Surpresa

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A porta se abriu e Tewksbury apareceu com a testa franzida. Ele estava diferente. O rosto estava sujo de carvão, o cabelo estava bagunçado, as unhas estavam horríveis e sua face exibia uma expressão cansada.

Ele parecia muito surpreso ao me ver. Agarrou meu braço, me puxou para dentro e fechou a porta.

— O que faz aqui? É muito perigoso! Achei que iríamos nos comunicar apenas por cartas. Alguém viu você chegando?

Enquanto falava, Tewksbury olhava ao redor e fechava todas as portas, janelas e cortinas de sua nova casa.

— Se acalme, ninguém me seguiu. – Espero estar certa. – E eu queria falar com você face a face, não consegui escrever uma carta.

— Ainda acho que você está sendo muito irresponsável por estar aqui.

— Tudo bem senhor paranóico, se quiser eu vou embora.

— Você não se arriscou tanto para simplesmente ir embora um minuto após a sua chegada. Sente-se por favor. – Disse apontando para o sofá em minha frente.

— Obrigada. – Falei e me sentei ao seu lado.

— Eu estou preparando um chá. Assim que estiver pronto eu sirvo. Mas não tenho nada para comer. Ainda não chegou a época da colheita e o salário daqui é muito baixo, não é suficiente para comprar muita coisa.

— Ah, não precisa se incomodar. Não estou com fome.

— E sobre o que gostaria de conversar? Suponho que não veio para fazer amizades. Ainda me odeia?

— Eu não lhe odeio, deixe de falar bobagens! E na verdade, você parece ser legal e engraçado na medida certa. Seria bom ter você como amigo... Provavelmente meu único amigo... – Sussurrei a última parte, mas acho que ele ouviu, pois sua expressão exibia pena.

— Digo o mesmo sobre você. Bom, tirando a parte de que você não é engraçada. Deveria aproveitar mais cada momento da vida, sem ser tão séria e certinha. Deixe de ser tão perfeccionista. Mas pelo menos você é leal. Poderia já ter me “denunciado” para minha mãe, mas está aqui, se arriscando para me ajudar.

— Perdão por me fechar tanto, não consigo confiar muito nas pessoas.

— Não se preocupe, eu ainda vou conseguir fazer você mudar e se tornar tão engraçadinha quanto eu. – Nós dois rimos com sua fala. – Amigos? – Perguntou me estendendo a mão.

— Amigos. – Apertei sua mão.

Após isso, Tewksbury serviu chá para nós dois.

— Você está aqui há dez minutos e ainda não disse sobre o que veio conversar.

— Oh, é verdade. – Tomo mais um gole de chá antes de responder. – Eu não sei.

— O que?

— Eu só... Senti que tinha que vir.

Nos encaramos em silêncio por alguns segundos, até eu voltar a falar.

— Sinto muito pelo seu pai. Fiquei triste após ler sua carta. Eu também perdi meu pai, sei como é a dor.

— Sinto muito. Faz muito tempo?

— Sim... Eu era muito pequena, não lembro muito bem dele. Eu cresci vendo as crianças ao meu redor com seus pais, com suas famílias completas, e me perguntava o porquê da vida ser tão injusta. Meu pai morreu por conta de uma doença misteriosa. Segundo os médicos, foi como se o corpo do meu pai se auto-destruísse.

— Deve ter sido difícil...

— Acho que é por isso que não consigo me aproximar das pessoas. Tenho medo de me apegar e perder elas. Não quero passar por essa dor novamente.

My dear, dear Lord | HolmesburyOnde histórias criam vida. Descubra agora