Assim que Deckard pisou dentro da caverna, foi recebido pelo brilho azulado do sistema. À essa altura, ele já não poderia dizer que foi inesperado, mas decidiu deixar isso para depois. Agora, seu foco era o desafio à sua frente.
Fang começou a farejar o ar e a rosnar, percebendo que eles haviam entrado em território inimigo.
A entrada da caverna dava em uma espécie de corredor que seguia por uns vinte metros, até onde era possível ver. Os dois foram andando, com os instintos prontos para qualquer surpresa.
Conforme seguiam no corredor, os olhos deles foram se acostumando com a pouca iluminação e Deckard pôde perceber que não era tão escuro quanto ele esperava.
— Talvez tenha um espaço aberto e iluminado mais para frente. Vamos lá garotão.
Depois de virarem levemente para a direita, chegaram em um lugar onde o corredor ia se abrindo e começava um matagal, que chegava na altura do joelho e ia ficando um pouco mais alto, até chegar a altura do peito em alguns lugares, conforme Deckard adentrou.
Olhando em volta na caverna, ele pôde ver alguns cristais cintilando com uma luminescência, o que devia manter a caverna na penumbra em que estava, sem permitir que ficasse um breu por completo.— Agora, vou contar com você Fang, afinal não temos outra opção além de atravessar esse matagal.
Ele segurou a lança com mais firmeza, respirou fundo e entrou no matagal. Foi à passos lentos e ritmados, para o caso de haver outros animais além dos lobos por aqui. Não queria arriscar ser atacado por uma cobra. Andou cerca de dois ou três metros, sem que houvesse qualquer barulho indicando inimigo, mas ainda assim se recusou a relaxar. De repente, Fang parou e começou a se abaixar e preparar o impulso. Quando você convive com gatos por tempo suficiente, você já sabe que esses são sinais claros de que eles vão pular.
Na tentativa de não tirar a atenção dele, Deckard assumiu uma pose de batalha, segurando a lança com força e apontando ela para a direção em que ele estava virado. Nenhum barulho que denunciasse um inimigo, mas ele jamais duvidaria dos instintos de Fang, polidos à perfeição na selva, e estava decidido a arriscar sua própria a vida por isso.
Enquanto olhava para a mesma direção que o Fang, pôde sentir uma leve dormência se acumulando em suas mãos, o suor escorrendo no rosto e pelo pescoço, pôde perceber que havia prendido a respiração involuntariamente, os sentidos trabalhando além dos limites.
Foi uma fração milimétrica de segundos. Como se o tempo desacelerasse, um brilho azul fraco surgiu no seu campo de visão. Seu corpo reagiu antes mesmo de qualquer pensamento se formar, a lança foi disparada de sua mão, enquanto a outra ia em direção à adaga na bainha, mas antes de sequer tocar ela, Fang se lançou junto com a lança, como uma munição sendo disparada por uma arma de fogo e tudo que Deckard viu foi um borrão escarlate partindo.
- NOVA CONQUISTA: ABATE COMPARTILHADO -
Seu coração parecia que ia sair do peito, seu braço direito formigava, a mão esquerda segurando a adaga como se fosse feita de pedra, a respiração ofegante. A mente de Deckard estava dividida entre o brilho azul que havia visto, um agradecimento a Deus por não ser mais inimigo do Fang e a dúvida. Não sabia se realmente havia um inimigo ali.
De repente, houve um farfalhar no mato, onde ele se tornava mais alto. Sacou a adaga e se preparou para ser atacado. Toda aquela tensão tomando conta outra vez. De repente, Fang saiu do matagal arrastando o corpo de um lobo.— Não me assuste desse jeito Fang, meu Deus - respirou aliviado — Parece que era apenas um filhote, só quatro pontos de xp.
Enquanto ele se recuperava de toda a tensão, resolveu buscar sua lança de volta. Enquanto Fang se alimentava, aproveitou para colocar os pensamentos no lugar.
— Parece que eu posso ver uma tela de status dos lobos, aqui dentro da dungeon. Isso vai facilitar minha vida - Agora, ele tinha certeza disso — Agora resta saber se o mesmo acontece com outras pessoas.
Se isso funcionasse com outras pessoas, iria ajudar a evitar possíveis surpresas desagradáveis, afinal nas histórias de dungeons que ele conhecia, sempre haviam bandidos tentando tirar proveito delas. Se funcionasse apenas com os monstros, iria lhe ajudar bastante a farmar, mas precisaria ter muito cuidado no futuro.
— O melhor caso seria se me mostrasse os status dos meus inimigos ou de quem me vê como alvo - ele pensava em voz alta, enquanto se preparava para continuar. — Se já terminou, vamos continuar Fang.
Ele largou os restos para trás e eles desapareceram, como se fosse magia.
— Isso é bem prático. Evita que se acumulem os cadáveres, já que dungeons resetam.
Decidiu seguir em frente. Agora, estava um pouco mais tranquilo. Já sabia que o sistema iria lhe avisar quando um inimigo se aproximasse. Fang deve ter percebido a tranquilidade de Deckard, pois ele pôde sentir o tigre relaxando ao seu lado.
Passado o susto inicial, a dungeon não se mostrou algo muito difícil. Encontraram mais oito lobos adultos e uma dupla de filhotes.
Isso lhes custou cerca de uma hora. Pois Fang parecia ter uma fome insaciável e ele seguiu o conselho de Diane e deixou ele comer. Enquanto ele comia, Deckard pôde perceber que, diferente dele, Fang ganhava xp ao comer os animais que caçava. Assim ele ganhava a XP com o abate e Fang, comendo a carne. Era muito prático, pois os valores não seriam divididos.
Como teria que esperar ele comer tudo que caçasse, Deckard decidiu ir num ritmo um pouco mais lento e aproveitou para pegar um pouco de carne de um dos lobos e comer. Enquanto a carne assava, se encarregou de ver as notificações do sistema.
Por ter entrado em uma dungeon pela primeira vez, ganhou dois pontos de inteligência e três pontos aleatórios. E pelo primeiro abate compartilhado com o Fang, recebeu mais um ponto aleatório e vinte pontos de XP, enquanto o Fang também recebeu vinte pontos de XP.
— Isso foi muito bom, não só cheguei ao nível quatro, como estou bem perto do cinco. Bem, já que meu plano é manter meus atributos balanceados, vou colocar dois pontos em carisma, dois em magia e um em força. Essa diferença de força já é eliminada pelo título e pelos equipamentos.
Ele revisou novamente seus equipamentos e os itens que ele havia pego dos lobos adultos. Afinal, um dos livros sobre bestas que Diane lhe deu falava que tudo que vem das bestas pode se tornar equipamentos ou poções, nas mãos certas.
Como estava com tudo equipado, tinha algum espaço dentro da mochila. Assim que o Fang parou de comer, seguiram em frente. Já estavam na dungeon fazia cerca de uma hora e ele não pretendia passar o resto do dia ali dentro.
— Eu ainda nem sei como funciona ao certo e se tem uma diferença na forma como o tempo passa aqui dentro.
Diferente do que ele esperava, não havia tantos inimigos assim. Depois de mais uma hora explorando, tudo que encontraram foram mais seis lobos adultos. Isso fez com que Fang e ele ficassem bem próximos de passar de nível. O que o deixou feliz.
— Vamos acabar logo com isso Fang, pra voltarmos embora.
Conforme seguiam em frente, o espaço aberto da caverna voltou a se tornar um túnel, um pouco mais escuro do que o da entrada. O que o deixou meio apreensivo. Conforme seguiam o túnel, Deckard percebeu que ele ia se tornando um leve declive.
Seguiram em frente, até que chegaram em um caminho estreito cercado por algumas rochas bem grandes. A diferença de altura do solo não o agradou nenhum pouco. Mas não ia ser fácil tentar subir nessas rochas, então decidiu seguir pelo caminho que havia entre elas.
Não havia sinal algum dos lobos há cerca de uns 15 minutos. O que era muito bom e permitiu que Deckard respirasse um pouco mais aliviado.
Mas, para o seu costumeiro azar, algum deus estava afim de rir da sua desgraça.
GRRRRRR…
Ele mal havia respirado aliviado e já haviam quatro lobos adultos rosnando à volta deles.
— Tá de sacanagem, né.
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Deckard - Histórias de outro mundo
FantasíaDeckard é um arqueólogo realizado e apaixonado pelo seu trabalho. Ele viu sua vida ser transformada pelo seu trabalho nas Organizações Discover. Agora, prestes a encarar uma nova e importante mudança na sua vida profissional, ele vai perceber que se...