Pas de Deux

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Sim, estou sem controle quando se trata dessa história.

Espero que gostem!

Att de hoje para Lu! Obrigada pelo carinho e pelos surtos no tt!

Boa leitura!

3 – Pas de Deux

Neil não era masoquista.

Ele nunca gostou de sentir dor, ainda que houvesse sido obrigado a enfrentar todos seus limites para suportá-la.

Quando humano, sempre era feito de cobaia com as coisas insanas que passavam na cabeça de seu pai, então a dor costumava caminhar lado a lado com ele.

Quando morreu, pensou que isso talvez houvesse chegado ao fim.

A imortalidade fazia com que dores humanas fossem ridículas. Neil gostava muito dessa parte de resistência, força e certo sentimento de ser intocável.

Ainda tinha as cicatrizes de sua vida antiga, mas era só isso: cicatrizes e a lembrança dos nomes de quem as causaram. Nada mais doía.

Ainda assim, mesmo com a vida que teve, o simples fato de respirar longe de Andrew continuava sendo o ápice da tortura. Neil sentia os ossos doerem apenas de pensar em tornar a passar por aquilo, e era... era ridículo.

É claro que ele seria o escolhido para uma merda dessas. Ser imortal poderia ser bom para qualquer um que não fosse Neil. Afinal, tudo o que o envolvia obrigatoriamente parecia uma maldição e um terrível golpe de azar.

– Mais um pouco – Pediu a Renne, porque estavam exercitando a capacidade de Neil suportar a dor.

Era difícil.

Ele ainda não queria pensar que a parte decididamente mais desafiadora não seria se manter longe, e sim perto.

Como iria estar vivendo normalmente ao lado de Andrew na próxima semana, sem ter aquele desejo maníaco de matá-lo? De voar na garganta dele, e...

Desviou os pensamentos quando Renee soltou mais um pouco, e a dor voltou a lhe tirar o juízo. Era mais fácil se concentrar em empurrar a dor, do que pensar no cheiro de Andrew intoxicando seu corpo.

Matt continuava preocupado, a mente procurando qualquer sinal de perigo no presente, e Allison estava ocupada pensando se seria insensível não desmarcar a viagem de compras para ficar comigo. Ela tinha essa dificuldade de se sentir útil por não ter um dom, como os outros, e estava sempre diminuindo o próprio valor no grupo, usando sua beleza e personalidade para encobrir isso.

Dan passou pela porta, trazendo uma sacola e parou a certa distância de Neil, ainda se lembrando perfeitamente de como fora compartilhar a dor com ele.

– Eu... te trouxe algo. Para.. ajudar – Disse cuidadosa, e ele mal percebeu suas ações. Quando notou, já havia avançado contra ela e arrancado a sacola de suas mãos, sentindo o corpo inteiro tremendo.

– Neil? Cara? – Matt questionou sem entender enquanto Dan se afastava alguns passos e ele destruía a sacola com as mãos em desespero, até puxar aquele moletom de dentro e o trazer para o rosto.

Era suave, mas ainda estava lá. O cheiro, aquele... Aquele cheiro. Andrew, nas mãos de Neil. Sua cabeça se drogou com aquilo, e ele se deixou cair no chão, segurando com firmeza enquanto inspirava profundamente como se pudesse absorver até a última partícula de odor ali.

– Peguei o rastro dele na escola, e descobri onde ele mora. Pensei em... trazer algo. Para Neil. Hã... cuidado paliativo, eu acho? – Dan disse receosa, e havia um pedido de desculpas em sua mente. Ela havia fugido com horror de partilhar aquela dor, mas não mudava o fato que se importava.

Canção da Morte || ANDREIL Onde histórias criam vida. Descubra agora