O mistério continua

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Logo de manhã, deixei o hotel e fui para a estação de trem para voltar a minha cidade e começar a investigação de meu mais novo caso. Porém, uma voz me parou quando estava prestes a subir no trem.

— Enola! – Alguém gritou.

Me virei e vi Tewksbury correndo em minha direção. As pessoas que estavam passando, olhavam para mim e Tewksbury com indignação. Ai que vergonha!

— Enola, preciso da sua ajuda. – Ele disse ofegante ao parar em minha frente.

— Agora eu sou útil ou você veio atrás de mim por ser sua única opção?

— Não tenho tempo para joguinhos. – Falou e respirou fundo antes de continuar. – O mesmo homem está atrás de mim novamente. Tentei despistá-lo mas ele me achou. Preciso da sua ajuda para me esconder.

— Tudo bem, mas não sei como posso lhe ajudar.

— Podemos conversar sobre isso dentro do trem?

— Claro.

Subimos na locomotiva e entramos em uma das cabines.

— Tem alguma ideia do que fazer para se esconder desse homem? Não vou resolver o caso da noite para o dia. Te encontrar foi fácil, você não é muito bom em se camuflar. Mas achar a pessoa que quer acabar com você, é bem mais complicado. Qualquer um que não concorde com seu ponto de vista e suas ideias sobre as leis, gostaria de "lhe dar uma lição".

— Tem razão. Mas não tenho ideia do que fazer, ou onde me esconder.

— Mas vai ter que encontrar um lugar seguro para ficar. Sua vida está em jogo e você não é muito bom em despistar as pessoas.

— Mas eu cortei meu cabelo, mudei de cidade e troquei minhas vestimentas, como posso ter falhado?

— Você é mesmo um paspalhão. – Falo e viro meus olhos. – Seu rosto é muito familiar.

— Não posso trocar de rosto.

— Então se esconda melhor. Não seja um imbecil.

— Você não consegue parar de me insultar?

— Não, é divertido. – Falei e sorri.

— Não vejo a hora de me livrar de você. – Ele sussurrou mas eu pude ouvir.

— Digo o mesmo.

Tewksbury virou o rosto e ficou admirando a paisagem por alguns minutos, até que o bilheteiro chegou.

— Bilhetes por favor.

Entregamos nossos bilhetes a ele, e o mesmo nos desejou uma boa viagem antes de ir para a próxima cabine.

Eu já não aguentava mais aquele silêncio, então acabei com ele.

— Está animado com essa nova etapa da sua vida?

— Desculpe, não entendi sua pergunta. – Falou e voltou a olhar para mim.

— Sabe, você está prestes a se tornar um Lorde, está animado?

— Ah... Sim, vai ser uma experiência diferente, mas acredito que estou pronto para isso.

— Não se acha jovem ou imaturo demais para isso?

— Meu pai me treinou para que eu estivesse pronto quando esse dia chegasse, e agora chegou. Em menos de dois meses me tornarei Lorde, é algo assustador e excitante ao mesmo tempo.

— Sabe... Quando eu descobri que você tinha fugido, eu... Pensei que não estava pronto para essa responsabilidade. Achei que você pensava o mesmo.

— Por que eu desistiria de ser Lorde? Meu tio assumiria em meu lugar se eu simplesmente não quisesse assumir esse cargo. Mas ele me contou que não se acha bom o suficiente para isso. Ele acredita já estar velho para essa responsabilidade. Meu tio sempre disse que o futuro depende dos jovens, e que acredita em mim. Sabe, se eu fizer o que é certo, tenho a chance de convencer a próxima geração a fazer o mesmo.

É... Talvez ele não seja tão tonto. Mas ainda me sinto desrespeitada por ele, então não vou baixar a guarda. Não confio 100% nele.

— Acho que seu tio tem razão.

— Sobre?

— Sobre nós (jovens) sermos importantes para a conscientização da próxima geração.

— Então acha que sou capaz de assumir esse cargo com responsabilidade? Acredita que serei um bom Lorde?

— Acho que ainda precisa amadurecer muito, mas acredito que esteja no caminho certo.

— Vou levar como um elogio.

Dei um leve risada e vi um sorriso se formar em seu rosto.

— Mas voltando ao assunto em que estávamos antes, você precisa de um lugar seguro para morar. Acho que seria bom se morasse em um lugar mais afastado, um vilarejo talvez. E é melhor usar um chapéu ou boina sempre, para cobrir um pouco seu rosto. Continue usando roupas simples. E você precisará de um novo nome.

— E qual nome você sugere?

— Você tem cara de... Deixe-me ver... Coperfield, James Coperfield.

— Hum, tudo bem. Essa será minha nova identidade.

— Bom, assim que o trem parar na próxima estação, você irá até um vilarejo que fica ao leste do bosque. Chegando lá, diga que é um viajante que se perdeu e encontre um lugar para morar. Se precisarmos nos comunicar, vamos escrever cartas. Entendido?

— Completamente, senhorita.

— Ótimo.

O silêncio reinou entre nós durante o resto da viagem.

Quando finalmente chegamos na estação, Tewksbury desceu e se despediu de mim com um beijo em uma de minhas mãos. Senti algo estranho dentro de mim com seu toque, porém ignorei pois achei que não era algo importante. Talvez isso tenha acontecido porquê o único toque masculino que já recebi, foi um aperto de mão de Sherlock. Então, como não estou acostumada a ficar tão próxima de um homem, talvez esteja apreensiva. Mas tudo bem, não sei porquê estou dando tanto valor a isso.

Logo depois de se despedir, Tewksbury desapareceu do meu campo de visão por conta de todas as pessoas que estavam na estação.

Eu segui para casa. Chegando lá, reuni minhas pistas em um papel. Anotei tudo de interessante que ouvi de Tewksbury. Não era muita coisa e não me ajudaria muito. Então decidi ir na residência oficial do mesmo.

Quando encontro a mãe do jovem Visconde, faço algumas perguntas como: Seu filho parecia assustado nos últimos dias em que esteve aqui antes de desaparecer? Vossa Graça notou alguma pessoa suspeita rodeando sua residência? Sabe se alguém aqui de dentro agia de forma suspeita quando o Visconde ainda estava aqui?

Depois do mini interrogatório, pedi para coletar algumas pistas. A Duquesa hesitou um pouco mas me deixou prosseguir com minha investigação. Acredito que ela ainda não confia na minha capacidade. Eu queria muito contar para ela que já encontrei seu filho, mas Tewksbury prefere que eu mantenha isso em segredo.

Um dos locais que visitei, foi o quarto de Tewksbury. Encontrei um pequeno caderno que mais parecia um diário. Abri o mesmo e vi algumas anotações sobre flores. Nada muito importante, mas notei que quando o assunto é plantas o futuro Lorde é um expert. Investiguei cada canto do cômodo, e em um dos lados encontrei algumas pegadas de calçados. Marcas de terra que acabavam pouco antes da porta. Exatamente onde as pegadas terminavam, encontrei um fio de cabelo castanho escuro, grande e liso. Notei que a ponta do fio era branca, indicando que é de alguém que está envelhecendo e ficando com o cabelo grisalho. A terra não estava muito marcada no chão e estava um pouco úmida, o que indica que alguém esteve aqui recentemente.

Quando estava quase saindo, achei um charuto encima de uma escrivaninha perto da janela. Me aproximei e vi que a janela estava um pouco aberta e dava para uma árvore, onde tinha os restos de uma casa da árvore. Era como se alguém tivesse subido na árvore e entrado no quarto pela janela. Olhei para o chão e encontrei mais pegadas.

Alguém esteve aqui à procura de Tewksbury depois que ele fugiu. E o pior é que a pessoa é muito rápida em seguir pistas, pois já o encontrou em seu antigo esconderijo.

My dear, dear Lord | HolmesburyOnde histórias criam vida. Descubra agora