• Entre Damas e Vagabundos •

• Valentines! •

- Capítulo 20 -

     Se as segundas-feiras já eram dias infernais por serem responsáveis por dar início à mais uma semana, em seu ponto de vista, as que marcavam o começo da semana dos namorados eram ainda piores desde quando chegou naquele colégio.

     Na antiga escola em que estava, embora exageradamente estrita, retrógrada, sexista e muitas outras características que eram majoritariamente negativas para ele; era menos difícil de lidar com situações como a sua atual, já que somente os mais ousados e capazes de fugir dos demônios doutrinadores – provavelmente na base da sorte concentrada ou magia negra – conseguiam conhecer alunos que eram de castas diferentes.

     Por mais contente que estivesse em ter se libertado de lá e aceitado as consultas com a psicóloga da Ragnarok para o bem de sua autoimagem, isso não significava que facilmente deixaria de lado sua personalidade introvertida para de um dia para outro se tornar em um namoradeiro como Zeus e muitos outros jovens de sua idade eram. Beelzebub ainda não conseguia lidar tão bem com situações sociais específicas, o tanto de saliva que gasta diariamente é limitado e dar fora em tantas pessoas onde muitos não levariam bem a rejeição para gerar inúmeras discussões em uma única semana era desgastante; o clube de jornalismo ressaltando a vida amorosa de fulano ou ciclano que tivessem um nome minimamente conhecido não ajudava. Por culpa da "Lista do Cupido" tinha que chegar quase uma hora adiantado para deixar recados que seriam ignorados em sua mesa e armário avisando que não estava interessado em relacionamentos só para ainda vir gente tentando convencê-lo a dar uma chance.

     Andava em direção à sala dos professores mudo e absorto, pois Hades começou o dia com vontade de fazê-lo de escravo. Durante o trajeto, dominado por contraditório bom pressentimento, concluiu pela milésima vez que não devia ser tão difícil de aceitar um "não" e torcia para que nesse ano viessem mais pessoas que compartilhassem da mesma ideia. Não que ele confie plenamente em sua intuição, mas para quem acordou de mau-humor a mínima esperança de algo dar certo serve de consolo.

     – Não sei como tiveram coragem de levar um grupo tão grande de adolescentes para sua casa, eu já não tenho idade e nem paciência para aguentar esses moleques em sala de aula! – A voz severa que nessa situação faria muitos alunos virarem 180° para voltar mais tarde foi reconhecida como pertencente à Odin.

     A única coisa que veio à mente de Beelzebub foi um lamento por Loki já estar na escola.

     – Poxa tio, e quando foi que você teve? Desde quando ainda estudávamos aqui você já não gostava de nós; sabia que nossa sala pensava que você ficaria mais calmo com a idade? – O de tom brincalhão foi identificado como Adão.

     – Por mais que não pareça, se comportaram bem. Seguiram nossos comandos, cuidaram de nossas crianças e até limparam nossa casa! – Eva elogiou.

     – Ora, que bons meninos! – Exclamou Einstein animadamente.

     – Claro que houveram alguns acidentes, mas isso é natural quando alguém não sabe mexer na cozinha. O bom é que puderam se ajudar a aprender, trabalho em equipe é algo que está em falta nesses dias.

     Plantado, o segundanista desconfortável decidiu dar três toques na porta já aberta para avisar que estava ali. Sentia como se estivesse invadindo a privacidade de seus professores ao ouvir conversas tão pessoais. Sua realidade delimitava que a interação professor-aluno não passasse de ensinar e fazer perguntas.

     Alguns deram "bom dia" e indicaram onde deveria colocar as pastas, logo o mais novo saiu sem se importar em se despedir.

     Ao passo que avançava em direção à sua sala percebeu que houve um notório aumento de circulação, mostrando a aproximação dos horários comuns de início de aula. Seu plano de guardar caixão podia ter sido falho, porém, estava agradecido pela redução da quantidade de pessoas o parando no caminho e, maravilhosamente, sua mesa não estava lotada. Tudo indicava que ter aulas nesse dia não seria problema, e esperava o mesmo dos próximos.