O início de tudo

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Mais um dia acordando nessa sociedade ultrapassada. O único motivo do sorriso em meu rosto é a inauguração da minha agência de detetive hoje.

Desde o início da semana, venho escutando comentários do tipo: "a senhorita está aqui para substituir Sherlock Holmes?" ou "mas você é uma garota e garotas não são capazes de fazer o que Sherlock Holmes faz" e outros bem inconvenientes também. Mas apesar de tudo, acredito que existam pessoas que realmente se interessarão pelo meu trabalho e virão me procurar.

Após acordar e me arrumar, fui até o local onde está a minha agência. A inauguração é algo muito emocionante. Finalmente encaixei a chave e abri a porta. É um lugar pequeno, mas tem tudo que precisarei. Tem uma estante cheia de livros, uma mesa com uma cadeira de cada lado - uma para mim e a outra para o cliente - e a mesa é como um balcão, então embaixo tem algumas portas para que eu possa guardar algumas coisas necessárias para minhas investigações. Por fim, ao lado da estante tem uma porta que leva para outro cômodo - uma salinha com uma mesa e algumas cadeiras, e um banheiro.

Para chegar a minha agência só preciso atravessar a rua, o que é ótimo para mim porquê eu odiaria ter que atravessar a cidade todo dia só para chegar a minha agência e muitas vezes ficar sem fazer nada o dia inteiro - porquê sei que nem sempre vão aparecer casos novos.

Bom, como hoje é a inauguração, não espero que alguém apareça. Então sento em minha cadeira e pego um jornal para ler. Vai ser um longo dia.

[...]

Já se passou uma semana e poucas pessoas vieram me procurar. Duas senhoras me disseram que é inaceitável o meu "ciúme", e que eu deveria parar de perder tempo "tentando pegar o lugar do Sherlock" quando deveria estar aprendendo a costurar ou procurando um marido. Um rapaz veio pensando que era uma agência do meu irmão e quando viu que era eu, tentou me seduzir. Odeio quando pensam que sou uma garotinha inocente que não teve uma boa criação. Minha mãe me ensinou a ser forte e independente, já não é o suficiente para ser considerada uma boa criação?

Hoje é sábado, e Sherlock me convidou para ir à sua casa, então fecharei a agência pelo fim de semana - pois pretendo visitar Edith amanhã. Acordei, me arrumei e fui até Baker Street para visitá-lo.

- Baker Street 221b, é aqui. - Falei ao chegar lá e bati na porta.

Sherlock não demorou e já abriu a porta logo em seguida, como se já esperasse que eu batesse na porta naquele exato momento.

- Uau, você é bem pontual. - Disse ele.

- Olá para você também, Sherlock. Posso entrar? - Perguntei e ele me me deixou passar.

- Não nos vemos há um bom tempo, não é mesmo? Como vai a sua agência?

- Meio parada. Já você deve estar cheio de casos. Por que me chamou para vir aqui? Não está muito ocupado ultimamente?

- Na verdade, lhe chamei aqui porquê estou com muitos casos e queria saber se gostaria de pegar algum. Eu sei que lhe subestimam por ser uma mulher, mas eu acredito no seu potencial e sei que se eu lhe recomendar, vão aceitar que você pegue um dos casos.

- Por que eu deveria aceitar um caso seu? Acha que não sou capaz de conseguir casos sozinha?

- Acabei de falar que acredito em você. Mas será que a sociedade acredita? Se você conseguir resolver um caso importante, muitas pessoas passariam a te procurar. O que acha da minha proposta agora?

- Está querendo me ajudar, e se me ajudar eu lhe ajudarei. Hum, todos saem ganhando, eu acho. Ok, aceito sua proposta. Qual caso irá me passar?

- Eu ainda não sei. Achei que você recusaria a minha proposta, por isso não determinei antes com qual caso você ficaria.

Ele vai até uma mesa com gavetas, abre uma delas e tira de lá uma folha.

- Anotei meus casos aqui. Se quiser pode dar uma olhada agora e escolher um.

Ele me entregou a folha e eu vi seus casos. Eram três no total. Um em específico chamou minha atenção.

- Visconde desaparecido?

- É um caso recente. Acha que é capaz de encontrá-lo?

- Me senti desafiada. Vou ficar com esse.

- Os outros dois são mais fáceis. Até hoje você só resolveu um caso. Pegar um caso muito grande pode ser meio complicado.

- O desaparecimento da nossa mãe foi bem complicado para mim, e no final eu resolvi tudo sozinha. Não sei se realmente confia em mim.

- Ok, fique com esse. Mas se precisar de ajuda, saiba que estou sempre a disposição.

- Obrigada, mas acho que não será necessário.

- Ainda está cedo, então podemos ir até a residência do Visconde para falarmos com seus parentes. Então falarei à eles que passarei o caso para você.

- Então vamos logo. O que estamos esperando?

- Achei que você gostaria de uma xícara de chá, já que não lhe ofereci nada desde que chegou.

- Sem formalidades, isso não é necessário. Vamos, antes que escureça.

- Ok, já que a senhorita insiste.

Sherlock pegou seu casaco e chamamos uma carruagem para nos levar até a residência do Visconde.

Chegando lá, a mãe dele estava desesperada. Sherlock pediu para ela manter o controle e explicou a situação.

- Ela? Me parece muito inexperiente. - Disse a duquesa.

- Posso ser jovem e posso ser uma mulher, mas sou muito capaz de encontrar seu filho, sei que sou.

- O talento é de família, não se preocupe. - Sherlock disse.

- Mas senhor Sherlock, o senhor é o melhor detetive que conheço e esse caso deveria ser prioridade sua. Não acredito que tenha casos mais importantes que esse.

- Bom, provavelmente não são mais importantes, mas não posso deixá-los de lado para cuidar somente desse, ou encher minha irmã de casos e ficar somente com um, não seria justo. Confie nela, por favor. Se eu confio é porquê acredito que ela é capaz. Deveria dar uma chance.

- Ok, mas me prometa que se ela não conseguir logo, pegará o caso de volta.

- Prometo.

- Eu vou fazer o meu melhor para encontrar o Visconde o mais rápido possível. - Falei depois da conversa entre os dois.

- Estou confiando em você, por favor não me decepcione.

- Não irei.

Saímos de lá e o cocheiro nos levou em nossas residências.

Quando estávamos lá, colhi algumas informações úteis para me ajudar na busca pelo Visconde. Não irei mais visitar Edith amanhã, pois preciso começar a investigar o mais rápido possível.

Eu sei que sou capaz de encontrá-lo, e assim que eu o achar todos vão ver o quão capaz eu sou. Sherlock e eu podemos até fazer uma parceria, porquê não acho que vou ficar na sombra dele depois de resolver esse caso - bom, pelo menos eu espero não ficar na sombra dele.

[...]

Acordo com a luz do sol batendo em meu rosto. Levanto, me arrumo e saio da minha residência. Hora de começar a procurar pelo Visconde desaparecido!

A residência é bem protegida ninguém viu uma pessoa entrando lá, o que descarta a possibilidade de sequestro. A primeira coisa que me veio em mente é que ele pode ter fugido, mas porquê ele faria isso? Bom, sei que logo descobrirei o que realmente aconteceu.

My dear, dear Lord | HolmesburyOnde histórias criam vida. Descubra agora