Apenas reviro os olhos, tento me desviar sem trocar nenhuma palavra, porém Megan se mete na minha frente e começa seu falatório, com o mesmo olhar de pena dela e das outras duas. Isso me enraivece num nível que não dá para explicar. Tento uma fuga silenciosa, mas Megan se coloca na minha frente para onde quer que eu vá.
— Calma aí, por que a pressa Freeman? — Diz Megan em um tom sínico
—O que você quer Megan?
Ela ajeita uma mecha de cabelos loiros atrás da orelha direita, ajeita o livro entre os braços e força uma voz meiga que me da nojo.
—Vim desejar as condolências. — Ela força uma cara de dó.
O mais incrível na entonação da Megan é que, mesmo que ela tente parecer uma pessoa boa e mudada, sua prepotência é tão gigante que algo entranhado no ser dela não permite qualquer ato de bondade.
—É Lia, também viemos desejar as condolências. —Diana completa o cinismo de Megan.
—Inclusive, ia até dizer que você tá linda hoje. Quer dizer, não mais que eu, mas nada que um banho de shopping em você não resolva. — Diz Chris, balançando seus cabelos curtos e bem lisos.
— Acabaram? por que eu não tenho tempo a perder com falso vitimismo. — Bato meu armário com foça.
—Olha Lia, só estamos tentando ser empáticas com a sua dor querida. — Intervém Megan.
Algo dentro de mim ferve como fogo, é inacreditável como Megan conseguia ser cínica e falsa nesse nível.
— Ain serio Megan? Para de teatro, sai da porra do meu caminho
—Deixa ela Meg. ela não passa de uma sem teto estupida. — Diz Chris retocando o brilho labial.
Meu sangue ferve de raiva, e sinto algo borbulhar dentro de mim. Todos esses anos eu aguentava as provocações de Megan calada, sem nem ao mesmo entender o real motivo de tanta implicância com a minha existência. Usar a morte dos meus pais como tentativa de me ferir havia despertado um lado meu ao qual eu não fazia ideia que existia.
Sorrio sarcasticamente, contenho a respiração acelerada e me aproximo de forma intimidadora de Diana, enquanto digo cara a cara.
—Fala mais uma vez dos meus pais pra ver se eu não meto um tapa nessa sua cara.
—Uuu ela se ofende. Vai chorar pros seus pais Freeman? — Megan abre um sorriso vitorioso. — Awn verdade, eles estão mortos. — A garota se vira para Chris e Diana e juntas soltam risadinhas estridentes.
Não penso duas vezes antes de agarrar a loira pelo cabelo e a encher de tapas, a mesma grita de dor e se debate enquanto Chris e Diana tentam apartar a situação. Empurro o restante das meninas enquanto seguro Megan pela palha que ela chama de cabelo, as mesmas colidem com o armário fazendo um barulhão.
— Fala de novo dos meus pais, cadela! FALA! — Berro batendo a cabeça de Megan no chão, a mesma segura minhas mãos para tentar amenizar o impacto.
—Tirem essa nojenta de cima de mim. — Ela berra.
— Pelo menos eu tinha pais descentes. E você, hein? Não passa de uma mimada que vive em um mundinho de aparência. Nem suas amigas te suportam Megan. — Grito em protesto.
Todas as minhas palavras saem como balas disparadas uma após a outra. Dentro de mim vários sentimentos se espalham e, na verdade, nem sei direito o que falei, entretanto, pela cara de Chris e Diana talvez eu tenha dito uma besteira imensa que vai contra a minha índole, mas já é tarde demais, Megan era suja .
Numa resposta raivosa a tudo o que eu proferi, a garota também age de acordo: recupera o domínio de seu cabelo e me empurra com força em direção à porta do meu armário, seguido de um estrondo barulhento e metálico que ecoa pelo corredor quando minha cabeça se choca com o alumínio, aquilo provavelmente formaria um galo.
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The storm
RomanceLia é uma garota de 17 anos que acaba de perder os pais em um terrível acidente de carro. Ela e seu irmão mais novo Petter passam a morar na mesma casa com a tia, que após o ocorrido se muda as pressas para Ohio. O último ano letivo se inicia e Lia...