Depois que Urd foi embora, Gaye permaneceu em silêncio até a hora do chá, que foi quando as mulheres se juntaram em uma saleta para conversar. Haviam alguns rostos novos, mas a que notou primeiro foi Madd, uma jovem reservada e tímida que viera do campo e fora escolhida por seu primo como esposa. Madd estava muito bonita da primeira vez em que a viu, mas estava ainda mais bela usando veludo azul-escuro e joias de prata, que cintilavam em contraste com sua pele como pérolas no fundo de um lago. Gawain comentou que Urd e Madd eram amigas muito próximas desde a infância, e a princesa não conseguia conter a curiosidade de até que ponto eram próximas.
Gaye era a segunda na linha de sucessão, mas por Gawain ser bastardo talvez seu pai não lhe entregasse o trono, mas sim desse um marido à filha para ser o regente, o que significa alguém de fora como governante de Rosefall. A rainha não tinha voz alguma, sendo uma presença marginal ao lado do rei em eventos e condecorações, mas a Rainha Valerie – sua mãe – era um exemplo a ser seguido. Agora mesmo ela usava as peças do tabuleiro de xadrez para explicar para as outras mulheres da corte sobre os impactos de um confronto direto para os reinos envolvidos, a paralisação da economia e a fome, as mortes que todos sofreriam.
Sem a atenção voltada para si, Gaye pôde se levantar, fazendo sinal para Madd – que parecia presa em qualquer lugar menos ali – a seguir. A garota se levantou discretamente e seguiu a princesa até lá fora, parando apenas para fechar a porta atrás de si. Estavam na varanda e o ar da tarde ressecava seus lábios e bagunçava seus cabelos bem penteados.
— O que posso fazer pela senhora Vossa Alteza? — Madd olhava para o chão, estaria com toda certeza corada se fosse um dos imigrantes de Mastfall.
— Me chame apenas de Gaye, seremos família em breve — sorriu para ela, que se remexeu inquieta.
— Não me sinto confortável senhora.
— Pare com isso, também não se sentia confortável beijando sua mestra?
Madd ergueu os olhos alarmada, como se estivesse – inesperada e literalmente – com uma faca em sua garganta.
— Do que está falando Alteza? — Ela riu, o canto do lábio tremia enquanto amassava uma prega da saia entre os dedos.
— Urd e meu irmão são bons amigos Madd querida — Gaye se aproximou, seu tom passivo agressivo assombrou Madd quando colocou uma mecha do cabelo da garota para trás.
— O que quer que ela tenha dito é mentira, nunca fomos nada mais do que mestra e empregada, no máximo amigas, mas não tão próximas como afirma.
— Então nunca se apaixonou por Urd? — Gaye baixou a voz, segurando Madd pela cintura, conduzindo-a a um canto da varanda onde não podiam ser vistas lá de baixo ou reproduziriam sombras suspeitas no vidro da porta. — Sente-se encantada por meu primo de verdade? Feliz por ele tê-la escolhido?
— Claro Alteza, nunca imaginei que alguém como ele me veria em meio a multidão daquela noite.
— Allard não é tão nobre quanto pensa, mas não quero lhe alarmar, minta para si mesma por enquanto, sei como as coisas funcionam por aqui, é mais fácil que minta para si mesma. — Suspirou. — Eu dizia coisas assim quando me tornei noiva de Brishen, que Ugry o tenha.
— Oh eu sinto muito — Madd sussurrou e Gaye deu um passo para trás.
— Eu também, mas somente durante os dois primeiros dias, depois comecei a acreditar que me livrei porque acho que Gawain deve ficar com o trono, como irmão mais velho é direito dele.
— E por que não fica?
— Porque a mãe dele era uma dançarina e, apesar de virgem e ter sido agredida por meu pai, nunca foi reconhecida.
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De Trevas e Sangue [CONCLUÍDO]
Fantasía[POLÍTICA] [DRAMA] [BAIXA FANTASIA] [LGBTQIA+] [+18] Quando a perna de seu pai explodiu há seis anos, Urd Lewis foi obrigada a tomar as rédeas da família para que pudessem continuar vivendo. Em um mundo imperado pelo machismo e a opressão, a gar...