11. O perdão

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Ela começa a chorar, e apenas não consigo vê-la assim. Me aproximo dela e a abraço, e meu coração fica aliviado ao não encontrar resistência.

O nosso choro é profundo, eu sinto as vibrações de todo seu corpo tremendo contra o meu. E é difícil distinguir quais lágrimas molham a minha camiseta.

Não sei em que momento acontece e nem quem inicia, mas em algum momento no meio de tudo, as nossas bocas estão grudadas, em um beijo sofrego e completamente apaixonado.

A minha língua passeia pela sua boca , enquanto seus dedos ágeis agarram o meu cabelo, os puxando levemente. Ela me dá uma leve mordidinha nos lábios, até que se dá conta do que está acontecendo e empurra meu peito com as mãos, desfazendo o contato.

- Não Antônio. Isso é um erro.

- Me desculpa, eu...

Ela se afasta, indo para uma distância razoável de onde estou.

- Olha. Eu te perdoo tudo bem?, não vou te falar que tudo vai voltar a ser como era antes por que não vai, nem temos mais contato pra isso. Mas se o seu coração precisa do meu perdão para ficar em paz, eu te perdoo. Apenas vamos seguir Antônio. Eu não quero ter que evitar ir aos lugares só por que você estará lá. A nossa história não deu certo mas não precisamos nos detestar, eu tenho certeza que a vida já está te cobrando por tudo isso, sem a ajuda de ninguém.

- Você nem imagina... - sussurro - sei que é fácil pra mim apenas te falar o quanto eu sinto muito, mas eu realmente sinto Amandinha. Eu queria poder fazer tudo diferente, mas não posso.

- Antônio, não adianta você me dizer palavras bonitas e achar que vai conseguir apagar tudo aquilo que se enraizou no meu coração por que não vai. Eu te amei, muito mais do que você pode imaginar, mais do que eu achei que fosse humanamente possível. E durante todo esse tempo eu me inferiorizei por diversos motivos. Mas sabe o que eu consigo perceber hoje? - ela pergunta.

- O que? - tenho medo da resposta.

- O meu valor. Eu demorei muito a me reconhecer e aceitar cada pequena parte minha como mulher. Hoje eu sei que eu não preciso do cara mais bonito do meu lado, eu só preciso de alguém que me ame e me respeite acima de tudo. Eu sou imperfeita de várias formas Antônio, mas é exatamente isso que forma quem eu sou. Eu sempre fui uma eterna entusiasta e apaixonada pela vida, e não vai ser um coração partido que será capaz de mudar isso. Por que isso dói mas passa. Mas eu vou continuar sendo eu, gostem as pessoas ou não. Eu vou continuar precisando me acolher todos os dias. Eu vou continuar sendo a Amanda que dança estranho e não tem medo nem vergonha de fazer isso. Eu vou continuar sendo a Amanda que ama tomar um shot e ser inimiga do fim em qualquer balada da vida. Eu vou continuar sendo a Amanda que estende a mão para as pessoas, mesmo quando elas já feriram o mais fundo da minha alma. Por que essa sou eu Antônio. E eu não posso não me escolher.

Eu não sabia o que dizer, eu só queria chorar e abraçar aquela mulher por tudo que ela passou e por eu ter feito pra ela se sentir assim. Antes que eu pudesse responder, ela continua.

- Eu ainda te amo, e talvez eu carregue esse amor comigo por muito tempo, só a vida vai dizer. Eu não te desejo mal, como uma pessoa que te ama eu quero que você seja feliz. Mas eu não quero ter o mesmo contato de antes, meu coração não merece isso. Nós podemos ser civilizados e nos tratarmos bem quando nos encontrarmos por aí, mas é isso. Se te fizer mal eu manter contato com a sua família, você pode me dizer também, independente de tudo não quero ficar te causando desconforto - ela fala.

- Não me incomoda, eles te amam. Você é uma parte importante da família e das nossas vidas.

Ela dá um pequeno sorriso. Eu havia destruído aquela mulher. A mulher que eu amava, apenas por ser um covarde.

- Nem em mil vidas eu vou conseguir me perdoar por tudo que eu te causei. Eu te amo, desde sempre. E eu estou vivendo um inferno por saber que eu magoei e feri a pessoa que menos merecia, por ser um covarde.

- Já passou, hoje eu acredito muito que Deus sabe absolutamente tudo que faz, talvez eu precisasse disso pra perder toda aquela idolatria que eu tinha por você sabe?, eu nunca vou entender. Eu te colocava num lugar da única pessoa que não seria capaz de me magoar no mundo, e olha só como estamos - ela diz já chorando.

E eu desabo. Choro como nunca chorei em toda minha vida. Eu começo a soluçar e ela com todo o amor do mundo me ampara.

A mulher que eu havia despedaçado em mil e um pedaços, estava me consolando. Durante horas me ajuda ate que eu consigo me acalmar e pego no sono.

Acordo no meio da madrugada, com a cabeça deitada em suas pernas. Ela está com uma das mãos acariciando meus cabelos, enquanto seus olhos estão fechados e sua cabeça está caída para trás, encostada no sofá.

- Posso te perguntar uma coisa?

- Sim - ela indica em um fio de voz, sem abrir os olhos.

- Por que você foi na luta do cinturão ano passado?

Ela fica surpresa. Muito surpresa com a minha pergunta.

- Por que eu não sou um pessoa capaz de quebrar promessas Antônio. Eu te prometi que eu iria, e eu fiz. Nos dois anos.

- Eu te vi escondida na arquibancada, usando um boné preto. Mas quando te procurei você já tinha sumido. Eu não tinha seu novo número. Por que você não foi falar comigo?

- Eu só precisava cumprir a promessa no meu coração Antônio, pra mim era isso que importava. E além do mais, eu fui, eu desci pra falar com você mas eu desisti - ela fala.

- Por que? Eu ia amar saber que você estava lá.

- A Camila estava lá, e eu apenas não queria mais desconforto depois de tudo que aconteceu.

- Me desculpe por tudo que ela te falou. Eu fiquei sabendo a pouco também. Se eu soubesse na época, tudo teria sido diferente.

- Não importa mais, agora você sabe que eu não quebrei a promessa e que eu estava lá. Acho que é melhor você ir embora. Daqui a pouco amanhece e a Bia acorda. Preciso descansar um pouco.

Eu não queria ir, mas só o fato dela ter me dado uma pequena abertura e ter desabafado comigo, já significava muito considerando o que eu a fiz passar nos últimos anos.

Eu me levanto e ela me acompanha até a porta. Lhe dou um último abraço.

- Amanhã... - Eu olho o relógio, 02h22 da manhã - hoje é o meu aniversário, o Dindinho vai fazer uma festa para os amigos na casa dele, se quiser aparecer...

- Não abusa da sorte Antônio. Tchau - ela se despede de mim e tranca a porta, enquanto eu saio dali com um pequeno sorriso no rosto, feliz por esse minúsculo passo.

Cinco capítulos pra vocês de presente hoje. Engajem a autora vai, eu mereço 😬 amanhã estarei de volta, tentando manter o mesmo ritmo de atualizações. Beijos 💋

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