais alguns outros vestidos de forma parecida, parados no passeio, observando.
Ciganos.
Tinha tanta admiração por eles e nem entendia o motivo, mas achava uma cultura tão linda mesmo que tão rígida...
Novamente seus olhos foram de encontro ao homem ao seu lado, desta vez ela não conseguiu evitar de se sentir envergonhada e até mesmo insegura.
- Pra você. - Foi a primeira coisa que Hanzi disse, lhe estendendo uma única rosa, a mais bonita que Dolores já havia visto.
Nem mesmo se comparava a aquelas que sua mãe cultivava, era uma boa atividade para distrair sua mente, eram poucas as vezes que o marido lhe compartilhava alguma amabilidade. Flores e rosas eram seu modo de entreter a filha e de viajar pra algum lugar mais bonito, mesmo que dentro da própria mente.
- Obrigada. - Respondeu de forma firme e bastante cordial, nem parecia que havia sentido tantas coisas com apenas uma única rosa, um único olhar.
- Não passo muito por aqui, se puder me ajudar a escolher algumas frutas...
Dolores o olhou, como se aquela desculpa para que pudessem andar juntos fosse a coisa mais boba que já ouvira, mesmo assim abriu um sorriso.
Os outros homens de ventes igualmente chamativas pareciam levemente desconfortáveis a espera.
- Seus amigos não se incomodariam?
Hanzi não respondeu, apenas a ofereceu um sorriso. Se seus amigos se incomodassem ele sentia muito, mas não lhe importava nem um pouco.
Primeiro pediria ajuda da mulher, ganharia alguma coisa.
Conseguiu o nome.
Dolores.
No dia seguinte Dolores voltou, ele também, em um dia ainda mais quente do que o anterior e cheio de pessoas.
Eram muitas as vezes que a mãe de Aurora se perdia em memorias. Poderia estar deitada preparada para dormir, as lembranças ocorriam, ou dentre as palavras de livros, até mesmo enquanto tomava um café, escorada no armário branco encarando o vidro da janela que lhe mostrava a grama que já estava ficando alta do outro lado da rua.
Contudo, ela não via nada disso, tudo que enxergava era um borrão mesmo com os olhos bem abertos.
- Mãe! - Aurora praticamente gritou, fazendo- a se assustar levemente, quase dando um pulo. A encarou com desconcerto, não sabia que sua filha já havia lhe chamado quatro vezes, de todas, a única que fez algum som foi a última.
- Oi.
- Está tudo bem?
- Claro, claro. O que quer?
Aurora checou a mãe de cima a baixo, desistiu de insistir no que poderia ser somente uma desatenção.
- Vou sair com Rose, vamos no parque.
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Almas
RomansaPoderíamos definir Aurora Kalitch como uma mulher independente que vivia entre dois mundos, o dos ciganos e o dos gajos. Uma mulher que apesar de todo seu poder, não tinha controle algum sobre seu destino, não importava o quanto tentasse, suas linh...