XI.

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Tim nunca acreditou em fantasmas.

   Mesmo quando era menor, a ideia de que algum ser coberto em um lençol branco sairia debaixo da sua cama para pegar seu pé à noite nunca passou pela sua cabeça, algo que era um pensamento comum entre muitas crianças daquela idade.

   Mas não era por menos, seus pais não o deixavam ter contato com qualquer história de terror, talvez seja por isso que, sempre quando tentava se lembrar de alguma coisa daquela época, só conseguia se lembrar do quanto era ingênuo, não era muito capaz de detectar quando o perigo estava próximo.

   Só descobriu o que eram histórias de terror quando se mudou para a casa de seu tio John. Ele o apresentou aos livros de Poe, Stoker, Mary Shelley, e, apesar de sempre sentir um frio na barriga ao ouvir as narrações do tio, não conseguia tratá-las como algo real.

   Pensava sempre no que o tio dizia ao final de toda leitura: que eram histórias fictícias, criadas somente para assustar as pessoas.

   Isso até…

   Bom, até agora.

   “Eu sinto… sinto muito” Ele havia ficado tempo demais sem dizer nada. Somente olhava para ela, sua expressão carregada, tentando processar tanta informação.

   Seu nome completo estava cravado na cruz de madeira:

   Elizabeth Parsons.

   Olhando para seu rosto agora, não era difícil de acreditar que elas seriam mãe e filha.

   “Isso já foi há muito tempo, Tim” Eliza voltou a sorrir, se levantando do chão.  “Mas sabe, acho que gosto bem mais da minha vida agora que estou morta, se é que isso faz algum sentido. Eu não passava um ano sem ficar doente quando era viva, mas estando morta eu não nunca mais fiquei doente. Mortos não ficam doente.”

   Era impressionante o tanto de vezes que ela conseguia falar a palavra morte assim tão casualmente, devia estar tão acostumada com esse conceito que talvez nem soasse mais estranho para ela. Mas ainda assim, mesmo sabendo de tudo e tendo consciência de que o fato de ela ser um espírito era inegável, era só olhar para ela que tudo de repente parava de fazer sentido.

   Seu vestido que balançava suavemente com a brisa, o cabelo brilhando ao luar, sua voz calma que parecia cantar em seus ouvidos, os pés que tocavam a grama.

   Ela parecia tão viva.

   “Eu sempre amei esse lugar,” ela divagou, olhando para até onde a lua conseguia tocar as copas das árvores. “Esse bosque, as flores, o labirinto que pedi para meus pais fazerem para mim, é meu lugar favorito no mundo todo, acho que foi por isso que minha mãe escolheu me enterrar aqui em vez de em um cemitério. Não me importo de ficar em um mesmo lugar para sempre se este lugar for aqui.”

   “Sua mãe sabe? Quer dizer, ela colocou esse buquê para você, imagino que ela saiba que você…”

   “Não, e é melhor que ela pense que eu já fui embora.” Eliza puxou o ar, se sentando na grama. “Eu tentei, mas não há como as coisas voltarem a ser como eram, não quero dar essa esperança para ela.”

   Ela disse essa última parte baixinho, seu rosto fitando o chão. Tim se sentou ao seu lado, abraçando as pernas para se aquecer da noite que começava a esfriar. Sabia que havia mais nessa história que ela não queria contar, mas parecia um assunto complicado demais para poder questioná-la.

   Se Eliza estivesse viva, ela teria 46 anos, de acordo com a conta que acabara de fazer. Era estranho imaginá-la como adulta, pois mesmo ela tendo nascido décadas atrás, seu corpo e seu jeito era de alguém da sua idade.

A Menina no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora