32. Conversa inevitável

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Assim que coloco Beatriz no berço, vou até o quarto e envio uma mensagem.

" posso falar. Quer ligar ou por aqui mesmo?"

Não conto dez segundos até que meu celular começa a tocar.

- Oi - eu falo primeiro.

- Oi pequena. Eu... me perdoa, por favor. Eu sou tão irracional as vezes que eu só percebo a merda que estou fazendo quando já está feita.

- Antônio, eu não vou mentir que fiquei muito chateada com você. Você as vezes parece um adolescente, a quem não pode ser negado nada, nunca. É um contraste muito grande com o homem pelo qual eu me apaixonei.

- Eu não racionalizei muito bem.

- Você nunca consegue Antônio. Eu gosto do seus ciúmes e da sua proteção comigo, mas até isso tem limites. Mas você ontem, a forma que você agiu, foi péssima e me deixou com muitas dúvidas.

- Dúvidas? - ele pergunta e há muita insegurança na sua voz.

- Eu me sinto sufocada por você. Eu quero poder tomar minhas próprias decisões sem precisar me preocupar com você antes de mim, mesmo que isso seja egoísmo Antônio.

- Eu te sufoco? - há um vestígio de choro na sua voz.

- Um pouco. Eu te amo muito Antônio, muito mesmo. Mas ontem você me ignorou o dia todo apenas por que nossas opiniões eram diferentes. Eu não sei se eu estou pronta pra isso. Eu acho que nós precisamos de um tempo. Essas duas semanas longe serão boas pra nós dois colocarmos a cabeça no lugar e pensar em tudo.

- Não pequena, me pede outra coisa, por favor. Tudo menos isso - seu desespero do outro lado da linha é palpável, e embora eu esteja fazendo isso, também sinto vontade de abraçá-lo.

- Eu só preciso que você pense um pouco Antônio. Eu acho que eu também tenho muitos erros e vai ser bom pra mim também. Mas eu preciso que você respeite a minha individualidade.

- Me diz o que fazer amor.

- Me dá um pouco de espaço pra pensar, uns dias.

- Não. Não.

-Umas semanas talvez.

- Não posso. Pelo amor de Deus, outra coisa Amanda.

- Eu já fiz minha escolha Antônio - falo firme, para que não restem dúvidas.

- É isso mesmo que você quer?

- Sim.

- Eu vou respeitar seu tempo. Mesmo que não seja a minha vontade.

- Obrigada.

- Se não for problema, me deixe saber como a Beatriz está. Por favor.

- Tudo bem.

- Eu te amo pequena. Nunca duvide disso.

- Eu também te amo Antônio - desligo, antes que eu desista da ideia antes do tempo.

Largo o celular e volto para checar Beatriz, a febre continua alta e sem pensar mais, corro com ela para o hospital.

Realizam vários exames e coletas e eu mal prego os olhos pela madrugada. De manhã, quando os resultados estão prontos, o médico vem até o quarto falar comigo.

- Bom dia Doutor.

- Bom dia. Bom, vou ser direto, a Beatriz está com um forte quadro de anemia e infecção urinária. Precisaremos deixá-la internada sob observação.

- Anemia?, mas ela segue a dieta tão bem...

- Não se culpe mãezinha, algumas coisas acontecem inevitavelmente. Vamos fazer tudo para que a pequena tenha alta o mais breve possível.

- Obrigada Doutor.

Quando ele sai, eu sento na poltrona e  desabo, enquanto peço à Deus que Beatriz fique boa logo.

Já é final da tarde quando Roberta me liga.

- Oi amor - ela me cumprimenta.

- Oi Roberta.

- Está tudo bem?

Balanço a cabeça negando, como se ela pudesse ver meu gesto.

- Amanda?

- Não, eu estou no hospital com a Bia... ela não está bem desde ontem.

- Me fala o hospital, eu estou indo até aí.

- Não precisa Roberta.

- Anda Amanda, me fala logo que já estou a caminho. Te vejo em minutos.

- Estou no Albert Einsten. Quarto 507.

- Ok, chegando aí te aviso se precisar de autorização. Fica calma ok?

Mas isso é tudo que eu não consigo.

Quando ela chega, se dispõe a ficar com minha filha para que eu coma e vá em casa tomar um banho, aceito de bom grado, mas faço tudo o maia rápido que consigo. Preparo uma pequena mala com alguns pertences e corro de volta para o hospital.

- Eu nem sei como te agradecer Roberta - a abraço enquanto me despeço, já no final da noite.

- Você não precisa me agradecer por nada. Só me promete que vai me ligar se precisar se qualquer coisa? - balanço a cabeça concordando - amanhã eu volto pra gente revezar um pouco.

- Obrigada.

Depois que ela se vai, as enfermeiras entram, e eu choro em cada agulha espetada e em cada amostra de sangue coletada da minha filha.

Já é madrugada quando consigo pegar no sono, e quando eu acordo já são quase 07h30 da manhã e eu estou toda dolorida do péssimo sofá aonde eu dormi.

Olho pra Bia e ela ainda está dormindo, fico aliviada. Ouço uma batida na porta e aviso que pode entrar. E nada me prepara para vê-lo ali, assim que a porta é aberta.

O que estão achando?, deixem um comentário, em breve estarei de volta. Beijos ❤️


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