"Vamos, Crianças! 1, 2, 3 e..."
A Sra. Parsons afundou os dedos no piano e todas as crianças começaram a cantar de uma vez. Ela tocava suavemente cada nota, e se Tim fechasse os olhos, talvez conseguisse ignorar a voz desafinada das crianças ao seu lado e só ouvir o som do instrumento, mas como ele não sabia a letra, tinha de prestar atenção no papel.
Um passarinho havia pousado ao lado de fora da janela, parecia que estava assistindo-os tocar, mas não ficou por muito tempo e logo levantou vôo, batendo as asas contra a brisa fraca de final de tarde. E para ser sincero, Tim não o culpava por isso.
Como qualquer outro fim de semana, aquele domingo havia passado devagar, talvez até mais devagar do que estava acostumado.
Depois do almoço, a Sra. Parsons convocou todas as crianças para ajudarem na limpeza do orfanato, ela lhes deu rodos, panos, vassouras, espanadores e cada um foi para um canto da casa fazer o serviço, e embora aquilo tenha sido uma surpresa para ele, dava para ver claramente que era algo natural para elas.
Uma vez por mês elas faziam uma limpeza geral na casa, e como só tinham a Sra. Parsons como cuidadora e a casa era muito grande para uma senhora cuidar sozinha, as crianças também tinham de ajudar em alguns afazeres.
As mais novas ficavam com tarefas simples como passar um pano nos móveis, enquanto os mais velhos varriam o chão, passavam rodo e cuidavam também da limpeza das janelas. Essa última acabou sendo a tarefa de Tim.
Ele não fazia ideia do tanto de janelas que havia naquela casa, e depois de um tempo, nem pensava mais no que estava fazendo, seus movimentos de passar o pano para cima e para baixo e em círculos haviam se tornado quase que involuntários.
Sua mente não estava mais pensando na tarefa, ela estava lá fora. Olhava o sol brilhando sobre a grama do jardim imaginando como tudo ali poderia ser tão colorido e vibrante. Algo horrível tinha acabado de acontecer com ele, o mundo não devia ser capaz de seguir em frente assim tão rápido.
Olhava as casas vizinhas pela janela do segundo andar imaginando que tipo de famílias viviam ali e o que estariam fazendo naquela hora; e olhava o portão da frente lembrando de quando chegou lá no dia anterior, imaginando quando seria o dia em que sairia de lá.
Tim havia passado na sala de música mais cedo naquele dia enquanto limpava as janelas, nunca havia passado pela sua cabeça que naquele lugar haveria algo como uma sala de música. Havia pequenos violinos apoiados na parede no chão da sala, uma cômoda branca onde na primeira gaveta haviam flautas guardadas, e no canto da parede, um grande piano preto repousava.
Foi o lugar que ele demorou mais tempo para limpar. Sempre que parecia estar tudo limpo, ele cismava com alguma sujeirinha difícil de limpar só para não ter que ir para outro cômodo. Ele ocasionalmente sentava no banco em frente ao piano, abria a capa do teclado e fingia tocar alguma música de sua cabeça, tomando cuidado para não tocar nas teclas e fazer nenhum barulho.
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A Menina no Jardim
FantasyTimothy Griffin nunca sentiu que a sorte estivesse a seu favor. Aos oito anos, seus pais morreram em um incêndio e ele passou a viver com seu tio-avô John, um médico aposentado que não tinha jeito com crianças. Mas logo quando conseguiu se afeiçoar...