Capítulo 7 📗

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Rose foi embora no dia seguinte, três e meia da tarde, dentro de um taxi.

Se despediram tantas vezes que não era possível contar, até que a mulher loira conseguiu se sentar no banco acolchoado e pedir para que o moço calvo partisse, a levando pra casa.

- Vou sentir falta dela. - Disse Dolores assistindo o carro se distanciar e abraçando a filha de lado.

- Ela sempre faz falta... - Aurora respondeu com um suspiro.

- É criança, faz bastante.

A mulher mais velha deu um beijo no topo da cabeça da filha e entrou em casa, Aurora ficou mais um pouco do lado de fora, observando o gramado do outro lado da rua e percebendo o quanto estava alto. Ligaria para que cortassem.

Se escorou na madeira e lá ficou, sentindo o vento, ela amava algo tão simples e natural quanto o vento, sentia como se a abraçasse, mesmo quando ficava arrepiada. O vestido de estampa vermelha e leve que tinha esvoaçava em meio ao dia limpo e seu cabelo negro lhe cobria o olho ou a boca, andava sozinho no ar, assim como uma borboleta amarela voava ali, bem em cima do verde que precisava ser aparado.

Ela sorriu, outra coisa que a deixava feliz eram as borboletas. Elas também voam.

Entrou em casa e subiu ao quarto, praticaria mais as peças de sua apresentação mesmo já tendo a perfeita noção e de tocá-las com maestria, o máximo ainda não lhe era suficiente e por isso passou o restante do dia todo em frente ao piano.

A música de sua autoria ainda não havia lhe saído da cabeça e ela se lembrava constantemente de quando a melodia inicial havia adentrado em sua mente.

Estava vendo as pessoas do acampamento curtirem pelos noivos. Novos demais.

Por mais que aquilo fosse da cultura de Aurora também, ela teve uma vida diferente, algumas mulheres, como sua tia Mercedes nunca se casavam, outras eram prometidas logo no nascimento, por dotes, ou decidiam que era melhor a cerimônia de matrimônio ocorrer o mais cedo possível.

De todos os casos, era o último que ela viu acontecer e quando observou todos dançando ao redor dos resquícios do que havia sido uma enorme fogueira na noite do casamento aquele trecho a agarrou com tanta força que foi necessário sair do banco de madeira que estava sentada, ir até sua tenda e escrever as principais notas que sabia que seriam usadas, repetiu a melodia incansavelmente a si mesma de forma que não esquecesse, seria impossível esquecer algo que colocou em loop tantas vezes na mente.

Acabou deixando isso novamente de lado e focou novamente em suas peças, quase de forma obcecada, parando apenas pra necessidades básicas, mas logo voltando a praticar.

No sábado Aurora foi até a Biblioteca da cidade. Gostava do ambiente tão cheio de livros, gostava do cheiro, de observar as pessoas sentadas nas cadeiras lendo tão silenciosa e atentamente, gostava simplesmente de passar os dedos cheio de anéis pelos livros e sentir a energia de outros universos adentrando em si.

Desde pequena frequentava a mesma biblioteca, assim que se mudou com sua mãe, conhecia aquele espaço talvez tão bem quanto a bibliotecária Susanne, uma mulher alta, magra e de 55 anos, usava óculos e normalmente ia de salto, o que fazia com que ficasse ainda maior do que já era naturalmente.

Susanne as vezes deixava Aurora ajudá-la a arrumar algo por lá quando era menor e até mesmo com seus 20 anos, quando podia, ela colaborava. Nunca foram amigas próximas, ela e a bibliotecária eram apenas colegas que compartilhavam apreço pelos livros. Eram a única coisa da qual comentavam, ao menos por um longo e bom tempo.

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