39. Cinturão

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Volto ao Brasil, e já se passaram dois meses e meio desde que o vi pela última vez. Não conseguimos viajar nesse meio tempo, já que ele está na preparação para a luta final, e eu tive vários compromissos e precisei cumprir a agenda que estava cada vez mais apertada.

Coloco Beatriz no berço e volto para o meu quarto. Assim que me deito, e puxo o edredom sobre o meu corpo, meu celular toca em uma chamada de vídeo. Atendo animada.

- Oi amor.

- Oi pequena. Estou com tanta saudades.

Amo sua forma de se demonstrar venerável e sem receios para mim. De sempre dizer que me ama, mostrando todos os seus sentimentos e abrindo o seu coração.

- Eu também querido.

Ele nota o meu estado e preocupado pergunta.

- Ainda está mal?

- Um pouco, acho que peguei o resfriado que a Maria e minha mãe estão espalhando por aí. Além disso, não contente, passamos o dia todo na piscina e no sol. Haja imunidade.

- Precisa se cuidar pequena. Queria estar aí... - ele fala com uma carinha triste.

- Agora está perto querido, em poucos dias nos veremos.

- Amanhã vou ligar mais cedo. Quero ver a Bia.

- Ela não para de chamar pelo papai. Está insuportável.

Ele abre um enorme sorriso.

- Ela já tem um preferido entre nós dois.

- Claramente. Passei por todo um processo, inseminação, carreguei nove meses na barriga, e agora ela te chama mais do que a mim.

- Ei, olha o ciúmes.

Conversamos por quase duas horas, até que começo a bocejar e ele se despede, pedindo que eu descanse, reclamando das enormes olheiras abaixo dos meus olhos. Tomo uma aspirina pra a dor de cabeça chata que estou sentindo e caio no sono.

Na manhã seguinte, assim que abro os olhos sinto uma vontade irrefreável de vomitar.

Corro até o banheiro e chego bem à tempo de não fazer uma lambança. Sem dúvidas peguei uma virose. Me sinto péssima. Com a barriga doendo e a garganta arranhando volto para a cama, e quando minha mãe se dispõe a cuidar de Beatriz, tomo alguns remédios e durmo pesado.

Três dias depois, continuo me sentindo mal. Minha cabeça dói horrores e só tenho vontade de dormir, dormir e dormir.

Os dias passam e chega o tão esperado dia da nossa viagem. Vamos todos juntos, minha família e a do Antônio, e o trajeto que geralmente é cansativo, se torna uma enorme diversão com todos eles.

Quando chegamos no aeroporto, Antônio está nos esperando com um enorme Peugeot 5008 de sete lugares, e Junior está ao seu lado no seu audi.

Assim que me vê, anda apressado até mim e segurando possessivamente a minha cintura, me dá um beijo e murmura.

- Como eu senti sua falta amor... e você filha, papai também estava com saudades - fala com uma Beatriz totalmente sorridente em meu colo, a pegando dos meus braços e rodopiando com ela pelo saguão.

Filha... a palavra martela na minha cabeça e de alguma forma aquece meu coração.

Dois dias depois acordamos todos animados. É a grande final do cinturão e nos vestimos todos com camisetas personalizadas enquanto assumimos nossos lugares na primeira fileira da arena.

Quando os dois lutadores já estão no octógono, incluindo o Antônio, o locutor declara: Senhoras e senhores, nós ... estamos ... vivos! Este é o principal evento da noite. Este é o momento que todos esperavam. Ao vivo, direto de Miami. Está na hora (It's time).

Junto à torcida, gritamos eufóricos quando anunciam seu nome.

"Agora, com vocês o brasileiro, Antônio Carlos Jr."

E ele desfila, rodeando o octógono, lindo e majestoso como sempre. Olha para nós, sorri. Se vira para o seu adversário, que já foi anunciado, e logo em seguida a luta começa.

"Antônio Carlos Jr, primeiro colocado nessa categoria de peso, trinta e oito anos de idade e favorito a levar esse prêmio. Serão disputados cinco rounds, cada um deles de cinco minutos. valendo".

Eu fico apreensiva, embora Antônio domine toda a luta, vê-lo levar alguns socos e porradas é agonizante.

O primeiro round é bastante equilibrado. O oponente não abaixa a guarda e nenhum momento, e os dois lutam de igual pra igual.

No segundo round, ambos batem e apanham muito, mas Antônio leva uma pequena vantagem quando consegue desferir alguns socos que  deixam o adversário desnorteado demais.

No terceiro round, se aproveitando da vantagem do tempo anterior, quando menos se espera, o Antônio o imobiliza, subindo nas suas costas e começa a socá-lo por todo o rosto.

"Foi pro pescoço, vem pra finalização o Cara de Sapato, pegou, era, é campeão, é campeão, é campeão. CARA DE SAPATO".

Gritamos e comemoramos como malucos. Nos abraçamos e quando olho para ele, está sobre a grade de proteção do octógono, apontando para nós e agradecendo à Deus.


- Ganheeiiiii amor. É nosso. Te amo - ele vibra olhando direto pra mim.

- Sapato. Sapato. Sapato - a platéia grita em coro, enquanto olho pra toda minha família que se abraça e comemora como se a vitória fosse deles.

Depois de cumprir todo o protocolo, recebe em mãos o cinturão e o card do cheque de dois milhões de dólares. Faz todas as fotos e concede uma entrevista com os olhos brilhando no momento mais lindo da sua vida.

Demoram quase duas horas, até que ele consegue vir até nós, dessa vez já de banho tomado e uma enorme mochila nas costas.

Enquanto todos lhe parabenizam, eu me sento e choro. Sem entender por quê, meus olhos se enchem de lágrimas que começam a cair em cascatas pelas minhas bochechas.

- Está tudo bem? - Roberta me pergunta.

Eu aceno que sim. Mas as lágrimas não param de brotar, não consigo controlar.

O que está havendo comigo?, por que choro tanto?

Vendo-me nesse estado, Antônio vem me abraçar.

- Mas pequena. Por que você está assim?

- Eu só estou muito feliz por você. Por toda a nossa família estar aqui. Te amo muito.

Curtam e comentem muito. Nossa história está quase chegando ao fim. Em breve estarei de volta. Beijos ❤️

DocShoe - Agora e sempre Onde histórias criam vida. Descubra agora