O dia amanheceu nublado e chuvoso, típico da época de outono. Apesar da chuva e do frio, era bonito ver as folhas, especialmente a cor alaranjada por quase todos os lugares em que se andava.
Cheiro de terra molhada.
Aurora amava o clima, mas Louis não desfrutava tanto, resolveu consigo que apenas gostava se tivesse a companhia da mulher.
Ela vestia uma calça jeans com uma blusa branca e um casaco de lã cor caramelo, fazia contraste com seu cabelo e a cigana amava roupas assim, quentes e longas. Os anéis característicos permaneciam nos dedos enquanto ela levava a xicara quente de café a boca enquanto olhava para a janela da sala fixamente, observava os pingos de chuva caírem nela e fazendo trilhas desconexas.
Sua mente estava em nada. Somente tranquilidade. Quando se virou em um suspiro curto viu Louis a observando. A barba estava por fazer e o cabelo ainda bagunçado.
Uma coisa sobre ele, era que não tinha tanto animo para se arrumar ou acordar tão cedo, na natureza da cigana parecia algo tão normal quanto o céu ser azul.
- O que foi? Parece um zumbi. - Louis riu.
- Delicada como sempre.
- Perdoe-me por minha delicadeza... - Retrucou se aproximando e o dando um beijo no rosto.
- Está perdoada.
- Eu sei. Agora vá se arrumar, Louis.
- Aurora, são oito e meia.
- Tarde demais.
- Meu Deus...
- Vamos, quero levar algo, não posso chegar na casa de seus pais sem um agrado, seria falta de educação.
- É só pela noite que vamos.
- Mas antes, temos que ir pra minha casa, minha mãe te aguarda.
- Me diga uma coisa, esse temperamento de animo é sempre assim?
Aurora simplesmente riu.
- Venho de uma cultura em que isso é o ideal. Está impregnado. Além do mais, é alguma aventura pra sua vida.
- Acordar cedo com animo?
- Exatamente.
O aristocrata assentiu, trocaram algumas palavras e foi se arrumar quase obrigatoriamente.
Era bem mais tarde quando chegaram até a residência de Dolores, lá almoçaram e riram. Para Louis foi como... família. Ele adorava a mãe de Aurora, ela o tratava como um filho. Era gentil.
Enquanto os três conversavam na mesa, o homem apenas rezava a seu modo que a pianista tivesse um bom momento com seu povo.
Esperava que ela gostasse de todos, até ali, Aurora não havia mencionado o que sentia sobre seu pai e não o faria tão cedo, afinal, de nada ganharia com isso.
- Fico imaginando Mercedes quando te conhecer, Louis. - Comentou Dolores risonha.
- Aurora me conta ótimas histórias sobre ela.
- Oh, uma mulher excepcional. Me ajudou muito, apesar de ser muito dura.
- Ela vai gostar de você Louis, fique tranquilo.
- Mas há algum modo em que possamos ter contato? - A pergunta fez Aurora parar o garfo no prato e sua mente vagar até uma louca alternativa, relembrando o que sua tia já havia lhe falado quando estavam juntas no acampamento.
Ela olhou para Dolores, que conhecendo a cultura em que já teve e a própria filha, rapidamente repreendeu com os olhos.
Aurora sorriu.
![](https://img.wattpad.com/cover/334588565-288-k605477.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Almas
RomancePoderíamos definir Aurora Kalitch como uma mulher independente que vivia entre dois mundos, o dos ciganos e o dos gajos. Uma mulher que apesar de todo seu poder, não tinha controle algum sobre seu destino, não importava o quanto tentasse, suas linh...