Eram três quadros pintados por Louis que haviam sido resgatados.
Todos três feitos com tinta preta. Todos três em arte abstrata.
Era até mesmo difícil descrever como os traços pelo pincel estavam feitos.
Não havia ordem ou conexão alguma, mas ainda assim eram encantadores.
Aurora os olhava com bastante atenção enquanto o homem se banhava, ela já havia ido primeiro, e a espera de o ter como companhia novamente animava seu espirito, haveria muito o que ser perguntado.
Seu olhar curioso apenas pôde ser imaginado pelo aristocrata, que sem ela nem imaginar encarava seu corpo de costas.
A chuva havia voltado a cair, mais forte do que antes e fazia trilha particular daquele momento.
- Estou com medo de que fique paralisada aí. – Disse com a voz leve a fazendo rir.
- Então deve estar me observando por mais tempo do que imagino para que tenha tal medo.
- Sempre com uma resposta na ponta da língua...
- É necessário. Tática de sobrevivência.
- Tática de afrontamento. – respondeu se aproximando.
- Que seja... me conte disso, deles todos. – Falou apontando os quadros colocados no chão com o dedo. Na parede da sala, um pouco acima deles, havia o quadro que Louis comprara na exposição. Aurora ficava ali.
Somente sua imagem, mas ela balançava a mente do homem sempre que não tinha a mulher por perto. Era suficiente.
- O que quer saber?
- Primeiro como aprendeu a pintar assim, nós podemos ir um passo de cada vez, não precisamos ser apressados. – A forma rápida com que falou toda a frase fez com que Louis risse e a guiasse até o sofá, onde ambos se sentaram. Inicialmente um ao lado do outro.
- Não chamo de aprender a pintar, desde criança somente gosto de mexer com tinta, fazia algumas coisas, mas nada nunca foi levado a sério.
- Nunca quis fazer nenhum curso?
- Curso relacionado a arte? Não, Aurora, nunca houve muito tempo pra arte.
A cigana repensou, e imaginou que na família do homem que amava, não haveria tanto espaço para algo relacionado a isto.
- Pode me dizer o que é aquilo? Há algum significado?
- Não especifico. Os riscos pretos são linhas de pensamentos. Veja. – Disse apontando com os dedos.
- São apenas traços, que formam... nada, ao mesmo tempo que tudo. Pode ser como as nebulosas do universo, assim como só linhas que se cruzam.
Aurora olhou novamente a pintura, e retornou seus olhos até Louis.
- E o que pensava enquanto os pintava?
- Que estava inevitavelmente sozinho.
- Louis...
- Nessas pinturas eu já sabia o que queria, também sabia que não conseguiria.
- Me conte o que quer.
- Um dia, porque talvez consigamos, não é?
- Talvez você consiga. – Corrigiu Aurora, não sabendo que era uma sentença errada e condenada. Louis riu simples, chamando sua atenção.
Cada simples ato chamava a atenção da mulher. Um sorriso, um olhar... ela sabia ler todos, mas não se atreveu a pensar muito no que o aristocrata queria dizer ou não.

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Almas
RomancePoderíamos definir Aurora Kalitch como uma mulher independente que vivia entre dois mundos, o dos ciganos e o dos gajos. Uma mulher que apesar de todo seu poder, não tinha controle algum sobre seu destino, não importava o quanto tentasse, suas linh...